O cenário metal sempre foi dominado pelo masculino, embora desde sempre as mulheres lutem para entrar nesse meio e mostrar que também fazem música...

O cenário metal sempre foi dominado pelo masculino, embora desde sempre as mulheres lutem para entrar nesse meio e mostrar que também fazem música profissional, muitas vezes desbancando bandas formadas por homens. De há uns tempos para cá, o aparecimento de bandas formadas apenas por mulheres tem crescido muito graças a grupos femininos como Nervosa, que trabalham muito, que têm conquistado o mundo e que têm incentivado cada vez mais miúdas a batalhar neste mundo do heavy metal. Pensando-se nisso, surge a mais recente banda brasileira de metal: The Damnnation. As meninas apresentam um som versátil, que mistura várias vertentes do metal extremo.

Formada por Renata Petrelli (guitarra / voz), Aline Dutchi (baixo) e Leonora Mölka (bateria), a banda faz um metal sem rótulos, consciente e consistente com temas sobre depressão, injustiça e política. Renata explica o processo de composição: «Na grande maioria das vezes, eu faço os arranjos, escrevo no Guitar Pro para as meninas terem as tablaturas e também poderem editar os seus instrumentos como acharem que é mais bacana, e gravo algumas demos de referência para a gente sentir de uma forma mais orgânica como as músicas soariam. Depois mostramos ao nosso produtor, o Rogério (Flight Estudio), que dá alguns pitacos principalmente na parte estrutural. Temos feito isso via vídeo-conferência para minimizar riscos. No momento de gravar, acabamos sempre por mudar alguma coisa ou acrescentamos mais coisas.» The Damnnation acabam de lançar o segundo single da carreira, “Apocalypse”, faixa que faz parte do EP “Parasite”, que está a passar pelo processo final de gravação e mistura. «Não sei se este ano é o melhor momento para lançar o EP, visto que a pandemia atrapalha um pouco o quanto um lançamento de forma presencial é mais legal e interessante para público e imprensa. Mas se não for esse ano, será no início do ano que vem, quando (espero eu) tudo estiver normal!» “Apocalypse” traz uma sonoridade nova e extremamente pesada, um estilo diferente dentro do metal extremo, sendo difícil classificar em apenas um género específico.

Um power-trio feminino não é algo inédito, mas a banda está com os pés assentes no chão e com boas perspectivas para o futuro. «Acredito que um power-trio seja mais prático em vários sentidos: logística, gastos, dividendos, decisões, etc.. Sobre a expectativa, acredito que somos bem pé no chão. Claro que queremos alçar vôos cada vez mais altos, mas tudo vem com muito trabalho, dedicação, um passo de cada vez e muita humildade. No meio metal, todo o mundo está à procura do seu lugar ao sol e ninguém é melhor do que ninguém. Então, nada mais justo do que um ajudar o outro, valorizar e enaltecer o trabalho de todo o mundo. Nada cai de mão beijada e estamos só no começo deste trabalho.»

«No meio metal, todo o mundo está à procura do seu lugar ao sol e ninguém é melhor do que ninguém.»

Renata Petrelli

Tendo em mente que a banda se trata de um modelo não muito original no meio do metal extremo, The Damnnation garantem que a música é algo original: «A sonoridade é diferente devido a algumas características. Preocupo-me muito que as pessoas entendam o que está a ser dito e, por mais que as letras estejam em inglês, quando a galera pegar a letra para ler ou traduzir, quero que entendam a sonoridade do que estou a cantar. Eu não ‘canto’ (ainda estou a aprender), porque escuto muito gutural que não se entende logo de caras o que é dito e estamos cheios de bandas a fazer gutural. Quis ir para o lado contrário, porque sou dessas. As outras diferenças é que, na hora de fazer os arranjos, só sento e toco, não fico a pensar: ‘Ai, quero fazer um riff tipo da banda X.’ Então, como tenho muitas influências diferentes – thrash, stoner, grunge, southern rock, doom, metal melódico –, acabo por fazer o que me dá na telha. Na bateria, acredito que a Leonora também sente o arranjo e toca o que a música pede! Na minha opinião, a Dutchi tem uma tarefa mais difícil, que é fazer arranjo no meio da guitarra e do baixo, de uma maneira que ainda assim não fique limitada – e, meus amigos, ela consegue e fica demais!»

As três garotas possuem outros projectos paralelos, mas The Damnnation é o foco. Renata Petrelli já tocou em Sinaya, que alcançou uma boa fama no exterior, também toca num tributo a Alice In Chains e numa banda de hard rock misturado com grunge chamada Marie Dolls. Aline Dutchi é baterista em Haze e Leonora Mölka é fundadora, baterista, backing vocal e letrista de Vindicta, para além de ter Heal Or Kill e Artaxe. Com tantos projectos para gerir, as garotas já têm planos para o futuro de The Damnnation: «Já estamos a mirar o ano que vem. E é dar concertos… Como também já há muita música pronta, é gravar um álbum e, de repente, lançar já em 2021.»