Apotheus: «Esperamos que a nossa obra alimente as mentes mais alienadas»
Subsolo 7 de Abril, 2021 Metal Hammer
“The Far Star”, segundo álbuns dos portugueses Apotheus, já foi lançado em 2019, mas o seu ciclo ainda não acabou. Agora, e sempre ousada, a banda decidiu trabalhar num audiobook da narrativa inter-espacial e distópica que dá o conceito a um excelente álbum de metal progressivo. Conversámos com o baterista Albano von Hammer sobre esta opção artística e o que o futuro, sem sabermos bem o quê, nos reserva.
«Não temos dúvidas de que o mundo distópico que criámos coaduna-se certamente com as vidas de alguns, ou de todos, num ou outro momento da sua vida ou nem que seja num acto de reflexão de um qualquer indivíduo.»
Albano von Hammer
Lançado em Outubro de 2019, estão a estender o ciclo de “The Far Star” ao máximo: o próprio lançamento, a edição especial, o livestream e agora o audiobook. Claramente a explorarem todos os meios que têm à disposição, que aprendizagem estão a obter com estes esforços?
De facto, o universo “The Far Star” é tão rico na nossa cabeça e é tão detalhado que seria bastante redutor cingir-nos à música para explanar tudo o que criámos nos últimos anos e que certamente irão continuar a desenrolar-se nos vindouros. Está a ser um desafio (re)inventarmo-nos e colocar em suportes visíveis, audíveis e legíveis o que não existe mas que queremos partilhar com todas as ferramentas alcançáveis. É claro que há sempre limites e que, por norma, prendem-se a investimentos. Por isso mesmo, temos de ser (ainda) mais inventivos e audazes, e isso, na minha óptica, é a maior aprendizagem que estamos a ter: fazer omeletes com os ovos que ou criámos ou inventamos.
Há videoclipes que demonstram o universo de “The Far Star” e agora um audiobook lindamente acompanhado pelo texto, sons que funcionam quase como banda-sonora e imagens/fotografias. Haverá a possibilidade de virmos a ter um filme (nem que seja uma curta-metragem) com actores e guião/diálogos?
Era de facto um objectivo, não podemos negar. O maior obstáculo está precisamente no custo monetário que isso acarretaria. Ora porque são muitos minutos de edição (e meses de produção), ora porque os cenários são pouco terrestres ou apenas porque nesta fase do projecto – que quase que consideramos que foi um reset à banda, a partir do momento que decidimos criar o “TFS” – não podemos gastar todos os trunfos, uma vez que (como já foi anunciado) o álbum foi o primeiro de um universo próprio e por isso ainda há muito para desenvolver, investir e criar no futuro. Um passo de cada vez…
A sinopse do conto já foi partilhada pela Metal Hammer Portugal, tanto na review como na primeira entrevista, e tendo em conta que a influência mais visada é Isaac Asimov, não deixamos de encontrar reminiscências de Zamiatine, Huxley, Orwell, Kubrick e até José Cid se nos lembrarmos do álbum “10.000 anos depois entre Vénus e Marte”. Não estamos a querer classificar “The Far Star” como uma cópia/imitação, mas antes como um aglomerado bem-conseguido de influências incontornáveis. Tendo em conta o historial de premonição inerente à ficção-científica e o rumo do mundo actual, achas que este conto vai envelhecer bem e fazer cada vez mais sentido?
Não temos dúvidas de que o mundo distópico que criámos coaduna-se certamente com as vidas de alguns, ou de todos, num ou outro momento da sua vida ou nem que seja num acto de reflexão de um qualquer indivíduo. Isto poderá responder à questão: eventualmente, esta obra pode ir ao encontro de todos, agora e no futuro, nem que seja como fonte de inspiração (tal como alguns dos nomes mencionados o foram e são para nós) ou, para os mais alarmistas e literais, como presságio a algo que possa acontecer. Afinal de contas, sendo nós filhos de Ome-gae, herdamos bastantes características comportamentais daquele povo.
“The Far Star” apresenta uma sociedade nada igualitária, com classes altas que dominam e baixas que obedecem e não evoluem, um estado policial que vigia sem tréguas. Transportando isto para a nossa realidade, achas que estamos cada vez mais perto do que Huxley e Orwell, e mesmo Apotheus, anteviram? Temes que o pico deste desenrolar mundial seja devastador e sem retorno ou ainda há esperança?
Penso que nesta altura, “antever” já não existe. Muito menos se pode almejar “prever” cenários cataclísmicos e dantescos pelo rumo que a (in)sustentabilidade que vigora, actualmente em 2021, pode trazer. Ora, se aliarmos isso ao ímpeto humano, à natural ganância, à escassez e instinto de sobrevivência, talvez possamos prever que a causalidade impere e, por isso, claramente podemos estar a ir de encontro a tais cenários. Esperemos que não. Esperemos que obras como, por exemplo, a nossa possam alimentar as mentes mais alienadas das problemáticas. As mais famosas distopias de Huxley e Orwell têm duas características que o “The Far Star” não tem: passam-se no futuro e são numa sociedade humana. Acho que o “The Far Star”, apesar de ser uma distopia, também representa muito o lado bom daquele povo. A distopia inicial é importante, mas apenas no sentido de servir de motivação à grande viagem e conquista que acontece depois.
Voltando em certa medida à primeira pergunta, estás em condições de revelar que os Apotheus já estão a trabalhar no sucessor de “The Far Star”?
Penso que nesta fase é seguro dizer que sim. Podemos também já revelar que estamos numa fase em que já há música e que o registo é algo distinto. Podemos também revelar que é um seguimento da história e, para os mais atentos, trará mais do que uma revelação, mas sim várias, e irá certamente fazer o deleite dos amantes da saga e de ficção-científica no geral.
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Ouve o audiobook de “The Far Star” abaixo ou na sua versão optimizada aqui.
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