Warfest XV: Gaerea + Grog + Destroyers Of All (30.11.2019, Figueira da Foz)
Concertos 5 de Dezembro, 2019 João Correia


Quinze anos de apoio ao metal. Esta é a efeméride comemorada pela DRAC (Direito de Resposta Associação Cultural) em 2019, que é caso para dizer: Parabéns e que venham muitos mais!. Na 15.ª edição ininterrupta do Warfest, os nomes invocados foram Gaerea, Grog e Destroyers Of All, três grupos de relevo no panorama nacional e que provaram de que massa são feitos na Figueira da Foz.
A data e o evento tiveram ainda mais relevância por ser o pontapé de saída da digressão europeia dos Gaerea e, concomitantemente, de ser a última data dos nortenhos em solo nacional em 2019. Trata-se de uma banda muito em alta devido ao seu disco de estreia, “Unsettling Whispers”, um trabalho de tamanha qualidade que levou à assinatura de contrato com a Season of Mist.
A melhor forma de acelerar a decadência auditiva é iniciar um festival com Grog, uns dos pais da música extrema nacional. Quase a atingir as três décadas de actividade, o quarteto lisboeta é bastante conhecido em Portugal e no exterior (mais ainda depois de vencer a final nacional do Wacken Metal Battle de 2019). Com a sala a meio gás, os Grog começaram a tocar e rapidamente ficou a todo o vapor. «Vocês estão tão aí atrás porquê?», perguntou o vocalista Pedro Pedra. «Andem cá para a frente, vá.» À terceira música, já havia slam e tentativas de crowd-surfing. «Vocês demoraram tanto tempo porquê?», insistiu Pedra, visivelmente divertido. Graves horrivelmente altos a contrastar com um som de baixo musculado e Rolando Barros atrás da bateria foi a oferta dos Grog para o serão, com especial destaque para “Sterile Hermaphrodite” e “Hanged By The Cojones”. Prestação sólida, algo a que os Grog já nos habituaram há bastante tempo.

Seguiram-se-lhes os Gaerea e, embora o tempo tivesse abrandado, a intensidade manteve-se. “Unsettling Whispers” apanhou muito boa gente desprevenida e que cimenta cada vez mais a zona norte do país como principal hotspot de música brutal. Um dos seus guitarristas comentou com a Metal Hammer Portugal que a presença da banda na Figueira da Foz foi uma felicidade derivada de uma infelicidade, pois os Gaerea foram convidados devido à impossibilidade de uma das bandas originalmente planeadas para o certame ter cancelado o concerto. Nos momentos iniciais do concerto, a presença na sala figueirense já se encontrava um pouco acima da meia casa, o que estranhámos tanto pelos nomes envolvidos como pela ausência de concertos regulares de metal no centro-litoral.
Os presentes puderam presenciar a elevada magnitude sísmica da nova coqueluche pesada nacional como se deve: atentamente, sem grande movimentação, algo já típico no panorama do black metal. Uma vez mais, os graves ajudaram a estragar um pouco a festa, ainda que, desta vez, de forma mais moderada. Quanto à prestação geral, é claro que estamos perante um dos colectivos recentes mais interessantes do heavy metal português – menos fumo talvez não tivesse sido pior, mas, se calhar, é mesmo assim que a banda gosta –, ainda que tenham ocorrido algumas dificuldades técnicas menores e quase imperceptíveis perante o paredão de som dos Gaerea. Em síntese, excelente início de digressão e prova concreta de que darão muito que falar por essa Europa fora.

Por fim, os conimbricenses Destroyers Of All contribuíram para a causa com o seu misto de metal agressivo/técnico/progressivo. Com “The Vile Manifesto” lançado em 2019, as coisas mudaram um pouco para o quinteto do Mondego. «Os Destroyers Of All evoluíram imenso com este disco e são um dos colectivos nacionais mais interessantes da actualidade», confessou à Metal Hammer Portugal um dos encapuzados misteriosos integrantes de Gaerea. Não é para menos – “The Vile Manifesto” não só supera confortavelmente o disco de estreia dos estudantes, como ainda levou a banda a ser convidada a tocar no Resurrection Fest 2019 ao lado de enormes nomes mundiais da cena. Por outro lado, a banda era esperada pelo público figueirense, até porque os Destoryers Of All foram o grupo com o som mais acessível (ligeiro) do cartaz.
Houve espaço para muita confusão durante o concerto. Entre músicas, os responsáveis da DRAC limpavam o chão frente ao palco de cacos de garrafas de cerveja e líquidos para que ninguém se magoasse. Tiveram o melhor som da noite, talvez devido à natureza mais pacífica do seu som, sempre com Alexandre Correia a abusar de solos de guitarra insanos, melódicos, muitro técnicos e inspiradíssimos. “Destination Unknown” foi o tema que melhor nos soou por motivos de composição e orelhudice. Prestação coesa e honesta.
Não existem motivos para não visitar a DRAC, cujo Warfest começa a ser um dos nomes de continuidade e qualidade dentro do panorama metálico nacional. Para ajudar, as instalações estão situadas numa zona surrealmente agradável, mesmo à beira-mar, com paisagem natural que é motivo de conversa, e um espaço interno muito bem aproveitado e com tudo o que se pode exigir para passar uma noite diferente. Agora, é esperar para ver o que 2020 trará ao Warfest, mas, depois de um certame com estes três nomes, será com certeza difícil de superar.
(Agradecimentos: DRAC)

Metal Hammer Portugal
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