"Herzeleid" é o primeiro álbum de Rammstein, lançado em Setembro de 1995.

Quantas bandas de enorme sucesso mundial conheces a cantar em alemão? Pois. Uma. Rammstein. O que parecia ser uma loucura, tornou-se uma realidade, mas o parto foi muito difícil.

Junta desde 1993, a banda oriunda da Alemanha Oriental sacou o seu nome de uma localidade chamada Ramstein (adicionando depois um ‘m’), onde aconteceu um desastre durante um espectáculo de acrobacias aéreas que matou 67 pessoas. Porém, o caminho começou anos antes, por volta de 1989, quando o guitarrista Richard Z. Kruspe fazia parte dos Orgasmic Death Gimmicks, uma banda com influências norte-americanas que nunca foi a lado nenhum.

Richard preferiu manter as suas raízes e recrutou Till Lindemann para a voz. Juntar-se-iam ainda o guitarrista Paul Landers, o baixista Oliver Riedel, o teclista Christian Lorenz e o baterista Cristoph Schneider.

Depois de demos gravadas em 1993 e 1994, surgia então o primeiro LP “Herzeleid” em 1995, mas até aí se chegar é preciso contar uma história.

«O título “Herzeleid” é uma palavra alemã antiga para ‘coração partido’», diz Richard Z. Kruspe num artigo da Metal Hammer UK. «Para se entender o que estávamos a passar, para fazermos este álbum, tem de se perceber o que estava a acontecer nas nossas vidas naquela altura.»

Segundo o guitarrista, estava num processo de rompimento amoroso e Till Lindemann estava a viver algo semelhante. «De facto, o resto do que seria Rammstein também estava a sofrer com problemas pessoais. Por isso, o título do disco diz muito sobre os nossos estados de espírito», reflecte.

Canalizando toda a angústia e frustração para música, a primeira demo foi produzida no pequeno apartamento de Kruspe sob condições mínimas. Inscreveram a cassete numa competição local, o que resultou numa semana em estúdio, e o próximo objectivo era conseguir um agente e um contrato. As dores de parto começam realmente aqui.

Um tal de Emanuel Fialik era a primeira escolha, mas o agente mostrou-se difícil, ficando convencido apenas na segunda vez que assistiu a uma actuação do sexteto.

Com um agente a bordo, faltava o contrato com uma editora, que surgiu com a Motor Music. Agora era preciso um produtor. Greg Hunter, que tinha trabalhado com Killing Joke, estava na calha, mas os Rammstein deram-lhe literalmente sono. À medida que a banda ia tocando as suas músicas na sala de ensaio, Greg não dizia nada, tendo sido apanhado a ressonar.

A próxima opção fora Jacob Hellner, que já tinha colaborado com Clawfinger. Para trabalharem com o produtor, os Rammstein deslocaram-se à Suécia, o que se provou ser um problema, principalmente linguístico. Para além do estúdio de Hellner não ser o que a banda pensava, foram deixados à sua mercê quando não estavam a trabalhar. Kruspe conta: «Não falávamos sueco e pouco inglês, e sentimo-nos muito alienados. Não podíamos ir a lado nenhum ou fazer qualquer coisa. Portanto, o nosso estado de espírito não era o melhor.»

A mistura foi o obstáculo seguinte. De acordo com Kruspe, o produtor não fazia a mínima ideia do que estava a fazer. Depois de reuniões e discussões, é o holandês Ronald Prent quem entra em cena. «Tenho de dizer que não era fácil trabalhar com Ronald, e tivemos as nossas desavenças, mas ele salvou o álbum», confessa Kruspe.

“Herzeleid” acabou finalmente por ser lançado em Setembro de 1995, resultando num impacto imediato ao chegar a nº 8 nas tabelas alemãs. Mas calma que havia ainda mais um problema, já mesmo depois do disco estar nas prateleiras das lojas: a sleeve. «Parecíamos tão… gays!», exclama Kruspe. «Parecia um anúncio para um filme porno gay.»

No universo metal, temos a pretensão de assinalar tudo o que surge em primeiro como melhor – normal, visto que muitos álbuns de estreia significavam o início de um subgénero. Não para Kruspe. «Agora não ouço o disco. Não. E não acho que seja um dos nossos melhores álbuns – nem perto. Foi um tempo muito doloroso para todos nós.»

No fim, os Rammstein derrubaram todas as barreiras. O primeiro álbum estava cá fora, seguindo-se “Sehnsucht” (de 1997, com os singles “Engel” e “Du Hast”), o mega sucesso com “Mutter” (2001), milhões de álbuns vendidos e arenas lotadas para concertos que são uma experiência inigualável com teatralidade e pirotecnia a rodos.

Sobre a concepção de “Herzeleid” e todo aquele período, Kruspe resume: «Tínhamos de passar por aquilo para chegarmos onde estamos hoje.»