"Deutschland" está repleto de História e interpretações.

Germania Magna, 16 AD. O cenário e a data levam-nos directamente à Batalha de Idistaviso que pôs término a anos seguidos de campanha militar romana contra as tribos germânicas lideradas por Arminius. Ainda que a Batalha da Floresta de Teutoburgo, em 9 AD, seja mais famosa devido à derrota romana e à especificação fronteiriça delineada com o rio Reno, a de Idistaviso definiu uma vitória imperial e um certo desinteresse pela região mais longínqua do centro do Roma, como o imperador Tiberius escreveu ao filho e general Germanicus: «Uma vez que a vingança de Roma está satisfeita, [os germânicos] podem ser deixados com as suas disputas internas.»

Hindenburg. A 6 de Maio de 1937, o veículo aéreo LZ 129 Hindenburg incendeia-se durante o processo de atracagem nos EUA. Das 97 pessoas a bordo, 36 morreram. No vídeo vê-se a banda a desfilar enquanto Hindenburg arde em background.

Classes. Ao longo de todo o vídeo vemos a banda pavonear-se a pé ou em descapotáveis clássicos numa alusão às elites. O momento mais claro desta interpretação acontece quando homens de classe alta e medalhados militares discutem o rumo de algo (a sociedade) com o símbolo da RDA (martelo e compasso) bem visível. Karl Marx surge também num enorme busto enquanto um tanque de guerra avança.

Religião. Um grupo de frades alimenta-se num grande banquete metafórico, uma vez que estão realmente a alimentar-se de Germania, com todo o medo e a ignorância do povo inerentes. O destaque principal desta cena reflecte-se nos corpos enclausurados que se movimentam debaixo da mesa num ambiente avermelhado: o inferno. Mais à frente, o tema religião repete-se com uma personificação do presépio em que a Nossa Senhora dá à luz um cão e o parteiro é um cardeal, como se todo o universo católico que conhecemos tivesse sido fabricado pelo Vaticano e pelo Sacro Império Romano-Germânico.

Assalto / reféns. Os Rammstein não esqueceram um dos períodos mais excitantes e controversos do pós-guerra: falamos do Rote Armee Fraktion, também conhecido por Grupo Baader-Meinhof. Especialmente durante a década de 1970, este grupo de extrema-esquerda executou uma série de operações que visavam o capitalismo e a extrema-direita. Assaltos, bombas, sequestros e assassinatos eram a imagem-de-marca do gangue liderado por Baader e Meinhof. As caras principais acabariam por ser detidas, terminando em suicídio colectivo na cadeia, algo que ainda hoje é discutível – há quem defenda que foram assassinados pelas autoridades. Ícones ou vilões, o Rote Armee Fraktion é uma parte muito importante da História recente alemã. No vídeo, o vocalista Till Lindemann interpreta Ulrike Meinhof.

Nazismo / Holocausto. Este é o segmento mais chocante de todo o clip, mas também o mais entusiasmante. Enquanto Kruspe (guitarra) e Schneider (bateria) vestem o uniforme nazi, os restantes membros estão no cadafalso com um letreiro onde se lê ‘proibido fotografar’. De facto, a dizimação humana fez-se ao longo de vários anos de forma secreta (por exemplo, durante os Jogos Olímpicos de 1936, o regime nazi retirou das ruas toda e qualquer propaganda anti-semita). Nesta cena, um judeu engraxa os sapatos ao nazi, e aqui podemos ter duas interpretações: medo e subjugação ou coadunação se recordarmos a filósofa Hannah Arendt que, de origem judaica, culpou as elites do seu povo de compactuar, a certa altura, com a ideologia de Hitler. Posteriormente, nazis e entidades religiosas confraternizam durante uma queimada de livros – Inquisição e nazismo num só momento. O esforço de guerra é protagonizado pelos foguetes V2.

Personagem negra. Sabe-se que o berço da humanidade é África, e é por isso que o cinema tantas vezes usa alguém de origem africana para exemplificar o início da vida, como no filme “Children Of Men”. Porém, e por mais que essa interpretação possa estar próxima da verdade, não deixamos de concluir que a personagem de pele negra pode muito bem ser uma provocação aos supremacistas brancos. A personagem é Germania e representa a nação.

Letra. Os simples versos de “Deutschland” são uma representação daquilo que os próprios Rammstein sentem pela Alemanha, numa música em que se fala de eu, tu, nós, vós, mas também de superioridade egocêntrica e arrogância.