Oldblood “Arms to the Sky”
Reviews 1 de Dezembro, 2020 Fábio Miloch
Editora: Blood Blast Distribution
Data de lançamento: 04.12.2020
Género: sludge metal
Nota: 4/5
Sonoridade devastadora e relevante, lamuriosa e mesmo excruciante.
“Arms to the Sky” é a primeira página discográfica de Oldblood, colectivo londrino cujo vocabulário musical é um híbrido entre doom, black e post-metal, com inclinações óbvias ao black e punk, e lacunas que são preenchidas pelas linhas tortas do stoner e as sujas e opulentas do sludge metal. Ou seja, temos um peso absurdo – uma aura quase primitiva, mas também um negrume e acidez que fazem do trabalho algo único, com uma produção satisfatória e composições repletas de ambientações e qualidades distintivas que vão evoluindo e tomando formas no seu percurso. Créditos à banda por ter conseguido abstrair-se de experimentações duvidosas e das artificialidades que infestam a música extrema nestes tempos de criatividade líquida.
O registo é formado por quatro composições que exibem um instrumental sólido e conciso, sustentado por riffs azedos que acentuam as tensões e os dramas que existem na sua narrativa. Os vocais também desenvolvem um papel de destaque, pois geram o dramatismo necessário e ilustram o desespero dos personagens, visto que a temática abordada pela banda é a guerra, precisamente um dos capítulos mais negros e hediondos da história: o fatídico dia 6 de agosto de 1945, data escolhida pelo exército americano para lançar o artefacto atómico “Little Boy” sobre a cidade de Hiroshima, Japão. Tal acto foi responsável por ceifar milhares de vidas de imediato e selou o destino de outras tantas pelas sequelas deixadas devido à exposição prolongada a radiação e outros traumas diversos.
Joey Williams e Tom Pratt (guitarras e vozes), Lee Barter (baixo) e Brendan Coles (bateria) lançam as suas leituras sonoras sobre esta data, sobre a futilidade da mesma e sobre a necessidade ou não de tal acto, sobre o sofrimento infringido aos inocentes e a dizimação de maneira impensada causada por ele.
“Kuebiko”, a primeira faixa, aborda justamente tais questões com riffs e enlaces melódicos angustiantes e perturbadores, construindo-se o cenário ideal, muito embora doentio, que será explorado pelas demais músicas. A faixa seguinte, “Nuclear Blues”, inclina-se ao blues, como oferece o próprio título, e ao stoner, funcionando como se fosse uma versão enegrecida desses géneros. A composição vai crescendo, tomando forma e instalando peso até culminar numa agressiva apoteose nos seus derradeiros minutos.
Na sequência temos a narrativa da criação da bomba na pseudo-atmosférica, mas não menos desoladora, “Los Alamos”. Assim como a antecessora, esta faixa também vai evoluindo e dotando-se de robustez e caos até atingir o seu próprio ápice. Essas jornadas instrumentais e os rompantes de agressividade e lisergia muito relembram as fórmulas utilizadas tão sabiamente pelos Cult of Luna e outros similares, e tornam a composição citada num dos melhores momentos do registo, justamente por distanciar-se da estrutura das demais.
O derradeiro parágrafo do EP é “Alone”, uma tela monocromática repleta de devastação, ruínas da vida e sonhos que jazem no solo como escombros. O fim visto pelos olhos daqueles que, sem mais opções, sobreviveram. É nessa tela que encontramos a personagem She a questionar-se sobre o seu presente e futuro, como prosseguir e como viver quando tudo o que se tinha por vida está agora morto.
Por ser um trabalho inaugural, falhas seriam previstas e até toleráveis, mas esse não é o caso de “Arms to the Sky”, cuja sonoridade é arquitectonicamente devastadora e relevante, lamuriosa e mesmo excruciante em diversos momentos, sendo que único aquém está na similaridade das construções, tanto dos riffs como das bases, evoluções e vocais, mas nada que ofusque drasticamente a qualidade do material ou a personalidade criativa da banda que muito tem ainda para oferecer. Que venha um registo pleno o quanto antes.

Metal Hammer Portugal

Asphyx “Necroceros”
Reviews Jan 20, 2021
Therion “Leviathan”
Reviews Jan 20, 2021
Nervosa “Perpetual Chaos”
Reviews Jan 19, 2021
Wardruna “Kvitravn”
Reviews Jan 19, 2021
Vermocracy: reino dos vermes
Subsolo Jan 18, 2021
Lyonen: octanas de energia
Subsolo Jan 14, 2021
Chris Maragoth: âmago em pedaços
Subsolo Jan 14, 2021
Hurricane On Saturn: lutar e sobreviver
Subsolo Jan 14, 2021