Ho Chi Minh: «Enquanto nos for possível, iremos andar por aí a espalhar o nosso carvão!»
Entrevistas 24 de Janeiro, 2021 Diogo Ferreira
Já podendo ser considerados veteranos, os portugueses Ho Chi Minh celebram em 2021 os seus 20 anos de carreira. E que carreira é essa? Bem, se por um lado há quem os possa considerar pioneiros do alternative/industrial metal do início do Séc. XXI em Portugal, por outro há quem talvez não se lembre deles, já que conteúdo discográfico não é o mais existente, tendo lançado dois EPs (2017 e 2018) após o primeiro álbum de 2009.
Agora, com “This Is Hell”, os alentejanos mostram a fibra de que são feitos, com um disco poderoso e contemporâneo que cruza industrial, nu-metal, metalcore e death metal.
«Como bons alentejanos que somos, lançámos um álbum de 10 em 10 anos…»
Quando actuaram no Laurus Nobilis Music de 2019 falaram de um novo álbum que estava prestes a sair. No entanto, “This Is Hell” só sai no início de 2021. O que vos fez demorar tanto tempo, para além da pandemia de que ninguém se livrou?
Na verdade, a pandemia foi o motivo pelo qual o álbum não saiu em 2020. Tínhamos tudo planeado para o lançar no primeiro semestre de 2020, mas, com o início da pandemia em Portugal, achámos melhor esperar pelo final do ano para podermos lançá-lo nas condições que tínhamos inicialmente planeado, com concertos. Entretanto, no final do ano, também não foi possível e resolvemos aguardar pelo início de 2021, mas infelizmente também não será possível. Acabámos por ceder e iremos lançar o álbum num concerto único em Beja e online. Ficará também disponível para envio. Achámos que não tem sentido ter o álbum guardado mais de um ano.
Do nu-metal ao industrial, passando pelo groove e algumas noções de death metal, “This Is Hell” pode ser considerado um álbum bastante diverso mas que nunca trai as bases daquilo a que se propõe. Por outras palavras, sabemos que vamos ser espancados por berros, riffs fortes e torrentes electrónicas do princípio ao fim, mas não se torna cansativo. Quão satisfeitos estão com o álbum e que impacto gostavam que tivesse?
Estamos muito satisfeitos com resultado final. A ideia era compor músicas mais agressivas e pesadas do que o que habitualmente fazemos. Sentimos uma vontade de explorar ambientes mais negros e densos, e dar mais ênfase ao instrumental, sem perder as programações que nos caracterizam. Relativamente às vozes, também optámos por explorar outra nuances. O objectivo foi seguir caminhos diferentes, seguindo o mesmo rumo!
Gostaríamos que tivesse o maior impacto possível! É um álbum que tem uma produção mais complexa, e um trabalho de composição diferente do que fazíamos até agora. Estamos muito curiosos para saber qual será a reacção do público.
Desta vez apostam num lançamento independente. O que vos conduziu a essa decisão?
Na verdade estivemos em conversações com algumas editoras (estrangeiras e portuguesas), mas, talvez pela situação actual, acabámos por não fazer acordo com nenhuma. Este álbum só foi possível pela contribuição do crowdfunding que realizámos, e investimos muito para o realizar. Na verdade, sentimos que quem quisesse fazer parte dele teria de conseguir contribuir na sua realização da mesma forma que nós, e por uma razão ou outra não sentimos isso. Resolvemos assumir este álbum como se fosse o nosso primeiro lançamento.
Depois do álbum “It Has Begun” (2009), lançaram dois EPs (2017 e 2018). Falando-se de bandas mais pequenas e que não são profissionais da música, será que ainda há uma real diferença entre EP vs LP e físico vs digital? Na vossa experiência, ainda vale a pena fazer essa diferenciação?
Penso que, nos dias de hoje, fará pouco sentido bandas da nossa dimensão lançarem álbuns. Os custos são maiores para o realizar, a nova dinâmica dos ouvintes está mais nos singles, mas fazemos agora 20 anos de existência e achámos que faria sentido celebrar-se esta data com um álbum! Na verdade, como bons alentejanos que somos, lançámos um álbum de 10 em 10 anos…
Quanto à parte física, achamos que faz todo o sentido. Neste caso, como realizámos o crowdfunding, tinha mesmo de ser feito, mas é algo que fica de recordação e que é real, num mundo cada vez mais digital – é muito bom ter algo que possamos agarrar, tocar e sentir!
Agora fala-se muito em alternative e modern metal, mas, se olharmos para trás, aquilo que os Ho Chi Minh começaram a fazer há 20 anos já podia ser rotulado dessa maneira, talvez mais crus e inocentes do que as bandas de hoje (as tecnologias também evoluíram), mas ainda assim é uma observação credível. O que recordam desses primeiros tempos de descoberta e criação na viragem do milénio?
Sempre existiu uma necessidade de rotular as coisas – ajuda a explicar a quem não ouviu, ajuda-nos enquanto ouvintes a encaixar e organizar.
A maior parte das bandas, quando começam, organizam logo as ideias em função de um estilo, bandas, tendências… Nós, quando começámos, não. Éramos amigos, gostávamos de tocar e nunca seguimos nada específico, tínhamos, na verdade, diferentes bandas preferidas e de estilos distintos. Foi essa diversidade que fez com que a nossa sonoridade se tornasse alternativa dentro do metal! Uns ouviam hardcore, outros metal, outros nu-metal, que explodiu em 99/2000.
Mas aquilo que nos diferenciou muito no início foi a programação! Desde muito cedo, e recordo que em 1999 (quando comprei a minha MC 307) ainda não havia Internet como hoje, sempre senti que com uma groove box poderíamos explorar o infinito – não foi bem assim, mas resultou!
No que ao metal diz respeito, Portugal sempre foi um país mais de death, thrash e ultimamente black. Nunca houve um robusto movimento de nu/industrial/alternative metal por cá. E talvez apontemos os extintos Anger (de Aveiro) e Ho Chi Minh como nomes mais reconhecíveis nesses territórios. Interessa-vos serem considerados pioneiros de algo ou até fazerem parte de um movimento mais de nicho para além da própria comunidade metal?
A nós, enquanto banda, interessa-nos tocar. É o que continuamos a gostar de fazer. Na verdade, não pensamos muito se fomos pioneiros ou se fazemos parte de um nicho. Adoramos música, adoramos fazer a nossa música e nunca seguimos, enquanto pessoas, modas ou tendências, e isso reflecte-se na nossa música. Usamos programações desde sempre, mesmo quando não era uma tendência, e iremos sempre utilizar, mesmo quando deixar de ser… Somos uma banda que vive da interacção física com as pessoas e, enquanto nos for possível, iremos andar por aí a espalhar o nosso carvão!
“This Is Hell” tem data de lançamento a 30 de Janeiro de 2021.

Metal Hammer Portugal

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