Foi de 7 a 19 de Maio que os portugueses Gaerea andaram por terras chinesas. Maioritariamente como headliners, mas também partilhando palco com Eluveitie,...
Gaerea na China. (Foto: cortesia da banda)

Foi de 7 a 19 de Maio que os portugueses Gaerea andaram por terras chinesas. Maioritariamente como headliners, mas também partilhando palco com Eluveitie, Sigh ou Laster, um dos membros anonimados conta como tal experiência ganhou forma: «Apesar de apenas termos anunciado a tour a escassos dias de começar, já era algo que estava marcado há quase um ano! Depois de ouvir o “Unsettling Whispers” algures na Internet, o próprio dono da agência entrou em contacto connosco para nos perguntar se estaríamos interessados em fazer uma série de concertos no seu país. Havia apenas uma resposta possível, obviamente. Foi até hoje a maior e mais gratificante tour que fizemos.» A digressão começou em Shenzen e cruzou-se com a última data de Eluveitie naquele país, sendo para Gaerea «um pacote interessante e sem dúvida uma das melhores noites de toda a passagem pela China».

Sobre o que levaram de si e de Portugal para o Oriente, mas também o que podem ter trazido individual e colectivamente, o músico elabora: «Não sei ao certo o que poderemos ter lá deixado como marca. Sabemos que todos os concertos foram muito mais intensos e expressivos do que alguma vez demos, isso é certo. Foi algo que reparámos ao longo da tour e, simplesmente, deixámo-nos levar. Toda esta experiência fez-nos crescer, não só como grupo mas como indivíduos. Todos tivemos bastante tempo para reflectir, absorver e aprender a cultura que nos rodeou por mais de vinte dias. Não somos certamente a mesma banda que embarcou em direcção ao outro lado do mundo, o que faz com que já tenha valido a pena. Não te adianta fazeres muitos concertos por todo o mundo se não conseguires parar para respirar e olhar à volta. Se no final de tudo, quando regressares a casa, não te sentires preenchido emocionalmente, não valeu a pena estares tão longe de toda a tua vida pessoal. Aparte disso, estar mergulhado numa das imensas ruas de uma metrópole chinesa é como abraçar tudo aquilo que escrevemos no último álbum. Como se alguns dos quadros do disco ganhassem vida própria. Algo para recordar, certamente.»

Enquanto o mercado russo é ainda algo por explorar devido à sua imensidão e entraves burocráticos, o asiático é igualmente vasto, mas muito mais diverso e de fácil acesso. Do Japão já saíram bandas como Babymetal, Sigh, Vampillia ou Envy, de Taiwan surgem os Chthonic, The Hu vêm da Mongólia, Yaksa e Tengger Cavalry da China. Mesmo havendo Internet, quão difícil poderá ser conquistar a Ásia tendo em conta que têm uma tradição muito própria por lá? «Creio que é tão difícil conquistar a Ásia como a Europa. Afinal de contas estás a tocar para seres humanos que consomem arte da mesma maneira que tu e, se o que fizeres for memorável e sempre com o teu cunho pessoal, não existem limites. Existem claramente alguns comportamentos que não são aceitáveis em países onde o cidadão comum não pode sequer votar. Mas tudo isso faz parte do teu respeito para com essas pessoas. Não vamos ser apenas nós que vamos mudar um regime, uma tradição ou crenças. Não nos interessa minimamente o que cada um acredita. Interessa-nos apenas o que cada um sente e a experiência naquela sala de concertos.»

Ainda na ressaca do sucesso interno e externo alcançado com “Unsettling Whispers”, lançado em 2018, os Gaerea não têm qualquer tipo de previsão ou música composta para o seu sucessor, admitindo porém que «não é que não possa vir a acontecer».