Mötley Crüe “Dr. Feelgood”: renascimento e morte
Artigos 1 de Setembro, 2019 Joel Costa
Decorria o ano de 1989. Os Mötley Crüe chegavam pela primeira vez ao top de vendas da tabela Billboard 200 com “Dr. Feelgood” e faziam-no sóbrios. Respirava-se compromisso no seio da banda e nunca haviam registado vendas tão rápidas como o faziam agora. Tudo parecia perfeito, quando na realidade caminhavam rumo a um novo abismo.
O quinto álbum dos Mötley Crüe foi um marco na história dos norte-americanos por diversas razões. Composto na sua maioria pelo baixista Nikki Sixx depois de um processo de reabilitação que envolveu todos os membros da banda, alguns dos temas presentes em “Dr. Feelgood” abordavam episódios ligados ao estilo de vida que os Mötley Crüe haviam adoptado até muito recentemente, mas oferecia igualmente uma visão mais pessoal de Sixx, tal como o tema-título (que falava sobre os traficantes que forneciam as doses perfeitas) ou a célebre “Kickstart My Heart”, que invadiu as rádios e a MTV com o mesmo poderoso efeito de um dilúvio, e que o músico compôs depois de ter sobrevivido a uma overdose. Para a história ficariam outros temas como “Same Ol’ Situation” ou a balada “Without You”.
Para este registo, os Mötley Crüe contaram com a visão do produtor Bob Rock, que mais tarde assumiria a produção do icónico “Black Album”, dos Metallica, e cujo trabalho meticuloso ao capturar as habilidades de cada um dos membros deste quarteto fez com que a banda formada em 1981 fosse agora reconhecida por algo mais do que as histórias que seduziam todos aqueles que tinham um vislumbre do universo louco que eram os Mötley Crüe. Contudo, esta aparente estabilidade não era mais do que uma ilusão e a banda estava prestes a implodir. Bob Rock viria a confessar que trabalhar com Vince Neil, Mick Mars, Nikki Sixx e Tommy Lee havia sido um processo extremamente difícil, com o quarteto a entrar em conflito por diversas ocasiões, levando a que o produtor convencesse cada um dos músicos a gravar separadamente. Este seria também o último álbum com Vince Neil nos vocais, que seria despedido pelos restantes membros em 1992 devido a diferenças criativas. Felizmente, esta decisão seria revertida alguns anos depois e o músico voltaria a integrar a formação da banda em 1997.
“Dr. Feelgood”, que contou com a participação especial de nomes como Steven Tyler (Aerosmith), Bryan Adams, Robin Zander (Cheap Trick) e membros dos Skid Row, é hoje tido como o álbum mais consistente dos Mötley Crüe e como um disco que reflectiu os tempos que se viviam num ano musicalmente dominado pelos Guns N’ Roses, que deixariam a sua influência neste trabalho em temas como “She Goes Down” ou “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”. Como em todas as histórias reais, houve alguns capítulos feios mas felizmente os Mötley Crüe teriam um final feliz. A família acabaria por se reunir e prolongar a actividade da banda por mais alguns anos, actividade essa que culminou com uma tour de despedida e o filme biográfico “The Dirt”, que explora a ascensão, os excessos, a queda e o renascimento daquela que foi uma das maiores bandas de glam metal / hard rock de todos os tempos! “Dr. Feelgood” será certamente relembrado como um dos discos que tomou de assalto uma cena musical que se preparava para transitar para o grunge de Seattle, mostrando ao mundo que os Mötley Crüe ainda tinham algo mais para oferecer.
Relembra os comentários da Metal Hammer Portugal acerca do filme “The Dirt” abaixo:
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Publicado por Metal Hammer Portugal em Quarta-feira, 24 de julho de 2019

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