“Arcanum” é pura matéria negra, insólita e desesperadora.

Editora: Ván Records
Data de lançamento: 09.04.2021
Género: black metal
Nota: 3/5

“Arcanum” é pura matéria negra, insólita e desesperadora.

Não esperem por belos adornos, tão pouco experiências ou modernices duvidosas saídas do ventre plástico da contemporaneidade, pois tudo que a nova malha sonora dos Niht oferece é rispidez, urgência e negrume. Os pouco mais de 30 minutos do novo lançamento são integralmente dedicados ao culto das artes negras, nas suas formas mais odiosas e primais, saliente-se. Assim, não há lacunas para suspiros ou suavizações – o caos reina absoluto, monocromático, em fúria e fundamento.

Rompendo-se em sete faixas que obedecem ao trinómio velocidade, intensidade e ferocidade, o disco abre-se sem muitos mistérios e distancia-se do modus operandi quase robótico, tão praticado actualmente. Sustenta-se no básico, tanto no seu corpo sonoro (constituído por riffs ásperos e gélidos, baixo actuante, bateria objectiva e vocais que ora são raivosos, ora angustiantes) como na sua produção, que é satisfatória aos ataques que são sistematicamente projectados.

Num trabalho cuja embalagem não vende a qualidade do seu interior, cabe aos temas trazerem para si as atenções e os predicados justos (caso tenham), fugindo assim do destino de ser apenas mais um lançamento entre tantos que já aconteceram e acontecerão. Sem avisos, “Arcanum” destila toda a sua ira logo nos primeiros temas “Angst”, “Schmerz” e “Lüge”, uma tríade bruta de boas-vindas em que se escutam ecos de Aaskereia, Nyktalgia e Sterbend. “Sucht” e “Hass” não hasteiam bandeiras brancas, embora possuam certa dose miúda de melodia e períodos curtos de morosidade.

Os dois momentos de maior esmero musical estão reservados para o fim do artecfato: “Wahn”, com a sua introdução arrastada e hipnótica que pouco dura pois logo se converte numa forma embrionária de black Metal, e “Tod”, que vai de um acolhimento acústico assustador a segmentos raivosos e alucinados – mais adiante, o tema muda o seu andamento, optando pela cadência, podendo assim criar e explorar sessões melódicas e atmosféricas, mas, claro, sem se ausentar do seu enredo principal, que se mantém obscuro e torturante.

“Arcanum” é pura matéria negra, insólita e desesperadora. E como dito acima, sem coberturas ou recheios caprichosos. Um álbum que certamente agradará os fãs da velha-escola, leia-se a essência dos 90s, e insultará os tão polidos servos do contemporâneo.

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