“Leviathan” resume a essência dum álbum moderno, um diamante lustroso, em que os nove temas serpenteiam atleticamente por entre estilos, atmosferas e numerosas variações,...

Editora: independente
Data de lançamento: 29.09.2020
Género: black metal
Nota: 4/5

“Leviathan” resume a essência dum álbum moderno, um diamante lustroso, em que os nove temas serpenteiam atleticamente por entre estilos, atmosferas e numerosas variações, numa mistura acautelada com mestria e subtileza.

A ameaça soviética é uma realidade no décimo álbum dos Second To Sun. Para quem nunca tenha ouvido falar destes russos, é importante referir que já lá vão dez álbuns desde a primeira edição em 2011, a fazer prever alguma experiência acumulada. Vladimir Lehtinen é o one-man-black-metal-show responsável por toda a riffalhada, pela autoria de todas as letras, composições e produção. Para compor o cenário, o homem empregou o fenomenal Gleb Sysoev no lugar de vocalista e o irmão Max, um baixista ultra-discreto, para além de Theodor Borovski, baterista calculista e duvidoso.

O LP abre silenciosamente ao som de um gira-discos que anuncia “Eeerie”, um tema bastante elucidativo sobre o conteúdo geral de um álbum que se caracteriza pela diversidade e dinamismo. A faixa mais extensa tem uma introdução cinzenta e atmosférica e evolui numa tempestade sónica de ritmo enlouquecido com espaço para sucessivas variações de tempos e ambientes. A voz raivosa e um riff em metamorfose ao longo de nove minutos preenchem o espectro sonoro e constroem um ambiente carregado, mas muito limpo e bem definido graças à produção moderna e cristalina pouco comum neste tipo de gravações.

“Marsch Der Wölfe” é uma marcha ao som duma melopeia mid-tempo, sombria e ritualista, com contornos épicos, tal como “The Emperor in Hell”, que, apesar dos disparos constantes de velocidade, vai sustentando idêntica ambiência com embalo melódico.

“I Psychoanalyze My Ghost” traduz a versatilidade dos Second To Sun e a vontade com que arriscam, e bem, na invenção de novas fórmulas para este subgénero – aquele riff melódico, os teclados atmosféricos e alguns efeitos electrónicos conferem-lhe uma aura gótica e industrial. “Shaitan”, em que a língua afiada e viperina do vocalista desafia as cordas vocais e o ritmo alucinado do baterista, é o mais convencional no universo do género. As teclas compõem o espaço em volta traçando o cenário ocultista. “The Engraving of Gustave Doré” funciona como um interlúdio cinéfilo. São estas vozes agonizantes sobre um instrumental em ambiente de tortura que introduzem a faixa-título. Há momentos que tresandam à perversão sádica de um bordel do submundo de S. Petersburgo em noite de orgia satânica. Outros em que paira uma nuvem qualquer de Tiamat, camuflada obviamente por um registo muito mais speedado e ruidoso.

“Leviathan” resume a essência dum álbum moderno, um diamante lustroso, em que os nove temas serpenteiam atleticamente por entre estilos, atmosferas e numerosas variações, numa mistura acautelada com mestria e subtileza. Entra a partir com a carga máxima numa fúria desenfreada e arrasta-se nos últimos dois minutos com a calmaria fúnebre que dá passagem à brevíssima e soturna “Black Death, Spirits, and Werewolves”.

O álbum só acaba em “November” com uma nova descarga sónica e em ruptura com as fronteiras que definem o black metal nórdico nas coordenadas desta gravação.

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