Na minha contribuição anterior para a Metal Hammer Portugal optei por recomendar menos drama e mais arte. Nesse espírito, e tendo...

Na minha contribuição anterior para a Metal Hammer Portugal optei por recomendar menos drama e mais arte. Nesse espírito, e tendo em conta que o gosto musical é incrivelmente subjectivo e cheio de conceitos abstractos, venho dizer-vos o que têm de ouvir e gostar dentro do metal nacional, porque eu é que sei. Aqui estão sete bandas portuguesas que merecem não só a vossa atenção mas também nada menos do que devoção absoluta. Sem mais delongas…

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Apotheus
Após uma retirada estratégica de seis anos, estes senhores lançaram “The Far Star”, um álbum conceptual baseado na ficção científica de Isaac Asimov. A originalidade, valor conceptual e catchieness deste lançamento é algo bastante raro na cena portuguesa, e o facto de o acompanharem com um espectáculo ao vivo com uma qualidade mais típica de palcos bem maiores faz com que sejam um dos nomes mais a ter em conta no metal português.

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OAK
O doom lusitano está cheio de pérolas ao ponto de quase pedir que eu escreva um artigo à parte com nomes exclusivos ao subgénero. No entanto, nenhuma delas consegue chegar ao nível de OAK no que toca a peso e inovação. O seu álbum de estreia “Lone”, lançado em 2019, é uma viagem inigualável pela vertente mais atmosférica do doom, com qualidade e inovação que rivalizam com os maiores do género.

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Heavy Cross Of Flowers
Com uma mistura caoticamente doseada de stoner, doome punk, esta banda foi, sem sombra de dúvida, um dos projectos nacionais que mais captou a minha atenção recentemente. Lançado no ano passado, o seu álbum de estreia homónimo augura o início de uma carreira bastante promissora.

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Allamedah
Nunca pensei que um dia existisse metal progressivo desta qualidade cantado em português. A nível de composição e originalidade, os Allamedah são um exemplo para a cena nacional. As composições são interessantes, as letras são boas e a voz é fenomenal, e a maneira como misturaram metal com fado no seu single “Algema” é sublime. Tive o prazer de os ver ao vivo uma vez na sua primeira passagem pelo Metalpoint no Porto, e foi um concerto digno de nota. Com os seus dois novos singles lançados no passado ano de 2019, bem como uma reinterpretação genial do acima referido “Algema”, esperam-se muito boas coisas deles num futuro próximo.

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Dark Oath
Permanece um mistério o porquê de serem bem mais valorizados noutros países do que em Portugal, tendo em conta a imensa qualidade de composição, produção e execução que lhes é característica. O seu último lançamento (“When Fire Engulfs The Earth”, 2016) caminha para os quatro anos de idade, o que é espectacular para atrair padres católicos, mas geralmente bem menos eficaz para manter o interesse do público. No entanto, as suas views e listens continuam a aumentar a ritmos impressionantes – e francamente invejáveis, provando que o seu último lançamento é algo que fica na memória. A sua actividade a nível de concertos passa mais pelo estrangeiro, sendo lamentável não os vermos com maior destaque em palcos portugueses.

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Blame Zeus
A evolução de Blame Zeus ao longo dos tempos culminou em “Seethe” (2019), uma obra de prog-rock que promete encher as medidas de qualquer apreciador de rock n’roll. Com instrumentais muito inspirados em bandas do género, sendo possível reconhecer pinceladas artísticas de nomes como Tool e Alter Bridge, tudo isto é envolto na incrível performance vocal de Sandra Oliveira, que é sem dúvida um dos nomes mais capazes do meio lusitano atrás do microfone.

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Toxikull
Permitam-me pôr uns pontos nos is – não tenho tendência para gostar de bandas com som revivalista, porque geralmente aborrecem-me de morte. No entanto, está longe de ser o caso com Toxikull! A produção impecável de “Cursed and Punished” (2019), aliada à pura energia das composições e a habilidade brutal de Lex Thunder nos vocais provam, sem sombra de dúvida, que o revivalismo não está morto, sendo que, para mim, os Toxikull conseguem ser mais interessantes do que muitas bandas que se dizem guiadas por “quebrar barreiras musicais”.

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Higher Sky
Neste caso entende-se que seja mais underrated visto que este projecto divulgou os seus primeiros temas cerca de três dias antes de eu escrever esta crónica – mas não importa, já deviam conhecer e idolatrar Higher Sky em toda a sua glória. Este projecto de rock/metal progressivo puramente instrumental não necessita de voz nem de letra para transmitir todo o leque de emoções que pretendem. Tecnicamente irrepreensível, mas sem show-off desnecessário, os Higher Sky provaram logo no primeiro lançamento que são uma das representações mais interessantes do metal progressivo nacional. Aguardam-se (mais) desenvolvimentos, e, até lá, recomendo vivamente os três temas que compõem o seu EP de estreia!

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Porquê oito? Porque me apetece. Obrigado a todos que tomaram um tempo para ler. Caso gostem do que ouviram, agradeço profundamente que façam pleno uso das redes sociais e do eventual bate-boca para que estes projectos tenham o hype que merecem em honra do único dogma minimamente válido: tudo pela arte, nada contra a arte.

(Ricardo Pereira, autor do artigo, é vocalista dos Moonshade)

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