Wells Valley “Reconcile The Antinomy”
Reviews 7 de Novembro, 2019 João Correia


Editora: Black Lion Records
Data de lançamento: 08.11.2019
Género: black/sludge/post metal
Nota: 4/5
Lembramo-nos de ver os Wells Valley há dois anos no Moita Metal Fest, o que indica o bem-impressionados que ficámos com a sua prestação. Na verdade, foi tão boa que não só nos lembramos dela como nos recordamos da sensação que tivemos ao ouvir o som debitado pelos três lisboetas. Quase três anos passados, continuamos sem entender como é que uma das bandas nacionais mais interessantes da actualidade continua a voar tão abaixo do radar em Portugal. Ou, se calhar, entendemos bem.
“Matter As Regent” foi um pontapé-de-saída promissor, ainda que tímido, mas com o EP “The Orphic” reparámos realmente no que a banda poderia vir a ser, a começar com a elucidativa “Annunciation” e, claro, a terminar com a mistura de emoções atingida em “Set The Controls For The Heart Of The Sun”, um original da melhor época dos Pink Floyd que recebeu um tratamento distópico e infausto. O EP anunciou grandeza futura devido à emancipação técnica e criativa do trio. Não nos enganámos.
“Reconcile The Antinomy” é (por enquanto) um dos discos nacionais do ano por tudo aquilo com que não contávamos. A juntar ao degredo sónico do sludge, post-metal, doom metal e avant-garde, a banda embarca agora no terminal do black metal, mas não de qualquer black metal, e foi isso que nos surpreendeu. É um black metal dissonante e confuso que faz crescer pêlos no peito, que vai buscar influências a Deathspell Omega e a Portal. Parece improvável, mas a coisa melhora.
O trabalho que mais apela em todo o registo pela bravura em experimentar é o de Pedro Mau (bateria). Metemos “Henosis” em loop para que pudéssemos apreciar quantas vezes quiséssemos aquela martelada tripla e sincopada na tarola. Na verdade, “Henosis” é, a nosso ver, o melhor tema do disco também por culpa dos riffs de Filipe Correia e pelos arranjos orquestrais a meio dele. Depois, Mau adapta-se a cada estilo distinto como se fossem um e um apenas.
“Pleroma”, que antecede “Henosis”, é outro salmo que mistura black metal e sludge/post-metal de forma perfeita. Voltámos atrás na nossa decisão – o melhor tema é “Pleroma” por tudo o que engloba, ou porque é nele que encontramos o melhor riff do disco e o trabalho de bateria mais expansivo, bem como arranjos sinfónicos, mas começa a parecer que estamos a falar novamente de “Henosis”. Ainda que indecisos, não voltaríamos a ouvir momentos melhores do que estes em todo o disco.
A partir da terceira música, Correia mete o travão na velocidade do black metal, mas carrega nos pedais ao lado, os do peso e do experimentalismo. O mesmo sucede com Mau, que abranda o passo, mas que se faz ouvir com potência, principalmente com o enorme reverberar reiterativo do bombo em partes seleccionadas. O baixo de Pedro Lopes ouve-se pouco em todo o registo e gostaríamos de ter ouvido algo mais de experimental da sua parte – algo de inesperado.
“Paragon” passeia mais pela rua do post-metal e tem um final apoteótico novamente pelas mãos de Mau, e a final “Forty Days” tem um início lo-fi iniciado pelas suas baquetas. “Forty Days” parece um apanhado dos seis temas, com riffs de black metal mas sem a sua velocidade, com a mesma cadência por todo o lado da bateria e pelo som mais audível e interessante do baixo, por mais experimentalismo e dissonância, bem como um som atmosférico geral, repetitivo e bom. “Reconcile The Antinomy” não serve para todos os ouvidos. Melhor: nem todos os ouvidos servem para “Reconcile The Antinomy”, um disco difícil de absorver, psicadélico por natureza e com uma produção competentíssima (até atendendo à amálgama de sons da banda). Menos positiva é a oferta curta e simbólica de momentos de black metal no disco, pois conferem-lhe uma vitalidade que tantas vezes outras bandas não possuem. Fora isso, “Reconcile The Antinomy” é um trabalho claramente dedicado e complexo, que a cada nova audição nos oferece algo mais sem ser de mais. É por discos como “Reconcile The Antinomy” que dá gosto de ter ouvidos.

Metal Hammer Portugal

The Smashing Pumpkins “CYR”
Reviews Nov 26, 2020
Hatebreed “Weight of the False Self”
Reviews Nov 26, 2020
Scour “Black” EP
Reviews Nov 25, 2020
Sodom “Genesis XIX”
Reviews Nov 23, 2020
DevilsBridge: em frente, sem descanso
Subsolo Nov 27, 2020
kRATER_BG: passado no futuro
Subsolo Nov 27, 2020
Ingrina: pesadelos civilizacionais
Subsolo Nov 26, 2020
Varde: visões nas florestas do norte
Subsolo Nov 25, 2020