N. Miranda (Gruesome Records): «Foi um clique do momento enquanto olhava para a televisão durante mais um dia de confinamento»
Entrevistas 14 de Janeiro, 2021 Diogo Ferreira


Primeiro a gatinhar numa sala-de-estar, depois a dar os primeiros passos de bebé em Junho de 2020, a Gruesome Records nem foi à pré-escola e já quer correr pelo recreio ao lado dos matulões. Com menos de um ano de existência, a editora pensada e fundada por Nuno Miranda ganhou um carinho praticamente imediato no underground português e, mesmo com a crise sanitária e económica, o objectivo passa por não parar.
Empreendedor e com uma atitude que transparece leveza e positivismo, Nuno Miranda conta-nos como criou a Gruesome Records e o que tem na manga para 2021.
«Tenho de sentir que aquela banda e aquele lançamento em particular casa perfeitamente com a visão e filosofia da editora.»
Nuno Miranda
O que te levou a fundar a
Gruesome Records e como foram as primeiras apalpadelas para que fosse
uma realidade?
A Gruesome Records foi uma ideia que surgiu
durante o confinamento e, oficialmente, arrancou a dia 1 de Junho do
ano passado. Foi algo que me ocorreu inesperadamente e sem alguma vez
ter pensado sequer sobre isso, foi um clique do momento enquanto
olhava para a televisão durante mais um dia de
confinamento.
Lembro-me de ter tido esse clique e mandado mensagem
ao Paulo Rui (Redemptus, Besta) para partilhar isso com ele. Na
verdade, a intenção era abrir uma loja de música e não uma
editora, e, após uma troca de ideias com ele e com o Guilherme (OAK,
Gaerea), decidi avançar com o projecto. Penso e acredito que se o
feedback de ambos não tivesse sido tão positivo, não teria levado
isto para a frente.
O próximo passo foi tentar, na verdade,
entender como as coisas funcionavam. Eu sou apenas um fã de música
sem entender muito bem da indústria em si e como tal precisava de
encontrar a pessoa ideal para estar ao meu lado na editora. A escolha
era fácil e estava ali no meu dia-a-dia. É aí que entra o Álvaro
(Pitch Black, Dementia 13), que, para além de ser um amigo de longa
data, é alguém que admiro como pessoa e músico. Era mais do que
óbvio para mim que seria sem dúvida a pessoa ideal para lançar a
Gruesome Records em conjunto.
Quando apresentámos oficialmente a
editora no dia 27 de Agosto, já tínhamos basicamente tudo
programado até ao final do ano. Estavam já agendados os lançamentos
de Basalto, para a reedição do “Doença” a 16 de Outubro, o EP
de estreia de Boulder a 20 de Novembro e o “Hateworlds” de
Colosso para 15 de Janeiro. Sendo que, entretanto, fechámos com os
suecos Iron Pike a edição de uma compilação com toda a
discografia da banda e um tema bónus, que vai estar disponível no
dia 26 de Fevereiro deste ano.
A pandemia rebentou com
uma indústria em que se inclui bandas, editoras, imprensa,
promotoras e técnicos. Sentiste impacto negativo na Gruesome Records
ou ainda não tem um peso muito forte na tua vida pessoal para
sofreres com o vírus na parte da editora?
Sinceramente, não
sentimos muito. A editora é demasiado recente para ter sentido um
impacto tão negativo assim e não vivo dela ou do que ela me dá.
Não vou dizer que com concertos as bandas não tivessem mais espaço
para promover os trabalhos e não se vendesse mais, mas, contudo, não
nos podemos queixar.
Pelas tuas redes sociais, ficamos a saber que és um ávido coleccionador. Quão importante é para ti não só fazer uma colecção mas também ser um meio de distribuição? Mais: com a ascensão do digital – até já há editoras que só lançam digitalmente –, quão importante é um objecto físico como um CD, um vinil ou uma cassete?
Eu gosto de coleccionar música física e acho que o irei fazer sempre, desde que me seja possível. Pegar no álbum, abrir o celofane, colocar o CD a tocar no leitor ou até mesmo a agulha no vinil ou apenas ler as letras enquanto estás a ouvir a música, enquanto aprecias o artwork. Nada disto tens no digital.
Com a editora juntei, na verdade, o útil ao agradável. Conjuguei a minha dedicação à música com a possibilidade de trabalhar com músicos que admiro e poder também fazer algo mais pelo nosso panorama musical. Vamos sempre apostar e dar prioridade ao formato físico, mas não nos vamos esquecer, como é óbvio, do digital. Temos todos os lançamentos disponíveis no Bandcamp da editora para quem optar por esse formato ou mesmo nas lojas oficiais do Bandcamp das próprias bandas. No nosso canal de YouTube encontram, igualmente, alguns temas em stream para ouvirem.
O ano de 2021 começa
para a Gruesome Records com, por exemplo, o novo álbum de Colosso.
Sabemos que o projeto de Max Tomé tem Dirk Verbeuren (Megadeth) como
baterista. Consideras que isso é bom currículo para a editora e que
está ali um bocadinho de ti ou deixas essa parte dos louros apenas
para Colosso?
Eu já era e sou fã de Colosso muito antes da
editora existir. Aliás, conheço o Max há anos e tenho tudo da
banda no que toca a lançamentos. Obviamente que quando surgiu a
oportunidade de lançar o “Hateworlds” fiquei bastante contente
por poder trabalhar com mais uma pessoa, que muito admiro como
artista, que confia no trabalho que estávamos a desenvolver na
Gruesome Records. Colosso é uma banda que tem um grande
reconhecimento a nível nacional e internacional e também acabaria
por ajudar a editora neste arranque. Mas tudo vem do trabalho e da
luta do Max durante todos estes anos de banda, por isso os louros vão
todos para ele.
Para quem ainda não conhece a Gruesome Records, que subgéneros do metal serão mais lançados e porquê?
Habitualmente, grande parte das editoras mais underground trabalham apenas um ou dois subgéneros no máximo. Isso não é negativo, é uma tendência normal e inteligente. No caso da Gruesome, sou fã de vários subgéneros, mas tenho as minhas preferências musicais e é pelo amor à música que comecei esta aventura. Como tal, focamo-nos em alguns subgéneros mas também sem nos prendermos a apenas uma ou duas sonoridades. Apesar de na comunicação pública da editora não gostarmos de mencionar o tipo de sons com o qual trabalhamos, podemos afirmar que andará à volta do doom, stoner, death metal, sludge e por aí fora. No entanto, não fechamos portas a outras sonoridades como o black ou o thrash metal. Independentemente disso, se não gostar também não vou editar. Seja o tipo de som que mais ouço ou não, tenho que reconhecer qualidade e tem de se enquadrar no imaginário da editora. Tenho de sentir que aquela banda e aquele lançamento em particular casa perfeitamente com a visão e filosofia da editora. Mas, acima de tudo, tem de ser um trabalho de qualidade.
Quais são os planos editoriais para 2021?
Para o arranque de 2021 já temos, como sabem, o novo álbum de Colosso e a compilação dos suecos Iron Pike. Ou seja, Janeiro e Fevereiro, respectivamente.
Aquilo que para já posso adiantar, e ainda sem poder citar nomes, é que 2021 vai ser forte em termos de lançamentos da Gruesome Records. Temos o calendário praticamente completo até Setembro. Estamos a finalizar detalhes para excelentes novos trabalhos com bandas nacionais, tal como outros com internacionais. Recebemos imensas propostas e contactos de bandas. Umas vezes são trabalhos que não se adequam ao que a editora procura, outras vezes são propostas que não conjugam com o nosso já fechado plano de lançamentos e outras que são autênticas surpresas e acabamos por trabalhar em conjunto e ajudamos a materializar esses projectos. Em média, desde que a editora arrancou, temos recebido três ou quatro propostas por semana, de todos os cantos do mundo, fora o que vamos ouvindo e conhecendo porque estamos sempre à procura de novos lançamentos e bandas que valham a pena. No campo da qualidade, seja em que parte do mundo for, não falta boa música. É preciso é procurar e trabalhar. Posso também adiantar que vamos ter algumas edições pela primeira vez em cassete.
Encontra a Gruesome Records no Facebook aqui.
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