Eugene Abdukhanov (Jinjer): «Preparem-se para um concerto do caraças!»
Entrevistas 21 de Julho, 2019 Diogo Ferreira
Foi em meados de 2016 que os ucranianos Jinjer ascenderam decisivamente com o terceiro álbum “King of Everything” através de um lançamento suportado pela Napalm Records, uma das editoras metal mais versáteis do planeta. Aos poucos, o grupo começou a ser partilhado nas redes sociais, seguindo-se pedidos constantes para que alguém os trouxesse a Portugal – assim foi: em Outubro de 2016, o quarteto encabeçado pela vocalista Tatiana Shmailyuk estreava-se em Portugal para difundir a sua combinação de groove, metalcore, hardcore e tecnicismo. Em 2019, a banda do leste europeu regressa ao nosso país para fazer parte do cartaz do Vagos Metal Fest. «Estamos ansiosos», diz-nos o baixista Eugene Abdukhanov. «Infelizmente tocámos em Portugal apenas uma vez, mas definitivamente apaixonámo-nos pelo vosso país e sabemos que há fãs de Jinjer por aí. Preparem-se para um concerto do caraças!»
Com o início de 2019 veio o EP “Micro”. Ainda que os Jinjer tivessem planeado fazer um álbum no Outono de 2018, o sucesso que obtiveram nos Estados Unidos, numa tour ao lado dos Cradle Of Filth, mudou-lhes os planos conforme Eugene relembra: «O nosso agente nos EUA convenceu-nos a voltar à América para nos estabelecermos lá completamente como uma banda. Por outro lado, da nossa perspectiva, era impossível fazer uma digressão sem novas músicas, porque o nosso último lançamento é de 2016 e cansamo-nos bastante do material antigo. Então, a decisão foi a de fazer um lançamento intermédio para as coisas funcionarem bem.» Contudo, sabe-se que já estão a trabalhar num longa-duração, que deverá sair no Outono de 2019, mais uma vez pela Napalm Records.
Entretanto, é na estrada que os Jinjer mais estão e onde melhor se sentem. «O que é que pode ser mais excitante do que os próprios concertos?», entoa retoricamente o porta-voz da banda. «Tocar ao vivo é a melhor parte das digressões – tocar em lugares diferentes, para pessoas diferentes.» Não pensando em qualquer resultado que daí possa advir, o ucraniano centra-se naquilo que são: «Somos músicos, é essa a nossa prioridade», e tal «deve estar em primeiro lugar para cada banda». Dos EUA à América Latina e da Europa à Ásia, os Jinjer já pisaram muitos palcos e visitaram muitas cidades, mas há um lugar especial para Eugene Abdukhanov. «O Japão destaca-se com certeza. Passei uma parte significativa da minha vida a fazer artes marciais japonesas e entrei nas suas tradições e História.» Mas é na América Latina que o artista de Leste sempre quis tocar para «viver o espírito dessa parte do mundo e, claro, fazer um pouco de turismo se houver tempo». «Desta vez, na digressão actual, conseguimos ver Teotihuacan no México! Um lugar fantástico!»
Da Ucrânia conhecemos a força do black metal atmosférico, com Drudkh a comandar o rol de bandas que se expande para outros projectos como Khors ou Nokturnal Mortum, mas a realidade tem-nos mostrado que ainda nenhum empreendimento oriundo dessa nação angariou tantos seguidores como está a acontecer com Jinjer. «Bem, vamos falar abertamente: conhecem-se muitas bandas que estão fora da chamada civilização ocidental? Conhecem-se muitas bandas de qualquer lugar a Leste da Polónia ou ao Sul dos Balcãs? Da Ásia? Médio Oriente? A resposta é obviamente não. Mas há lá bandas com certeza. E algumas são muito boas.» O que o músico ucraniano realmente quer transmitir é que «uma vez que se está fora deste mercado primário, é muito difícil entrar-se nele – por muitas razões, começando pelos custos de transporte ou problemas de visto. Isso foi um grande problema quando começámos as digressões há cinco anos. E uma razão muito importante: preconceito! Um promotor que faz uma escolha entre uma banda ucraniana e outra americana, provavelmente escolheria a americana», rematando com sentido de humor: «O quê? Ucrânia? Eles ainda levam ovelhas a pastar num lugar qualquer perto da Rússia… Ah, é aí que está Chernobyl, devem ser radioactivos.»
A Ucrânia saltou à vista do interesse internacional em 2013 quando se deu início aos protestos Euromaidan, em que se exigia uma maior integração com a União Europeia. Daí para a frente, o país entrou em estado-de-sítio com confrontos urbanos, eleições de braço no ar em praça pública, desintegração ao serem assumidas independências unilaterais de várias regiões e com uma intervenção militar russa quase invisível. Eugene vai mais atrás. «Somos a geração que cresceu logo após o colapso da URSS. Passei a minha infância num país profundamente definido pela depressão e crise. Sem emprego, sem dinheiro para os meus pais. A minha família estava sempre com dívidas. Não conseguíamos ter uma alimentação adequada, apenas nos grandes feriados. Eu vestia as roupas velhas do meu irmão mais velho e coisas assim.» Todavia, o pior de tudo para o baixista era «as ruas cheias de gangues e hooligans» que geravam «uma cultura de violência em que, para muitos jovens, o maior sonho era juntar-se a um clã criminoso». «Essas condições difíceis tornaram-nos duros. Aprendemos a ganhar o que queremos. Aprendemos a perseguir os nossos sonhos e a esforçarmo-nos para seguir em frente, sem importar o que acontece. Aprendemos a não prestar atenção às adversidades e dificuldades.» Prova desse pensamento positivo e inconformado passa pelo sucesso que a banda de Horlivka tem atingido e que, mais uma vez, Portugal poderá testemunhar na Quinta do Ega quando, em Agosto de 2019, acontecer mais uma edição do Vagos Metal Fest.

Metal Hammer Portugal
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