Mackintosh (Paradise Lost): «Acho que as pessoas acostumaram-se à diversificação e não se importam, o que é bom»
Entrevistas 12 de Maio, 2020 Diogo Ferreira

Com uma carreira de mais de 30 anos e cada vez mais perto dos 20 álbuns, os históricos Paradise Lost surgem em 2020 com “Obsidian”, mais um disco que prova o quão influente é esta banda e o quão continua relevante e sem medo. Regressando à década de 1990, as bandas de metal tiveram que se reajustar à realidade dominada pelo grunge e pelo rock alternativo. Tempos difíceis para o metal, que foi comercialmente abalado. Na época, muitos metaleiros simplesmente receavam o que aí viria quando alguma banda estava prestes a lançar um novo trabalho, com Metallica, Slayer e Megadeth a serem os nomes mais visados ao enveredarem pelo mainstream. Ainda assim, a primeira metade dessa década deu-nos o black metal norueguês, o death metal norte-americano e sueco, o death/doom metal inglês. Os Paradise Lost também tiveram que se reinventar, e depois do death/doom metal inicial surgiram com excelentes discos de rock/metal alternativo, como “Draconian Times” (1995) e “One Second” (1997). Actualmente já se sente o oposto: os fãs ficam ansiosos por descobrir o que bandas como esta vão fazer a seguir. O guitarrista Greg Mackintosh mostra-nos o seu ponto de vista: «Acho que o metal se diversificou muito, a começar provavelmente no final dos anos 1980, quando o punk e o metal se começaram a combinar, e depois, ao longo dos anos, pelos 1990s, tivemos nu-metal, rap metal e grunge. Acho que no início dos anos 2000, muitas bandas perderam-se um pouco, talvez por não saberem que direcção tomar. Acho que as pessoas acostumaram-se à diversificação e não se importam, o que é bom. Acho que o único problema no metal é a produção. Acho que muitas produções mainstream são demasiado parecidas. Acho que a experimentação ocorre mais no underground e não no mainstream, o que é estranho. Uso muito o Bandcamp, compro muitos discos por lá, e as bandas independentes, as pequenas do underground, estão a liderar o caminho da diversificação. Sempre fomos uma banda que faz a nossa própria cena – uma vezes funciona, outras vezes não. Acho que não é preciso preocupar-nos muito se vai ser popular ou não, porque não podes decidir isso, o tempo é que decide.»
«As bandas independentes, as pequenas do underground, estão a liderar o caminho da diversificação.»
Greg Mackintosh
Se com “Medusa” (2017), os ingleses regressaram um pouco às suas raízes death metal, agora com “Obsidian” oferecem-nos muito do gothic rock dos 1980s, com temas como “Ghosts”, sem que se perca a agressividade de Paradise Lost durante todo o processo. Cada disco de Paradise Lost é uma nova e diferente experiência, não importando em que fase da carreira estão. O guitarrista conta-nos sobre como chegaram à sonoridade, em parte gótica, de “Obsidian”. «Acho que sempre que os Paradise Lost começam a compor um novo disco, não há uma ideia do que vamos fazer ou o que queremos alcançar, tendo que se ir de música em música, porque tens de estar focado no que estás a compor. Se começares a escrever um álbum e dizes que queres que seja mainstream metal, depois começas a compor e não funciona, tens de fazer algo diferente. Há sempre uma ideia, mas nem sempre corre como planeado, tens de pegar numa música de cada vez. Quando fizemos o “Medusa”, o plano era fazermos um álbum de doom metal, e basicamente é o que ele é. Depois chegámos a este disco e queríamos que fosse mais diversificado, mais ecléctico, mas não sabíamos como o íamos fazer. Foi só à medida que escrevemos cada música que pensámos que algumas podiam ter um estilo mais gótico, outras mais acústicas, ter teclados noutras… Foi à medida que avançámos que começámos a obter uma forma mais ecléctica.»
Acto contínuo, os nineties também foram inseridos em “Obsidian” com um sentido dark metal tão característico de Paradise Lost e Moonspell presente em faixas como “Forsaken” e “Hope Dies Young”. Será que as pessoas vão reconhecer tal abordagem? «Seria bom que gostassem disso», corrobora Greg, «mas não espero que toda a gente conheça as raízes dessas influências. Eu era um adolescente que ia a bares de rock, metal e gótico nos 1980s e lembro-me desses tempos. É por isso que tal coisa é parte da nossa música. Não espero que alguém com 20 anos saiba como era antigamente, mas era bom que apreciassem a música e que depois fizessem a sua pesquisa sobre quais são as influências deste tipo de música. É assim que as pessoas descobrem as coisas, é assim que eu descubro a minha música. Quando me deparei com bandas como Candlemass, não sabia muito sobre Black Sabbath e foi isso que me fez chegar até eles – eu não tinha idade suficiente, o primeiro álbum deles saiu em 1970. Acho que quando alguém ouvir músicas como “Ghosts”, e se gostar, vai questionar quais são as influências e depois há-de ir ao encontro dalgumas dessas bandas góticas seminais dos inícios dos 1980s. Música é isto, descobrir o que nos influencia.»
«Aprendo a toda a hora.»
Greg Mackintosh
Com tanto mundo visto e com tanta música criada e ouvida, momentos de estagnação são uma realidade mesmo para uma banda como Paradise Lost – «acontece isso com toda a gente», consente –, mas estes veteranos sabem como contornar esse obstáculo: «Quando começo a compor um novo álbum, o caminho começa logo na primeira música, para saber aonde vou levar o álbum. Aprendo a toda a hora. Interesso-me em composição, em música, todos os tipos de música, e sou constantemente surpreendido por nova música que ouço. Se tiveres um interesse assim, só podes ser inspirado. Inspiro-me em coisas que têm vários anos, mas também me inspiro em novas bandas, novos músicos e nova música que ouço. Isso deixa-me entusiasmado quanto à música.»
Por fim, e à semelhança do que fizemos quando conversámos com Aaron Stainthorpe (My Dying Bride), perguntámos a Greg Mackintosh de que forma é que, hoje em dia, olha para trás, para o triunvirato inglês do death/doom metal composto por Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema no início da década de 1990. «Acho que foi algo fabricado pelas revistas, porque quando começámos, com os nossos três primeiros lançamentos, My Dying Bride e Anathema ainda nem existiam, ainda nem se tinham formado. My Dying Bride e Anathema formaram-se depois de termos feito o nosso segundo álbum, penso eu. Só lançaram um álbum quando lançámos o nosso terceiro. Nós conhecíamos essas bandas, claro, porque o Aaron Stainthorpe costumava ir aos mesmos bares que nós quando éramos jovens, portanto são velhos amigos, mas não começámos as bandas ao mesmo tempo. E os Anathema, um dos seus primeiros concertos, antes de terem lançado algo, foi em suporte a nós, quando fizemos o nosso terceiro álbum. Foi anos mais tarde, quando as revistas começaram a falar destas bandas, que tomámos conhecimento disto.»
“Obsidian” tem data de lançamento a 15 de Maio de 2020 pela Nuclear Blast.

Metal Hammer Portugal
Rope Sect “The Great Flood”
Reviews Ago 12, 2020
SVNTH “Spring in Blue”
Reviews Ago 11, 2020
The Vice “White Teeth Rebellion”
Reviews Ago 10, 2020
Mercury Circle “The Dawn of Vitriol” EP
Reviews Ago 10, 2020
Athanasia: na ponta do obelisco
Subsolo Ago 12, 2020
Till Die: sem tempo para tretas
Subsolo Ago 10, 2020
Indirect Euthanasia: evolução depressiva
Subsolo Ago 10, 2020
Neon Angel: na cidade dos néons
Subsolo Jul 23, 2020