Hell Over Europe III: Baest + Aborted + Entombed A.D. (08/11/2019 – Lisboa)
Concertos 13 de Novembro, 2019 João Correia

Após as sólidas prestações há alguns meses dos Aborted e dos Entombed A.D. no Vagos Metal Fest e no Laurus Nobilis Music, respectivamente, as duas bandas uniram esforços com o apoio da banda de suporte Baest para trazerem o inferno a Lisboa no início de Novembro. Se é verdade que ambas tocaram em Portugal com um intervalo de apenas alguns meses, é inegável que, em digressão em nome próprio, ambas poderiam oferecer algo mais do que nos concertos anteriores. Fizeram-no e não defraudaram a sala esgotada para os receber, prova inequívoca de que a qualidade tem sempre público.
Embora os dois nomes maiores tenham chamado mais público, a Metal Hammer Portugal estava com bastante curiosidade para presenciar a estreia dos dinamarqueses Baest em solo luso. Portadores e novos embaixadores do death metal da velha-guarda com o espírito de 2019, os Baest revelaram quem realmente são com “Venenum”, o seu último registo (que conta com menos de dois meses de vida) e que foi mais um motivo que nos levou a assistir atentamente à prestação da banda ao vivo. Ainda que novatos, os Baest apresentam-se em palco como se andassem nisto há décadas, tal é o à-vontade com que se dirigem ao público. Em termos sonoros, vão buscar o melhor que os Death, os Morbid Angel e os Bolt Thrower nos ofereceram nos anos 90 – o que é que poderia correr mal? À frente do palco, quatro headbangers abanavam a cabeça violentamente, a sua forma de agradecerem à banda o concerto que estavam a proporcionar. Som bastante claro, temas fortes como “As Above So Below” e “Gula”, Svencho (voz, Aborted) como convidado especial num dos temas e o factor novidade fizeram com que o concerto dos dinamarqueses ficasse gravado na memória do público.
Após, vieram os belgas Aborted, ainda na longa ronda de promoção de “Terrorvision”, nitidamente o melhor disco da banda desde “Global Flatline”. Inspirado por “O Inferno”, de Dante Alighieri, “Terrorvision” contém apontamentos atípicos no som de marca dos Aborted, tais como momentos sinfónicos, mas ao fim de 25 anos de estrada o que mais impressiona é o facto de os Aborted parirem o disco mais técnico de toda a sua carreira: das estruturas aos solos das renovadas guitarras, passando pela railgun que é a bateria de Kene Bedene, “Terrorvision” é um festim de inspiração e grotesqueria raro até para o colectivo. Lamentavelmente, em palco não correu tudo bem. As guitarras estavam demasiado baixas em contraste com a bateria, o que fez perder alguns dos momentos altos de determinadas músicas. O público pareceu não estar muito importado e compareceu em peso ao chamamento dos belgas, apoiando, interagindo verbalmente com Svencho e gerando circle pits e slam. Logicamente, basearam a prestação em “Terrorvision”, revisitando temas clássicos de “The Necrotic Manifesto” e “Retrogore”. Em termos cénicos, a banda apostou em paralelepípedos com props de cadáveres dentro, o que nos levou a pensar que ficariam a matar com pessoas dentro deles e a contorcerem-se, como se estivessem no Inferno. Ainda que com algumas dificuldades técnicas, foi uma exibição potente e ausente de momentos mortos, para o qual contribuiu a voz convidada de Simon (Baest) em “A Whore d’Oeuvre Macabre”. Sentimos que foi uma prestação tremenda e uns furos acima da do Vagos Metal Fest 2019.
Quando os reis do death metal sueco subiram ao palco, o RCA já contava com lotação esgotada. Luís Salgado, organizador do evento pela mão da Amazing Events, indicou-nos durante o soundcheck que as previsões apontavam para uma casa quase cheia; expectativas superadas, com gente a ficar à porta por a mesma não conseguir acomodar mais ninguém. Andávamos com saudades dos Entombed A.D., mesmo tendo-os entrevistado há tão pouco tempo, e o público também, visto que, aos primeiros sons das motosserras de Estocolmo em “Elimination”, instalou-se o caos no RCA: vagas de crowdsurfing, slam, público a partilhar bebidas com L-G Petrov, interacção verbal e física, enfim, gente que sabia ao que ia. O som esteve perfeito e a banda tocou temas como “Torment Remains” e “Bowels Of Earth” do mais recente registo, “Bowels Of Earth”, para satisfação da audiência. No entanto, foi quando passaram a revisitar os clássicos que os Entombed A.D. realmente brilharam: “Chaos Breed”, “Stranger Aeons”, “Revel In Flesh” e “Wolverine Blues” (uma vez mais com a participação de Simon ao microfone) são sempre os momentos mais altos da noite – trazem saudade ao público mais rodado e um pouco da mística vivida nos anos 90 ao mais novo, que nunca teve oportunidade de ver os suecos Entombed no seu auge. Embora carreguem aos ombros um nome difícil de superar, igualam-no com o mesmo purismo com que nos habituaram em tempos idos. L-G Petrov não parou, sempre sorridente, sempre muito peculiar, muito “L-G Petrov”, e notou-se que a vida do homem é isto e isto apenas. Guilherme Miranda (guitarra) é um dos falantes de português dos Entombed A.D. e comunicou com os presentes na nossa língua, o que cria sempre momentos de intimidade. Os dois grandes momentos da noite (como não poderia deixar de ser) foram “Left Hand Path”, o tema por excelência dos suecos que ainda tiveram tempo para interpretar “Serpent Speech” e o não menos clássico “Supposed To Rot”.

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