Com o novo EP, Krysiuk pretendeu fazer um “Литоургиiа / Litourgiya” em versão light com algumas das suas orientações criativas.

Editora: Witching Hour Productions
Data de lançamento: 07.08.2020
Género: black/doom metal
Nota: 3/5

Com o novo EP, Krysiuk pretendeu fazer um “Литоургиiа / Litourgiya” em versão light com algumas das suas orientações criativas.

Com toda a celeuma que envolve Krysiuk e Drabikowski, um autêntico cisma religioso, nem sempre tem sido fácil focarmo-nos apenas na música, até porque há duas facções que não só disputam o nome como também a própria sonoridade.

Após o sucesso de “Литоургиiа / Litourgiya” (2015), o verniz estalou e Drabikowski (guitarra) sentiu-se roubado por Krysiuk (voz), este que seguiu o seu caminho sob Batushka ao assinar pela Metal Blade Records e, posteriormente, ao lançar “Господи / Hospodi” (2019), um álbum que não recolheu as melhores reviews e que foi apontado por muitos fãs como um trabalho de Faketushka. Por seu turno, Drabikowski também prosseguiu como Batushka e lançou “Панихида / Panihida” igualmente em 2019, um registo que soou mais a demo do que a álbum final mas que, ainda assim, se mostrou mais honesto, ficando a maior parte dos fãs deste lado da altar.

Para um novo EP, a facção de Krysiuk regressa à casa-mãe Witching Hour Productions, e, assim, apesar dos fiéis se mostrarem mais devotos a Drabikowski, parece que a ala comercial e editorial da procissão está a dar mais apoio ao vocalista – isto, sem, de momento, sabermos o que aí virá por parte do guitarrista.

Mais importante, apesar de tudo, é o conceito e a sua música. “Раскол / Raskol”, com cinco faixas que perfazem cerca de 30 minutos de duração, representa interpretações do livro “Sticherarion”, que desapareceu da liturgia comum depois de uma reforma levada a cabo pelo Patriarca Nikon no Séc. XVII. Hoje em dia, o livro é usado por crentes mais antigos, e foi uma das razões para o Grande Cisma do Séc. XVII que levou a uma divisão na Igreja Ortodoxa.

Segundo a promoção, a banda regressa às suas raízes, expandindo a atmosfera da estreia de 2015 e oferecendo uma nova e desenvolvida forma no que diz respeito ao negro som monástico. Uma parte é verdade, a outra nem por isso. De facto, o que aqui se ouve tem muitas reminiscências de “Литоургиiа / Litourgiya”, especialmente nos cânticos missais e nos segmentos mais agressivos que combinam velocidade com melodia, sendo um bom exemplo disso “ирмос IV / Irmos IV”, e só isso faz com esta novidade seja, neste aspecto, melhor do que o mid-tempo muito utilizado em “Господи / Hospodi”. O problema é que Krysiuk & Cia. não desenvolvem, nem melhoram, assim tanto, ou nada mesmo, a fórmula enegrecida e monástica já reconhecida, sendo nós absorvidos por momentos insossos e sem grande alma, como se uma carrada de riffs densos e blast-beats alucinados fossem para ali metidos só porque sim.

Basicamente, parece-nos que Krysiuk pretendeu fazer um novo “Литоургиiа / Litourgiya” em versão light com algumas das suas orientações criativas – de certa forma, conseguiu-o, mas falta-lhe algo que nos faça sentir aquilo que sentimos em 2015: faltam momentos explosivos e memoráveis que não se conquistam com dois ou três versos gregorianos e duas ou três boas malhas de guitarra – falta clímax, para pôr isto em pratos limpos.

Sabemos que a novidade já aconteceu há cinco anos e sabemos que os lançamentos seguintes podem não ter o mesmo impacto, mas será importante não se cair na estagnação, nem na corrida para se ver quem divulga música nova em primeiro, se Krysiuk ou Drabikowski.