Com uma carreira de mais de 30 anos e cada vez mais perto dos 20 álbuns, os históricos Paradise Lost surgem em 2020 com...

Com uma carreira de mais de 30 anos e cada vez mais perto dos 20 álbuns, os históricos Paradise Lost surgem em 2020 com “Obsidian”, mais um disco que prova o quão influente é esta banda e o quão continua relevante e sem medo. Regressando à década de 1990, as bandas de metal tiveram que se reajustar à realidade dominada pelo grunge e pelo rock alternativo. Tempos difíceis para o metal, que foi comercialmente abalado. Na época, muitos metaleiros simplesmente receavam o que aí viria quando alguma banda estava prestes a lançar um novo trabalho, com Metallica, Slayer e Megadeth a serem os nomes mais visados ao enveredarem pelo mainstream. Ainda assim, a primeira metade dessa década deu-nos o black metal norueguês, o death metal norte-americano e sueco, o death/doom metal inglês. Os Paradise Lost também tiveram que se reinventar, e depois do death/doom metal inicial surgiram com excelentes discos de rock/metal alternativo, como “Draconian Times” (1995) e “One Second” (1997). Actualmente já se sente o oposto: os fãs ficam ansiosos por descobrir o que bandas como esta vão fazer a seguir. O guitarrista Greg Mackintosh mostra-nos o seu ponto de vista: «Acho que o metal se diversificou muito, a começar provavelmente no final dos anos 1980, quando o punk e o metal se começaram a combinar, e depois, ao longo dos anos, pelos 1990s, tivemos nu-metal, rap metal e grunge. Acho que no início dos anos 2000, muitas bandas perderam-se um pouco, talvez por não saberem que direcção tomar. Acho que as pessoas acostumaram-se à diversificação e não se importam, o que é bom. Acho que o único problema no metal é a produção. Acho que muitas produções mainstream são demasiado parecidas. Acho que a experimentação ocorre mais no underground e não no mainstream, o que é estranho. Uso muito o Bandcamp, compro muitos discos por lá, e as bandas independentes, as pequenas do underground, estão a liderar o caminho da diversificação. Sempre fomos uma banda que faz a nossa própria cena – uma vezes funciona, outras vezes não. Acho que não é preciso preocupar-nos muito se vai ser popular ou não, porque não podes decidir isso, o tempo é que decide.»

«As bandas independentes, as pequenas do underground, estão a liderar o caminho da diversificação.»

Greg Mackintosh

Se com “Medusa” (2017), os ingleses regressaram um pouco às suas raízes death metal, agora com “Obsidian” oferecem-nos muito do gothic rock dos 1980s, com temas como “Ghosts”, sem que se perca a agressividade de Paradise Lost durante todo o processo. Cada disco de Paradise Lost é uma nova e diferente experiência, não importando em que fase da carreira estão. O guitarrista conta-nos sobre como chegaram à sonoridade, em parte gótica, de “Obsidian”. «Acho que sempre que os Paradise Lost começam a compor um novo disco, não há uma ideia do que vamos fazer ou o que queremos alcançar, tendo que se ir de música em música, porque tens de estar focado no que estás a compor. Se começares a escrever um álbum e dizes que queres que seja mainstream metal, depois começas a compor e não funciona, tens de fazer algo diferente. Há sempre uma ideia, mas nem sempre corre como planeado, tens de pegar numa música de cada vez. Quando fizemos o “Medusa”, o plano era fazermos um álbum de doom metal, e basicamente é o que ele é. Depois chegámos a este disco e queríamos que fosse mais diversificado, mais ecléctico, mas não sabíamos como o íamos fazer. Foi só à medida que escrevemos cada música que pensámos que algumas podiam ter um estilo mais gótico, outras mais acústicas, ter teclados noutras… Foi à medida que avançámos que começámos a obter uma forma mais ecléctica.»

Acto contínuo, os nineties também foram inseridos em “Obsidian” com um sentido dark metal tão característico de Paradise Lost e Moonspell presente em faixas como “Forsaken” e “Hope Dies Young”. Será que as pessoas vão reconhecer tal abordagem? «Seria bom que gostassem disso», corrobora Greg, «mas não espero que toda a gente conheça as raízes dessas influências. Eu era um adolescente que ia a bares de rock, metal e gótico nos 1980s e lembro-me desses tempos. É por isso que tal coisa é parte da nossa música. Não espero que alguém com 20 anos saiba como era antigamente, mas era bom que apreciassem a música e que depois fizessem a sua pesquisa sobre quais são as influências deste tipo de música. É assim que as pessoas descobrem as coisas, é assim que eu descubro a minha música. Quando me deparei com bandas como Candlemass, não sabia muito sobre Black Sabbath e foi isso que me fez chegar até eles – eu não tinha idade suficiente, o primeiro álbum deles saiu em 1970. Acho que quando alguém ouvir músicas como “Ghosts”, e se gostar, vai questionar quais são as influências e depois há-de ir ao encontro dalgumas dessas bandas góticas seminais dos inícios dos 1980s. Música é isto, descobrir o que nos influencia.»

«Aprendo a toda a hora.»

Greg Mackintosh

Com tanto mundo visto e com tanta música criada e ouvida, momentos de estagnação são uma realidade mesmo para uma banda como Paradise Lost – «acontece isso com toda a gente», consente –, mas estes veteranos sabem como contornar esse obstáculo: «Quando começo a compor um novo álbum, o caminho começa logo na primeira música, para saber aonde vou levar o álbum. Aprendo a toda a hora. Interesso-me em composição, em música, todos os tipos de música, e sou constantemente surpreendido por nova música que ouço. Se tiveres um interesse assim, só podes ser inspirado. Inspiro-me em coisas que têm vários anos, mas também me inspiro em novas bandas, novos músicos e nova música que ouço. Isso deixa-me entusiasmado quanto à música.»

Por fim, e à semelhança do que fizemos quando conversámos com Aaron Stainthorpe (My Dying Bride), perguntámos a Greg Mackintosh de que forma é que, hoje em dia, olha para trás, para o triunvirato inglês do death/doom metal composto por Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema no início da década de 1990. «Acho que foi algo fabricado pelas revistas, porque quando começámos, com os nossos três primeiros lançamentos, My Dying Bride e Anathema ainda nem existiam, ainda nem se tinham formado. My Dying Bride e Anathema formaram-se depois de termos feito o nosso segundo álbum, penso eu. Só lançaram um álbum quando lançámos o nosso terceiro. Nós conhecíamos essas bandas, claro, porque o Aaron Stainthorpe costumava ir aos mesmos bares que nós quando éramos jovens, portanto são velhos amigos, mas não começámos as bandas ao mesmo tempo. E os Anathema, um dos seus primeiros concertos, antes de terem lançado algo, foi em suporte a nós, quando fizemos o nosso terceiro álbum. Foi anos mais tarde, quando as revistas começaram a falar destas bandas, que tomámos conhecimento disto.»

“Obsidian” tem data de lançamento a 15 de Maio de 2020 pela Nuclear Blast.

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