Mörk Gryning: «Queríamos fazer um álbum intenso, focado em melodias fortes»
Entrevistas 13 de Outubro, 2020 Diogo Ferreira
Quinze anos depois do último álbum lançado, os Mörk Gryning estão de volta com “Hinsides Vrede” através da Season of Mist. A Metal Hammer Portugal falou com a banda sueca sobre este novo capítulo, viagens xamânicas e Bathory.
«O Quorthon desenvolveu algo extremamente único e pergunto-me quão diferente a cena metal teria sido se Bathory tivesse realmente tocado ao vivo e chegado a mais pessoas.»
A estreia com “Tusen år har gått…” é vista como um marco na carreira da banda. Vinte e cinco anos depois surgem com o surpreendente “Hinsides Vrede”. Vês isto como um último capítulo e um ciclo completo para avançarem de uma vez por todas?
Não, não o vejo como um capítulo final, mas como o primeiro capítulo do próximo livro. Desta vez, conseguimos olhar para trás, para os nossos álbuns anteriores, com distância, pegar nas melhores partes e começar a trabalhar a partir daí. Desta vez estávamos muito mais focados do que costumávamos estar e sabíamos como queríamos que o álbum soasse antes de começarmos a compor a maior parte do material. Queríamos fazer um álbum intenso, focado em melodias fortes, dinâmico mas com um bom fluxo.
Estiveram em hiato durante cerca de 10 anos e um novo álbum é lançado 15 anos depois. Este regresso foi apenas algo pessoal ou apercebeste-te de dicas de que os Mörk Gryning deviam regressar?
O primeiro concerto de reunião foi puramente pessoal, mas como percebemos que as pessoas ainda se lembravam de nós, e era bom tocar ao vivo, surgiu a ideia de se fazer um novo álbum. Já tínhamos pensado na ideia, mas não tínhamos motivação suficiente nessa altura para concluirmos um longa-duração. Se era para fazermos um novo álbum, teria de ser um muito, muito bom, e estou muito feliz com o que alcançámos com “Hinsides Vrede”.
Achamos que o álbum lida muito com mundos / dimensões que não conhecemos ou entendemos totalmente, como sonhos, sono, noite, espírito, morte e assim por diante. Tentaste entender melhor tudo isso com as letras que escreveste, como um exercício para se adquirir mais conhecimento, ou é apenas uma expressão da imaginação / criatividade em si?
Interessante. Nunca pensei nisso assim, mas talvez ajude de certa forma. As letras são muito importantes para nós e talvez seja por isso que não voltámos ao estúdio antes. Há muito tempo que não tinha interesse espiritual, mas foi despertado há alguns anos e é disso que tratam muitas das letras. Adoro viagens xamânicas e usei ayahuasca várias vezes na América do Sul, e isso foi uma grande influência para mim. Acho que com este tipo de música tem de haver temas espirituais e místicos envolvidos, ou então a música não descola. Não acho que se consiga entender tudo o que está a acontecer na mente, ou no mundo espiritual, mas não é disso que se trata. É sobre estarmos cientes e abertos a isso, para sermos guiados em tudo o que fizermos. Por exemplo, enquanto compunha as músicas, fiz muita meditação e viagens xamânicas com tambor para manter a minha mente limpa e focada no propósito do álbum.
Há muito de Bathory neste novo álbum. Muitas outras bandas, como Mörk Gryning ou Dissection, desenvolveram tudo para algo mais melódico e épico sem se perder a severidade. Quão importante foi e ainda é Quorthon na tua vida artística?
O Quorthon desenvolveu algo extremamente único e pergunto-me quão diferente a cena metal teria sido se Bathory tivesse realmente tocado ao vivo e chegado a mais pessoas. Todas as bandas de thrash e, posteriormente, as bandas de death metal dos anos 80 eram óptimas à sua maneira, mas Bathory tinha aquela mística que nenhuma dessas outras bandas tinha. A música leva-te a um lugar mais profundo do que, por exemplo, Slayer (que eu ainda adoro, claro), e é mais pessoal, mais introvertido, e isso influenciou a cena black metal de uma forma que não dá para medir. Quando ouvi Bathory pela primeira vez, a música atingiu um novo nível para mim, fez-me querer ficar sozinho a ouvir. Ao mesmo tempo, Bathory também tinha uma sensação rock n’ roll realmente forte na música, portanto havia o melhor de dois mundos, por assim dizer. Obviamente, Quorthon ainda tem um grande impacto em mim enquanto músico, já que duas músicas – “A Glimpse of the Sky” e “Black Spirit” – são um pouco na veia de Bathory.
Percorreram um longo caminho desde 1993, mesmo sabendo que nem todos os membros são desse período, e muita coisa mudou. Sem tocarmos no lado tecnológico disto tudo – que é óbvio –, o que pensas da evolução do black metal (como música e como modo de vida) e de como tudo se profissionalizou nos últimos 10 anos?
Acho que profissionalismo é bom desde que mantenhas o espírito verdadeiro e que coloques a música sempre em primeiro lugar. Hoje em dia não ouço muitas bandas, mas faço-o ocasionalmente. Hoje em dia, o que acho interessante passa por bandas que misturam black metal com outros estilos ou que fazem algo realmente esquisito e estranho com isso. Na verdade, isso é exactamente o oposto do que fazemos – black metal melódico mesmo na cara –, mas acho que me sinto atraído pelo oposto. Para o futuro, e só posso falar por mim, ainda tenho muita inspiração para escrever novas músicas. Mas antes de começarmos a escrever, daremos a este álbum algum tempo e, com sorte, poderemos sair para a estrada. Estou ansioso por tocar estas músicas ao vivo.

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