Quinze anos depois do último álbum lançado, os Mörk Gryning estão de volta com “Hinsides Vrede” através da Season of Mist. A Metal Hammer...

Quinze anos depois do último álbum lançado, os Mörk Gryning estão de volta com “Hinsides Vrede” através da Season of Mist. A Metal Hammer Portugal falou com a banda sueca sobre este novo capítulo, viagens xamânicas e Bathory.

«O Quorthon desenvolveu algo extremamente único e pergunto-me quão diferente a cena metal teria sido se Bathory tivesse realmente tocado ao vivo e chegado a mais pessoas.»

A estreia com “Tusen år har gått…” é vista como um marco na carreira da banda. Vinte e cinco anos depois surgem com o surpreendente “Hinsides Vrede”. Vês isto como um último capítulo e um ciclo completo para avançarem de uma vez por todas?
Não, não o vejo como um capítulo final, mas como o primeiro capítulo do próximo livro. Desta vez, conseguimos olhar para trás, para os nossos álbuns anteriores, com distância, pegar nas melhores partes e começar a trabalhar a partir daí. Desta vez estávamos muito mais focados do que costumávamos estar e sabíamos como queríamos que o álbum soasse antes de começarmos a compor a maior parte do material. Queríamos fazer um álbum intenso, focado em melodias fortes, dinâmico mas com um bom fluxo.

Estiveram em hiato durante cerca de 10 anos e um novo álbum é lançado 15 anos depois. Este regresso foi apenas algo pessoal ou apercebeste-te de dicas de que os Mörk Gryning deviam regressar?
O primeiro concerto de reunião foi puramente pessoal, mas como percebemos que as pessoas ainda se lembravam de nós, e era bom tocar ao vivo, surgiu a ideia de se fazer um novo álbum. Já tínhamos pensado na ideia, mas não tínhamos motivação suficiente nessa altura para concluirmos um longa-duração. Se era para fazermos um novo álbum, teria de ser um muito, muito bom, e estou muito feliz com o que alcançámos com “Hinsides Vrede”.

Achamos que o álbum lida muito com mundos / dimensões que não conhecemos ou entendemos totalmente, como sonhos, sono, noite, espírito, morte e assim por diante. Tentaste entender melhor tudo isso com as letras que escreveste, como um exercício para se adquirir mais conhecimento, ou é apenas uma expressão da imaginação / criatividade em si?
Interessante. Nunca pensei nisso assim, mas talvez ajude de certa forma. As letras são muito importantes para nós e talvez seja por isso que não voltámos ao estúdio antes. Há muito tempo que não tinha interesse espiritual, mas foi despertado há alguns anos e é disso que tratam muitas das letras. Adoro viagens xamânicas e usei ayahuasca várias vezes na América do Sul, e isso foi uma grande influência para mim. Acho que com este tipo de música tem de haver temas espirituais e místicos envolvidos, ou então a música não descola. Não acho que se consiga entender tudo o que está a acontecer na mente, ou no mundo espiritual, mas não é disso que se trata. É sobre estarmos cientes e abertos a isso, para sermos guiados em tudo o que fizermos. Por exemplo, enquanto compunha as músicas, fiz muita meditação e viagens xamânicas com tambor para manter a minha mente limpa e focada no propósito do álbum.

Há muito de Bathory neste novo álbum. Muitas outras bandas, como Mörk Gryning ou Dissection, desenvolveram tudo para algo mais melódico e épico sem se perder a severidade. Quão importante foi e ainda é Quorthon na tua vida artística?
O Quorthon desenvolveu algo extremamente único e pergunto-me quão diferente a cena metal teria sido se Bathory tivesse realmente tocado ao vivo e chegado a mais pessoas. Todas as bandas de thrash e, posteriormente, as bandas de death metal dos anos 80 eram óptimas à sua maneira, mas Bathory tinha aquela mística que nenhuma dessas outras bandas tinha. A música leva-te a um lugar mais profundo do que, por exemplo, Slayer (que eu ainda adoro, claro), e é mais pessoal, mais introvertido, e isso influenciou a cena black metal de uma forma que não dá para medir. Quando ouvi Bathory pela primeira vez, a música atingiu um novo nível para mim, fez-me querer ficar sozinho a ouvir. Ao mesmo tempo, Bathory também tinha uma sensação rock n’ roll realmente forte na música, portanto havia o melhor de dois mundos, por assim dizer. Obviamente, Quorthon ainda tem um grande impacto em mim enquanto músico, já que duas músicas – “A Glimpse of the Sky” e “Black Spirit” – são um pouco na veia de Bathory.

Percorreram um longo caminho desde 1993, mesmo sabendo que nem todos os membros são desse período, e muita coisa mudou. Sem tocarmos no lado tecnológico disto tudo – que é óbvio –, o que pensas da evolução do black metal (como música e como modo de vida) e de como tudo se profissionalizou nos últimos 10 anos?
Acho que profissionalismo é bom desde que mantenhas o espírito verdadeiro e que coloques a música sempre em primeiro lugar. Hoje em dia não ouço muitas bandas, mas faço-o ocasionalmente. Hoje em dia, o que acho interessante passa por bandas que misturam black metal com outros estilos ou que fazem algo realmente esquisito e estranho com isso. Na verdade, isso é exactamente o oposto do que fazemos – black metal melódico mesmo na cara –, mas acho que me sinto atraído pelo oposto. Para o futuro, e só posso falar por mim, ainda tenho muita inspiração para escrever novas músicas. Mas antes de começarmos a escrever, daremos a este álbum algum tempo e, com sorte, poderemos sair para a estrada. Estou ansioso por tocar estas músicas ao vivo.