Korn: o nascimento de uma lenda
Artigos 11 de Outubro, 2019 Joel Costa


Numa altura em que os críticos musicais ocupavam-se a redigir os obituários de Kurt Cobain, os Korn entravam em estúdio para gravar o seu álbum de estreia homónimo, e da mesma forma que o grunge dos Nirvana havia sentenciado à morte o hair metal da década de 80 do século passado, também os Korn se preparavam para destronar o som de Seattle.
Com Jonathan Davis gritando-nos um “Are you ready?” como que antecipando o que aí viria, o primeiro álbum dos Korn marcou o início de uma revolução musical que iria prosperar até à entrada do novo milénio, e enquanto algumas bandas sucumbiram terminado que estava o efeito do fenómeno nu-metal, outras como os Korn conseguiram a proeza de se manterem no topo, de forma revigorada e re-imaginada, sem que perdessem impacto no processo.
Equipado com uma atmosfera negra e hipnótica perfeitamente palpável em temas como “Need To”, “Lies” e “Daddy”, o álbum de estreia dos norte-americanos apresentou-se com uma sonoridade híbrida que reunia o groove de uns Pantera, a raiva de uns Rage Against the Machine e a atitude do movimento hip-hop perpetrado na Costa Oeste dos Estados Unidos (ouça-se a batida em “Ball Tongue”), oferecendo desta forma algo distinto e inovador, e permitindo à cena metal um aumento de vocabulário num dicionário já de si rico.
“Blind”, tema de abertura, é o derradeiro clássico dos Korn. “Ball Tongue” introduz o scatting que se tornaria na imagem de marca de Jonathan Davis. “Need To”, “Clown”, “Faget” e “Fake” seriam os primeiros temas a permitir a abertura de um canal de comunicação directo com os fãs, com Jonathan Davis a exprimir as suas angústias e a descarregar nos bullies que tornaram miserável a sua infância e adolescência. “Divine” mostrava-nos uns Korn multifacetados, que com o apoio de Robert Trujillo (Metallica) na produção, tornar-se-ia num dos temas mais sórdidos do colectivo de Bakersfield. “Shoots and Ladders” assume-se quase como uma história de terror, com as gaitas-de-foles a reproduzir o impacto que a harmónica de Ozzy Osbourne teria nos Black Sabbath, enquanto arranhavam canções infantis acompanhadas de riffs atonais. “Predictable” e “Lies” são uma lição de como construir temas pesados a meia velocidade, e “Helmet in the Bush” é um vislumbre das influências electrónicas que iriam manter-se vivas em álbuns futuros.
Em 1994 a cena metal mudaria para sempre e a raiva daquele “Are you ready?” continua a fazer tanto sentido nos dias de hoje como fez na altura.

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