Com um excelente LP na bagagem, intitulado "Mother Culture" (2018), os noruegueses Avast, em parceria com a Darkhan Music, reeditaram o EP de título...
Foto: Peter Baele

Origem: Noruega
Género: post-black metal
Últimos lançamentos: “Avast” (2020, reedição do EP de 2016) / “Mother Culture” (LP, 2018)
Editora: Darkhan Music (EP) / Dark Essence Records (LP)
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Entrevista e review: Diogo Ferreira

Com um excelente LP na bagagem, intitulado “Mother Culture” (2018), os noruegueses Avast, em parceria com a Darkhan Music, reeditaram o EP de título homónimo, originalmente lançado em 2016, para que esse primeiro registo não ficasse inteiramente perdido, havendo também um sentido de coleccionismo que qualquer melómano preza.

«É mais um item de colecção para os nossos fãs do que uma tentativa de se tornar a próxima grande novidade.»

Reedição do EP: «Trata-se de um vinil de 10 polegadas do nosso EP homónimo de 2016. O EP foi a nossa maneira de, em 2016, fazermos com que o mundo soubesse que existíamos antes de embarcarmos numa digressão europeia com os nossos amigos suecos Myteri.
Sempre detestámos quando as bandas criam perfis nas redes sociais sem que haja música gravada para as pessoas verificarem. Por isso, gravámos duas das três primeiras músicas que compusemos, sem saber o que raio estávamos a fazer, considerando que todos nós vimos da cena punk e hardcore. A Angry Music Records também fez algumas cassetes que agora devem valer milhões.
De qualquer forma, as músicas deste EP de 2016 engataram o Ronnie da Dark Essence Records, o que fez com que eles nos assinassem em 2018 e lançassem o nosso álbum “Mother Culture”. Há alguns meses, o Ronnie decidiu que as pessoas tinham de apreciar esta obra-prima [o EP], feita por três punks, em vinil, lançando-a através do seu projeto paralelo, a Darkhan, que é uma pequena incrível marca de música independente, roupa e ocultismo. Façam um visita se Satanás e videojogos forem a vossa cena.
O que as pessoas podem esperar deste lançamento é difícil de dizer. É mais um item de colecção para os nossos fãs do que uma tentativa de se tornar a próxima grande novidade.»

Conceito: «Este lançamento contém duas músicas. A primeira faixa, “Declare”, é um escárnio da própria guerra num mundo onde os seus habitantes são perfeitamente capazes de destruir a sua própria criação e de desenrolar um tapete vermelho à sua própria extinção. A segunda faixa, “Fire and Ice”, é baseada num dos poemas mais populares de Robert Frost. É inspirado numa passagem do Canto 32 do Inferno de Dante, na qual os piores criminosos do inferno, os traidores, estão submersos.
As partes instrumentais das músicas foram feitas primeiramente pelo Trond (guitarra) antes de o Hans (voz) inserir as linhas vocais com letras que se encaixam nos seus berros desesperados. As letras são muito repetitivas e, portanto, fáceis de memorizar para um vocalista que tem memória de peixe. A verdade nem sempre é tão fascinante quanto os artistas costumam querer que seja.»

Evolução: «Como este foi o nosso primeiro lançamento, é difícil apontar qualquer evolução sonora. As referências musicais são uma mistura de bandas de black metal, post-metal, post-rock e hardcore. Mas uma coisa é certa: foi o início de algo realmente memorável para três punks que deram concertos para pequenas multidões durante anos, e agora somos agendados para grandes festivais e apresentamo-nos perante centenas de metaleiros dedicados. Devíamos ter começado a tocar metal desde o início. Nenhuma dúvida sobre isso.»

Review: Assumindo a estética sonora do blackgaze e do post-black metal, a base lírica dos Avast foge completamente desse estrato, indo assim ao encontro de poéticas sociais e ambientalistas provenientes de facções relacionadas ao punk e ao hardcore, influenciado-se em autores como Robert Frost e Daniel Quinn. Tanto o EP de 2016, com título homónimo, como o primeiro longa-duração “Mother Culture” (2018) representam um post-black metal de primeira categoria que usa todos os condimentos para um resultado final prazeroso no que a estes subgéneros diz respeito, havendo partes velozes e agressivas que bebem da herança black metal da Noruega, mas também segmentos calmos, ligados ao doom e ao shoegaze, que se transfiguram em adornadas notas cintilantes, nostálgicas e muitas vezes depressivas, que, a tempos, possuem ainda assim uma pontinha de luz ao fundo do túnel.