Vulcano + Filii Nigrantium Infernalium + Scum Liquor (04.12.2019 – Lisboa)
Concertos 16 de Dezembro, 2019 Ana Miranda

No passado dia 4 de Dezembro, algumas dezenas de pessoas deslocaram-se ao RCA para assistir a uma missa negra protagonizada pelos brasileiros Vulcano. Passados quatro anos desde a sua anterior passagem por solo nacional, na mesma sala de espectáculos, foi com um misto de saudade e expectativa que se aguardava a nova aparição da lendária banda de Santos em palcos nacionais. Os portugueses Scum Liquor e Filii Nigrantium Infernalium foram responsáveis pelas duas primeiras homilias de uma noite que se revelou intensa e sem pontos fracos.

Foi com um ligeiro atraso de 15 minutos face à hora indicada pela organização que Scum Liquor subiu ao palco para, em pouco mais de 30 minutos, desfiar o seu black n’roll suado para uma sala a meio gás, mas que aos poucos se foi compondo, tendo em conta que estávamos a meio da semana. A prestação, centrada exclusivamente no primeiro álbum da banda, “Midnight Pleasures”, editado no passado mês de Setembro, iniciou-se com “Shitsharter”. Os temas apresentam-se mais coesos e elaborados do que nos registos anteriores, sem, contudo, comprometer a atitude honesta e directa com que se apresentam em palco – comunicam com o público e assumem os percalços com a naturalidade de como se estivessem num ensaio. Noutros poderia cair mal. Em Scum Liquor até confere um certo charme.

Às 21:40, era a vez de Filii Nigrantium Infernalium pregarem a palavra do Mafarrico, ofertando-nos um concerto que contou com a (certamente involuntária) bênção da Nossa Senhora do Bom Sucesso, padroeira de Cacilhas, que ali teve direito a presença em palco sob a forma de um cartaz alusivo à procissão em sua honra que costuma ter lugar em fim de Outubro na referida vila ribeirinha. Durante uma prestação de cerca de 40 minutos, sucederam-se temas como “Labyrinto”, “Abadia do Fogo Negro”, “A Forca de Deus”, “Lactância Pentecostal”, “Matéria Negra” ou “Sacra Morte”. Os filhos das trevas infernais puderam contar duas vezes com os préstimos vocais de Nuno ‘Caverna Abismal’, dono da editora com o mesmo nome, aqui travestido de monge, de crucifixo erguido, a tentar exorcizar (ou seria a endemoninhar?) o público. A santa a tudo assistiu em posição invertida, factor que parece ter contribuído para mais uma excelente prestação de Belathauzer & Cia.. Aliás, o entusiasmo divino terá sido tanto que o dito cartaz voou do palco (com o piedoso auxílio da banda) e pairou sobre as cabeças dos presentes até atingir um elemento do público, felizmente sem danos físicos a registar. Deo gratias!

E eis que cerca das 22:45 sobem ao palco os veteranos Vulcano para a antepenúltima data da Europe Stormed Tour, destinada a promover o novo álbum “Eye In Hell”, com lançamento previsto para Janeiro de 2020 pela dinamarquesa Mighty Music. Ao longo de pouco mais de uma hora, os “Guerreiros de Satã” protagonizaram o pináculo de uma bela noite de trevas. A banda de Santos debitou o seu thrash/death metal dos infernos e fez justiça ao nome do deus do fogo, incendiando a assistência que, apesar de pouco ou nada exuberante no que a circle-pits e quejandos diz respeito, respondeu calorosamente às solicitações de Luís Carlos Louzada, cantando os refrãos a plenos pulmões de cornos em riste. Temas do clássico álbum de 1986, “Bloody vengeance”, tais como a faixa homónima, “Dominios of Death”, “Death metal”, “Holocausto” ou “Ready To Explode” (já em encore), além de outros como “Total Destruição” e o incontornável “Guerreiros de Satã”, encheram as medidas dos fãs mais ferrenhos. “Evil Empire”, a faixa que dá avanço ao novo álbum, teve bom acolhimento por parte do público. Destaca-se a constante dialéctica que o já citado Louzada, Carlos Diaz, Gerson Fajardo e, ainda que mais discretamente, o carismático Zhema Rodero, membro-fundador da banda, mantiveram com o público. O baterista Bruno Conrado, o membro mais novo do colectivo, teve um desempenho à altura da responsabilidade. A noite saldou-se com três grandes concertos, cada um no seu espectro musical, que se sucederam em crescendo. Um público mais numeroso teria, possivelmente, tornado o ambiente mais acolhedor para as bandas. No entanto, quem esteve presente sabia ao que ia, o que se traduziu na empatia gerada entre banda e assistência. Nota positiva para o modo como os horários foram, grosso modo, respeitados, o que é especialmente importante tratando-se de um concerto a uma quarta-feira. Uma dose destas de “Matéria Negra” é tudo o que é preciso para levar o resto da semana a bom termo.

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