Motörhead “Ace Of Spades”: se gostas de jogar, eu sou o teu homem
Artigos 8 de Novembro, 2020 Diogo Ferreira
Criados em 1975 pelo incontornável Ian ‘Lemmy’ Kilmister, oriundo dos psicadélicos Hawkwind, os Motörhead lançaram quatro álbuns entre 1977-1979, com “Overkill” e “Bomber” a serem bons êxitos no Reino Unido. Considerados até então como uma banda de rock n’ roll, os londrinos passariam a ingressar as fileiras da NWOBHM com “Aces Of Spades”, lançado em Novembro de 1980.
Mais do que contar a história da banda ou mesmo do álbum, vale a pena focarmo-nos no hino que dá título ao disco. Com uma entrada que se reconhece a milhas, “Ace Of Spades” é heavy metal fundido com blues e, havendo toda uma toada punk, pode classificar-se também como proto-thrash.
Enfiados no Rockfield Studios com vodka e tudo o que lhes era de direito, o guitarrista ‘Fast’ Eddie Clarke (1950-2018) recordou que Lemmy não estava muito inclinado para ensaios, mas isso não o demoveu, nem ao baterista ‘Philthy Animal’ Taylor, de continuar a trabalhar. O produtor Vic Maile deu o último empurrão e o trio começou a olhar para aqueles riffs de outra forma. Em boa hora o fizeram porque, depois de uma primeira roupagem, o single foi um êxito, inicialmente quando editado num vinil de 7” em Outubro de 1980 e depois em Novembro, quando saiu o álbum, alcançando a posição n.º 15 nas tabelas britânicas. Mais, o LP chegaria mesmo à quarta posição no Reino Unido.
Tema definido pelo riff fracturante e por um breakdown histórico, a última peça do puzzle tem a ver com as letras de Lemmy. Diz-se que as escreveu no banco traseiro de uma carrinha Transit enquanto esta comia o asfalto a 140km/h. Clarke não achou esta história nada estranha, dizendo: «Ele pode tê-la escrito na retrete, pelo que sei. Ele costumava fazer isso. Nós dizíamos: ‘Pá, precisamos da merda dumas letras para isto.’ Então, ele costumava ir cagar e escrevia as letras. Mas se ele disse que as escreveu numa carrinha Transit, então tens de acreditar nele.»
Depois desta entrada no movimento da NWOBHM, os Motörhead seriam mais tarde, mas não muito, considerados deuses do rock, concretamente o icónico frontman que ostentava duas enormes verrugas na bochecha esquerda – e com isso, todas as imoderações que a fama pode acarretar. Lançando discos até 2015, com “Bad Magic” a ser o último, na sua autobiografia “White Line Fever” (2002), Lemmy escreveu sobre o êxito: «Para ser honesto, embora “Ace Of Spades” seja uma boa canção, já estou enjoado dela. Duas décadas depois, sempre que as pessoas pensam em Motörhead, pensam em “Ace Of Spades”. Não fomos fossilizados depois desse disco (…). Tivemos alguns bons lançamentos desde então. Mas os fãs querem ouvi-la, por isso tocamo-la todas as noites. Por mim, já me fartei dessa música.»
Assim como se diz de Ozzy Osbourne, também Lemmy estaria para morrer há muitos anos, mas teimou em manter-se neste mundo, com música e excessos. Em Dezembro de 2000, uma digressão foi cancelada quando o vocalista/baixista foi hospitalizado em Itália com gripe, exaustão e infecção pulmonar. Em Julho de 2005, ocorreu uma situação semelhante na Alemanha e em 2013 mais uma tour fora cancelada. Fumar desde os 11 anos de idade e consumir álcool e outras drogas em grandes quantidades roubou-lhe anos de vida, uma corrida intensa e, discutivelmente, sem igual que cortou a meta a 28 de Dezembro de 2015. Apenas alguns dias depois de completar 70 anos e pouco mais de um mês após a morte de ‘Philthy Animal’ Taylor (1954-2015), Lemmy morreu em Los Angeles, vítima de cancro na próstata, arritmia cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva.
Com Lemmy terminou também Motörhead, conforme partilhado no Facebook: «Não há uma maneira fácil de dizer isto… o nosso poderoso e nobre amigo Lemmy faleceu hoje depois de uma curta batalha contra um cancro extremamente agressivo. (…) Não conseguimos começar a expressar o nosso choque e tristeza, não há palavras. (…) Toquem Motörhead alto, toquem Hawkwind alto, toquem a música de Lemmy ALTO. Bebam uma ou algumas. Partilhem histórias. Celebrem a VIDA que este homem amoroso e maravilhoso celebrou tão vibrantemente. ELE QUERERIA EXACTAMENTE ISSO. Ian ‘Lemmy’ Kilmister. 1945-2015. Nasceu para perder, viveu para vencer.»

Metal Hammer Portugal

The Smashing Pumpkins “CYR”
Reviews Nov 26, 2020
Hatebreed “Weight of the False Self”
Reviews Nov 26, 2020
Scour “Black” EP
Reviews Nov 25, 2020
Sodom “Genesis XIX”
Reviews Nov 23, 2020
DevilsBridge: em frente, sem descanso
Subsolo Nov 27, 2020
kRATER_BG: passado no futuro
Subsolo Nov 27, 2020
Ingrina: pesadelos civilizacionais
Subsolo Nov 26, 2020
Varde: visões nas florestas do norte
Subsolo Nov 25, 2020