“Detritus of the Final Age” é um álbum com uma grande pastilha, feito de thrash & heavy desenferrujados, com bom groove, uma mão cheia...

Editora: Metal Blade
Data de lançamento: 13.11.2020
Género: thrash metal
Nota: 4.5/5

“Detritus of the Final Age” é um álbum com uma grande pastilha, feito de thrash & heavy desenferrujados, com bom groove, uma mão cheia de ganchos melódicos e sem pontos-mortos.

O estado a que isto chegou está a levar o mundo inteiro ao desespero, a um passo da revolta. Através de gerações, a música extrema em geral e em particular o thrash metal, como bom afilhado do punk, sempre souberam canalizar essa mensagem de frustração e protesto pela música. A actual revitalização e o novo interesse pelo thrash é prova disso. Para Andrew Hudson, dos australianos Harlott, o novo “Detritus of the Final Age” é um título adaptado ao momento presente na sequência dos anteriores ”Origin” (2013), “Proliferation” (2015) e “Extinction” (2017). Segundo o fundador do projecto, «vivemos nos dias que sobram, vivemos dos restos da raça humana e recusamo-nos a aceitar o fim, a extinção da Humanidade da qual somos os únicos responsáveis». E ainda acrescenta: «É muito difícil encontrar palavras com a mesma carga de agressividade, por que nos exprimimos através da música, capazes de traduzir toda a raiva que sentimos contra esta sociedade que promove a guerra e o ódio, a religião, a ganância e o mal.»

Andrew Hudson, que é o vocalista, guitarrista, letrista e compositor, assume o thrash metal desde a partida até à casa de chegada, mas acusa a interferência de outras fontes no novo registo, e aponta “Detritus of the Final Age” como o álbum mais dinâmico da carreira dos Harlott. Dois dos temas que atestam pela inovação na sonoridade do projecto, e se destacam do restante alinhamento, são “Nemesis” e, sobretudo os inesperados nove minutos num disco de thrash, “Miserere of the Dead”, ainda que os novos componentes sejam integrados com toda a subtileza e engenho nas composições. A renovação da sonoridade do grupo deve-se sobretudo à entrada de Glen Trayhem (bateria) e Leigh Bartley (guitarra), que se vieram juntar a Andrew e ao baixista Tom Richards. As ideias do novo guitarrista e o pulso forte e certeiro do baterista são a lufada de ar fresco que veio dar novo fôlego e agressividade à banda. “Prime Evil”, no miolo do álbum, conta também com os solos de um convidado muito especial – Brian Hopp (Cephalic Carnage).

A tal dinâmica e a alquimia da formação dão sinal logo após o tic-tac e o som do despertador na abertura de “As We Breach” à cabeça do alinhamento, tal como a influência thrasher de costela americana. “Idol Minded”, que se segue, é curto e incisivo – dois minutos de ritmos e riffs metralhados num retrato do género em moldura old-school. Apenas “Slaughter”, na sétima posição, partilha o mesmo feeling. “Bring on the War”, o terceiro tema, concentra todos os adjectivos que melhor definem o álbum: enérgico, atlético, groovy e robusto. É a tal grande malha com cara de single que reflecte o som coeso de “Detritus of the Final Age”, com riffs monstruosos e um refrão daqueles que entra na cabeça para ficar.

Se até aqui já nos surpreende toda esta adrenalina, toda esta garra e honestidade, dificilmente o álbum poderá vir a desiludir. Muito pelo contrário. “Nemesis”, o tema que abre a segunda parte do alinhamento, torna a surpreender, sendo portentoso, distinto e épico, com honras de monumento. “Grief”, mais lento e negro em sintonia com a temática intrínseca, e sobretudo o enorme “Miserere of the Dead”, que inclui momentos acústicos com passagens pelo death metal por entre variações rítmicas muito gratificantes, são dois dos temas que melhor ilustram o novo ecletismo do som dos Harlott. A finalizar temos uma versão ultra-rápida de “The Time to Kill Is Now”, dos Cannibal Corpse, num regresso às origens punk-thrash.

“Detritus of the Final Age” é um álbum com uma grande pastilha, feito de thrash & heavy desenferrujados, com bom groove, uma mão cheia de ganchos melódicos e sem pontos-mortos. A produção foi poupadinha e deixou grão e sujidade q.b. para que a rudeza e agressividade da mensagem pudessem transparecer. Mas não nos vamos poupar nos elogios ao vozeirão sempre no limite e à energia inesgotável do líder dos Harlott – Mr. Andrew Hudson!

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