Entrevista a Asphyx.
Foto: cortesia Century Media Records

«É sempre bom saber as reacções das pessoas», diz-nos Martin van Drunen, vocalista dos Asphyx, nos primeiros segundos de conversa quando elogiamos o novo álbum “Necroceros”. «Nós gostamos, mas vamos ver o que as pessoas pensam. No fim, a nossa opinião não importa. [risos]»

De facto, ainda agora começámos 2021 e já estamos em posição de garantir que “Necroceros” será um dos melhores discos do ano.

Veteranos do death metal, os holandeses aproveitaram o início da quarentena devido à pandemia covid-19 para se enfiarem no estúdio e darem os toques finais em tudo o que já tinham previamente preparado. «Basicamente, já tínhamos o material todo, 80 a 90%», conta. «O mais importante que tínhamos para fazer eram os arranjos, ver que partes específicas se enquadravam, e para nós funciona melhor se fizermos uma jam no estúdio – vamos lá e vemos o que sai dali.»

Com toda a conjuntura sanitária e económica em mente, carregar no que melhor se sabe fazer – que no caso de Asphyx é death metal de gabarito – é a opção mais apetecível, com Martin a afirmar que a banda estava «mais confiante do que o normal» porque sabia que, desta vez, tinha-se todo o tempo do mundo. «Todos os concertos foram cancelados. Não havia nada que nos distraísse das gravações. Normalmente há sempre um concerto ou outro durante as gravações, mas desta vez foi corrido. Podia sempre acontecer algum de nós ficar doente, é algo que não consegues prever, mas, mesmo sendo os rebeldes do metal que somos, seguimos as medidas do governo. Vamos comportar-nos e, se fizermos isso, vamos livrar-nos disto mais cedo.»

«Por acaso, algo correu mal! Esqueci-me completamente!», relembra-se repentinamente. «O Paul [Baayens] estava a fazer as guitarras em casa, porque ao longo dos anos construiu um pequeno estúdio, e já tinha feito tudo quando descobriu que havia algo de errado numa bateria dentro da guitarra – nem se apercebeu do que tinha acontecido. [risos] Teve de fazer tudo outra vez. Ficámos do tipo: ‘Pobre rapaz, não pode ser! Horas e horas e horas…’ Para além disso, ele é professor, só faz isto quando volta do trabalho, e em certos dias regressa muito tarde, porque tem de reunir com os pais e falar das crianças. Tivemos mais duas semanas para isto. Mas felizmente tivemos tempo extra e não teve um grande impacto – até conseguimos moldar mais umas coisas que provavelmente não teriam sido se tivéssemos um prazo.»

Sendo Martin um amante de ficção-científica, tanto o título “Necroceros” como a capa são aspectos evidentes desse cenário e fascínio. Dizemos que nos faz lembrar algo entre os filmes “Alien” e “The Thing”. «Porreiro! Porra, tens razão! Nem tinha pensado nisso», responde com uma gargalhada. Contudo, e agora que temos tendência a associar tudo à pandemia, este título, aliado à capa («um nevoeiro verde, nojento e tóxico», classifica), foi coincidência. «Já tinha o título há muito tempo», confessa. «Uma das coisas mais complicadas num álbum é encontrar um bom título – um que seja original e bombástico! Sempre gostei de brincar com palavras. Fizemo-lo com o “Deathhammer” [2012], algo que não existia, e agora com “Necroceros”. Quando escrevi sobre estas catástrofes que se aproximam da Terra, pensei que, comparado a “Necroceros”, a covid-19 é bastante inocente, porque este bastardo vai matar-vos a todos!», atira com mais uma audível gargalhada. «Parece que anda ali um vírus, como o que enfrentamos agora. É tudo coincidência, mas infelizmente enquadra-se.»

«Evoluímos um pouco, mas na maioria das vezes somos uma banda muito conservadora. Não podem esperar que mudemos drasticamente o que fazemos – nem podes fazer isso numa banda como Asphyx.»

Martin van Drunen

“Necroceros” é um álbum à Asphyx com tudo aquilo que lhe é de direito: ataques cerrados, horripilantes e rasgados. Logo a começar, “The Sole Cure Is Death”, uma ode ao death metal melódico da velha-guarda, vai ser das coisas mais matadoras que vais ouvir em 2021, mas há surpresas. Sabemos que os Asphyx têm a sua veia doom metal, só que agora decidiram ir para cima em vez de irem para baixo com faixas como “Three Years of Famine” e “In Blazing Oceans”, como se os Iron Maiden se encontrassem com os At the Gates – dois temas épicos, portanto.

«Acho que vão ficar muito surpreendidos», diz Martin quando questionado sobre o que espera da reacção dos fãs, «mas por outro lado vamos dizer que estas duas músicas são um passo paralelo dentro de um género». Continua: «De resto, penso que o álbum é muito reconhecível no que diz respeito às estruturas e ao som das músicas. Mas concordo que essas duas músicas são diferentes do nosso caminho habitual, especialmente aquele bocadinho [melódico] de “In Blazing Oceans”. Lembro-me disso… Encontrei aquele riff nalgum lado no meio de tudo, e disse ao Paul: ‘O que aconteceu aqui?’ E ele: ‘Não sei. Gostas?’ E eu: ‘Gosto!’ E ele disse: ‘Deixa-me ver se faço alguma coisa à volta disto.’ E acabou assim. Foi difícil encontrar linhas vocais para isto porque tem um ritmo estranho. A“Three Years of Famine” tem uma história diferente porque contém um pouco do que o Paul fez com a “The Grand Denial”, do [álbum de 2016] “Incoming Death”, só que desta vez superou-se. Quando ouvi as linhas melódicas, pensei que tinha de minimizar as vozes porque podia torná-la menos boa. As harmonias dão arrepios. “The Grand Denial” já tinha sido um risco e tivemos reacções impressionantes, e assim sabes que talvez o possas repetir no futuro e talvez ir mais além.»

Novamente, assegura-se a si mesmo que os fãs vão gostar, mas acrescenta como salvaguarda: «Evoluímos um pouco, mas na maioria das vezes somos uma banda muito conservadora. Não podem esperar que mudemos drasticamente o que fazemos – nem podes fazer isso numa banda como Asphyx, que tem uma base de fãs muito forte. Ao início até podem ficar cépticos ou gostar imediatamente.»

Quanto a 2021, com alguns concertos agendados, incluindo Vagos Metal Fest, Martin diz ter as «expectativas em alta» muito à custa das vacinas já conhecidas, mas por outro lado avisa que temos de «continuar cépticos porque não vai ser assim tão rápido», concluindo: «Acho que é mais realista dizer que vai ser tudo mais acessível na segunda metade do ano, mas não vejo enormes festivais a acontecerem com 50.000 pessoas ou concertos em salas pequenas, onde as pessoas estão muito apertadas. Temos de esperar para ver.»