Gigantes do nu-metal que fizeram queixos cair aquando do lançamento do segundo álbum “Toxicity” (2001), os System Of A Down continuaram...
Foto: Armen Keleshian

Gigantes do nu-metal que fizeram queixos cair aquando do lançamento do segundo álbum “Toxicity” (2001), os System Of A Down continuaram na ribalta das ribaltas até pelo menos 2005, quando editaram “Mezmerize / Hypnotize”. Daí até este momento passaram-se 15 anos e a banda colocou-se a si própria nas sombras. Nesta década e meia, os SOAD exploraram as suas carreiras a solo, continuaram regularmente na estrada (com alguns concertos a serem destruídos entre a imprensa e os fãs, com a banda a ser acusada de pouca química e más interpretações, como se só ali estivessem para ganharem os seus dólares), atacaram-se internamente através de entrevistas (sem apontarem nomes) pela falta de música nova e, mais recentemente, voltaram à baila da imprensa basicamente pelas mesmas razões de sempre – concertos à vista, zero música nova e barricadas políticas opostas entre o mais liberal/socialista Serj Tankian e o, pelos vistos, pró-Trump John Dolmayan.

Todavia, há algo que os une a sério: as raízes culturais arménias. Defensores de mais liberdade na Arménia (foram vozes activas durante a Revolução de Veludo em 2018), Serj Tankian continuou a semear consciência tanto em partilhas nas redes sociais como através de singles a solo.

Com nova música prometida há já vários anos, os System Of A Down surpreenderam o mundo quando, nesta manhã de sexta-feira, 6 de Novembro de 2020, acordámos com dois novos singles. Intitulados “Protect the Land” e “Genocidal Humanoidz”, o quarteto diz ter «algo extremamente importante para dizer como voz unificada» em relação à «terrível e grave guerra que está a ser preparada» nas suas terras-natais culturais.

Através do Bandcamp, a banda escreveu: «A 27 de Setembro, as forças combinadas do Azerbaijão e Turquia (com os terroristas do ISIS da Síria) atacaram a República de Nargono-Karabkh, à qual nós arménios chamamos Artsakh. Durante o último mês, jovens e velhos civis têm sido acordados, de dia e de noite, por visões terríveis e sons de rockets, bombas, mísseis, drones e ataques terroristas. Tiveram de encontrar refúgio em abrigos improvisados para tentarem evitar as bombas clandestinas que chovem nas suas ruas e casas, hospitais e locais de oração. Os atacantes incendiaram as florestas e puseram a vida animal em perigo com fósforo branco, mais uma arma banida.»

Por mais que queiram mostrar ao mundo o que está a acontecer ao país onde nasceram os seus antepassados, na realidade – quer queiras, quer não – uma postura política e interventiva não é novidade em System Of A Down. Privilegiados, sim, estrelas do rock, claro – mas então que se usem os privilégios para o bem. É o que os SOAD têm feito desde sempre.

Musicalmente, “Protect the Land”, o single principal que até teve direito a um vídeo, demonstra que Daron Malakian continua a saber criar riffs e hooks orelhudos. Por outro lado, a dupla vocal Tankian / Malakian continua a ser uma das mais reconhecíveis, bem-conseguidas e bem-sucedidas. Porém, por mais que esta seja uma música de System Of A Down, será à System Of A Down? Não deixamos de apontar que, muito à custa da falta de vozes mais agressivas, esta “Protect the Land” tem muito daquilo que Tankian nos habituou a solo – mais rock, menos metal, mais hino para as massas, menos pujança pesada. Em suma, pode muito ser a “We Are the World” dos SOAD. É por uma boa causa.

Já “Genocidal Humanoidz”, que tem metade da duração da companheira, é mais pesadona, com direito a blast-beats e tudo. Com riffs mais metralhados e com uma secção alimentada a tremolo-picking, este tema aproxima-se mais dos System tresloucados que conhecemos e, novamente, a dupla de vozes rouba as atenções.

Um novo álbum continua, à partida, longe das ideias, mas talvez muitos fãs tenham tirado a barriga de misérias com estas duas novas composições que acabam por unir uma banda que tanto se tem mostrado dividida. Contra todas as expectativas, nem estão a soar mal.