Editora: Metal Blade Records
Data de lançamento: 02.10.2020
Género: death metal
Nota: 2.5/5
“Nightmares of the Decomposed” peca por negligência com muito fumo e death & roll.
“Nightmares of the Decomposed” é o décimo terceiro álbum de originais dos Six Feet Under, projecto formado há pouco mais de 25 anos pelo carismático Chris Barnes quando este abandonou os Cannibal Corpse em 1995. A expectativa à volta da estreia dos SFU foi tão grande quanto a curiosidade que este reencontro de Chris Barnes com Jack Owens, camarada de armas nas cordas dos Cannibal Corpse, andou a suscitar. “Haunted”, o álbum de estreia, cumpriu e bem, “Warpath”, o seguinte, calou os mais cépticos, enquanto “Undead”, “Unborn” ou “13” prestigiaram ainda mais o estatuto do veterano Mr. Barnes junto da sua legião. No entanto, a já extensa discografia, com os seus altos e baixos, divide opiniões frequentemente e cada novo álbum dos SFU deixa o pessoal de grenha com os nervos em franja. O facto dos Cannibal Corpse se terem tornado na banda de death metal com maior sucesso e exposição mediática junto ao mainstream na década de 90, aliado à dissidência de Barnes, talvez explique a perda de confiança nos SFU por parte dos metalheads mais ferrenhos.
Ainda não é desta, com o novo “Nightmares of the Decomposed”, que os SFU se irão reconciliar com essa facção. Apesar do início promissor e dinâmico de “Amputator”, não se canta com a boca cheia e aquele guincho não resulta nada bem – Chris Barnes parece ser agora uma sombra de si mesmo. O solo de guitarra de Jack Owen parece cair de pára-quedas no meio de um tema puxado que sai a abrir sem qualquer direcção. Quando a secção rítmica corre desenfreada, o refrão corta-lhe o gás. É preciso outro tipo de cola a ligar as peças.
“Zodiac” evidencia os problemas de produção: o som da tarola parece coisa de amadores, o baixo é dominante, riffs gordos a cozer em lume brando sobre o ritmo tonto da bateria com ataques de histerismo e a voz demasiado alta. A entrada de “Rotting”, com o tal guincho irritante e despropositado comum à maior parte das interpretações, reflecte a produção onde os instrumentos soam cada um para seu lado. Tal como no tema anterior, o desfecho abrupto parece deixar coisas a meio. Aqui começamos a torcer o nariz ao restante alinhamento. “Death Will Follow” confirma as suspeitas e a morte do artista: isto tem pouco por onde pegar, faltando-lhe alma e pontaria. “Migraine” continua com problemas na equalização (o volume é desequilibrado pelo sobe e desce de faixa para faixa) e no brilho (uma sonoridade crua, mesmo nos caminhos mais sludgy, não tem de ser necessariamente roufenha e enfadonha). “The Noose” é o melhor tema do álbum, sendo composto por riffs carnudos envolvidos pela preponderância dos graves, pelo baixo de Jeff Hughell muito bem enrolado, por um solo de guitarra bem arrumadinho, com tudo organizado no registo mid-tempo imposto pela bateria de Marco Pitruzzella.
E porque no meio é que está a virtude, “Blood of The Zombie”, no seguimento de “The Noose”, também é dos bons. “Self Imposed Death Sentence” ainda aguenta algumas pontas, mas torna-se redundante, não acrescenta nada. Os temas seguintes embalam na cadência dum motor cansado a trabalhar em ponto-morto – é só queimar óleo. “Without Your Life” põe a mudança, em esforço na caixa de velocidades enferrujada, e um fim a isto, expondo os pontos fracos duma gravação cuja experiência acumulada de 40 anos de serviço dos principais intervenientes não faria prever.
“Nightmares of the Decomposed” peca por negligência com muito fumo e death & roll. O mistério da salvação é por meia unha muito negra: as letras gory, bons riffs e uns ganchos orelhudos. A produção poderia e deveria ter melhorado alguns aspectos, é certo, mas é inegável que o líder dos Six Feet Under anda tão desinspirado quanto esta crítica. Acontece aos melhores zombies.

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