Moonspell: será que “Hermitage” vai chocar? Fernando Ribeiro responde! (c/ áudio)
Entrevistas 16 de Dezembro, 2020 Metal Hammer

É por demais evidente que os Moonspell não se repetem e cada álbum tem uma vida própria, uma abordagem específica (seja sónica, seja conceptual), e “Hermitage” (a sair em Fevereiro de 2021), com as suas atmosferas space-rock e prog, não destoa desta observação.
Como sempre com qualquer novidade, os primeiros dois singles, “The Greater Good” e “Common Prayers”, geraram discussão nas redes sociais – enquanto uns fãs elogiaram a novidade, outros pareceram perder a esperança, talvez muito à custa do portento que foi “1755”. Há quem queira um novo “Wolfheart” ou o seguimento de “1755”, há quem queira a revolução que foi “Irreligious”. É assim e sempre será. Mas os Moonspell nunca ficam quietos no mesmo lugar.
Em entrevista a Fernando Ribeiro, a Metal Hammer Portugal questionou o vocalista: será que “Hermitage” vai chocar muita gente?
«Para dizer a verdade, não sei se me interessa muito, se choca ou não, porque, na verdade, hoje em dia, a apreciação da música em geral e dos Moonspell em particular tem muito a ver também com a maneira como as pessoas apreciam seja qualquer outra coisa – notícias, pandemia, arte, sexo, drogas, política», começa. «As pessoas pensam amarelo, e mesmo que faças uma coisa preta, vão pensar amarelo à mesma e vão-te perguntar por que é que és contra o amarelo. Portanto, é muito difícil os músicos fazerem coisas e pensarem que de alguma forma podem controlar a reacção. Cresci muito e já me deixei um pouco disso, de tentar dizer às pessoas para ouvirem desta ou daquela maneira, porque acho que o acolhimento – quer à “The Greater Good” (que é uma canção um pouco diferente do que temos feito), quer à “Common Prayers” (que é uma canção em território, na minha opinião, mais familiar dos Moonspell) – foi uma reacção completamente expectável. Ou seja, houve pessoas que ficaram chocadas positivamente – e eu agradeço muito essa capacidade, a elasticidade e a abertura de mente para conseguirem acompanhar a música e perceberem que os músicos têm uma agenda que passa muito mais por coisas artísticas e de expressão e, de alguma forma, traduzirem aquilo que lhes vai na alma, com as letras, e aquilo que lhes vai nos ouvidos, também com a música que ouvem – [e] há-de haver outras pessoas que vão ficar sempre órfãs do “Wolfheart”, do “Irreligious”, agora também do “Sin/Pecado”. Acho que isso é uma reacção completamente expectável, eu não estava à espera de outra coisa.»
Choque e surpresa são reacções que podem manifestar-se de maneiras diferentes consoante o contexto, sendo que a primeira pode ter uma conotação negativa e a segunda uma positiva, mas num mesmo plano até podem significar o mesmo. Fernando Ribeiro fala por si: «Quando ouço música, gosto de ser surpreendido, mas não penso que isto seja o estado geral dos fãs da música. Acho que é sempre de lamentar que as pessoas tenham perdido essa capacidade. Nos anos 90, nós ouvimos o “Wildhoney” [Tiamat] e adorávamos aquilo – claro que havia sempre gente que não gostava –, mas quem ouvia os Manowar não ia para a Internet queixar-se de que os Tiamat não fizeram o “Kings of Metal”. Portanto, eu acho que as bandas pouco ou nada têm a dizer nesse aspecto, e acho que as bandas não devem estar muito preocupadas com isso quando compõem, quando criam e quando gravam. Mas sem dúvida que, hoje em dia, o fã normal de música é muito mais preconceituoso do que era na altura em que a música significava outra coisa nas nossas vidas. Portanto, nós procuramos algo que nos agrade e, de vez em quando, há música que não nos agrada de imediato, que, entre aspas, nos desafia – nem estou a dizer que é o caso dos Moonspell em particular. Mas isso parte muito da predisposição das pessoas, e acho que as bandas, com a música, já não têm o poder de mudar essa predisposição. Só se realmente for muito boa, muito original… É isso que as bandas tentam fazer. Mas eu tenho, como é óbvio… [interrompe] Como já vivi outras épocas… Tenho pena que, hoje em dia, a música não traga só o melhor que há em nós, mas também traga o pior que há em nós, porque ouvir música devia ser um processo simples, desprovido de ódio e desprovido de opinião. Se há uma coisa que as bandas não podem de todo controlar, e isso depende da boa vontade das pessoas, é esse sentimento. Um disco é um blind-date, pelo menos um disco dos Moonspell, e hoje acho que as pessoas querem o Tinder, não querem ir para um disco sem saber tudo sobre ele. Esta é a parte mais complicada para mim – enquanto pessoa, enquanto elemento de uma banda –, é exactamente a partilha, porque eu acho que o meu trabalho acabou, pelo menos aquele trabalho criativo de artista ou pseudo-artista, quando fechámos a porta do [estúdio] Orgone em Inglaterra e viemos para Portugal. Agora é ir à luta – como é óbvio, ganham-se umas e perdem-se outras.»
Ouve as declarações de Fernando Ribeiro abaixo.
As pré-encomendas de “Hermitage” encontram-se disponíveis aqui.
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