Francesco Paoli (Fleshgod Apocalypse): «”Veleno” é o álbum mais espontâneo que já fizemos.»
Entrevistas 24 de Maio, 2019 Diogo Ferreira
«”Veleno” é o álbum mais espontâneo que já fizemos.»
Os Fleshgod Apocalypse, mestres italianos do death metal sinfónico, estão a fazer de tudo para que o trabalho feito nos últimos tempos seja compensado através do novo longa-duração “Veleno”, lançado pela Nuclear Blast. Nos últimos quatro álbuns, o trio liderado por Francesco Paoli planeou cada passo, discutiu cada nota e garantiu que a memória de Paganini, Bach e Mozart fosse relembrada e reajustada à banda através do seu death metal. Para “Veleno” (veneno em português) necessitavam de uma nova abordagem, e, para conseguir isso, o grupo distanciou-se de distracções, tais como mudanças de formação, digressões e frustrações do quotidiano. Assim, desenrolou-se um processo de composição e permitiu-se que a inspiração fluísse livremente. Como resultado, o grupo amadureceu, misturou mais eficientemente a sua visão musical e surgiu com 11 novas músicas.
«”Veleno” é o álbum mais espontâneo que já fizemos», conta o multi-instrumentista Francesco Paoli. «Sempre fomos muito honestos com a nossa música, mas ser honesto não significa que se seja completamente espontâneo. Por exemplo, nunca gravamos uma única nota sem termos 100% a certeza de que era a certa para os nossos ouvidos. Mas deixar a inspiração fluir livremente, sem qualquer tipo de restrição, é outra história. Fizemos experiências com algumas músicas no passado, mas às vezes é quase como se fosse preciso autocensura. Em certos dias tem-se uma óptima ideia, mas, por alguma razão, acha-se que é ‘demais’ para a música e manda-se fora. Então, a falta de limites, a experiência completa, um inevitável processo de redescobrir as nossas raízes… Tudo isso levou-nos à mais bela música que já produzimos. Tenho a certeza de que as pessoas vão adorar “Veleno” tanto como nós.»
Formados em 2007, em Perugia, por Paoli, Paolo Rossi (voz/baixo), Cristiano Trionfera (voz/guitarra) e Francesco Struglia (bateria), os Fleshgod Apocalypse rapidamente causaram uma onda de interesse com a demo “Promo ’07”. Depois de um curto período na holandesa Neurotic Records, o grupo assinou contrato com a Candlelight Records (Europa) e com a Willowtip Records (América do Norte), sendo que o resultado do acordo foi o álbum de estreia “Oracles” (2009). Baseado apenas na primeira faixa (“In Honor Of Reason”), o colectivo foi brindado como um dos melhores projectos recentemente surgidos. Todavia, foi o álbum seguinte, “Agony” (2011), que os tornou os maestros do death metal orquestral.
«Quando fundámos banda, tínhamos a certeza que queríamos fazer algo importante com a nossa música e todos estavam preparados para que isso não fosse fácil», retoma Paoli. «Todas as bonitas lembranças que agora tenho dos últimos anos e todas as expectativas sobre o que está por vir tornam esta jornada única e a nossa vida muito especial. É óptimo fazer todas estas considerações tendo nas nossas mãos não apenas um quinto álbum, mas o melhor da nossa carreira. Isso mostra que tanto a nossa fórmula de trabalho como a ideia de que o que alcançamos nunca é um ponto final, mas um novo ponto de partida. Isso também foi percebido como um sinal de compromisso verdadeiro pelos fãs. Sentimos um progresso constante enquanto artistas e seres humanos, o que me deixa realmente orgulhoso de quem somos e do que fazemos.»
Por mais diferenças ou semelhanças que possam existir entre “King” (2016) e “Veleno” (2019), que são os álbuns mais próximos entre si, há uma discrepância fundamental: a ausência de Cristiano Trionfera e Tommaso Riccardi, ambos membros que vêm praticamente da formação original. Ao abandonarem o grupo em 2017 por motivos pessoais, uma reformulação no seio de Fleshgod Apocalypse foi obrigatória, com Paoli a saltar da bateria para assumir o papel de vocalista e guitarrista. Acto contínuo, o baterista David Folchitto (Stormlord) e o guitarrista Fabio Bartoletti (Deceptionist) foram recrutados para preencher as lacunas deixadas.
«O David e o Fabio são excelentes músicos e pessoas, e estão a fazer um óptimo trabalho ao vivo», afirma o mentor da banda. «É um primeiro passo, só precisamos de mais tempo antes de adicionarmos alguém novo à nossa formação. É como casar-se de novo e queres ter a certeza de que tudo está a funcionar bem. Deixem-me ser claro: eles não são músicos para preencher [vagas], são definitivamente parte da família. Estamos apenas a relaxar antes de anunciarmos oficialmente uma nova formação.»
Com o melhor trabalho de produção possível (em que se inclui Marco Mastrobuono e Jacob Hansen), conjuntos orquestrais reais e músicos convidados, como Maurizio Cardullo (Folkstone) e Daniele Marinelli a tocar gaita irlandesa e bandolim respectivamente, “Veleno” é considerado pela editora a obra-prima de Fleshgod Apocalypse. Desde a tensa abertura de “Fury” até ao sentido cénico de “Monnalisa” e passando pelo heroísmo sombrio de “Embrace The Oblivion”, este álbum engloba a grandeza dos registos anteriores e, ao mesmo tempo, abre novas portas – sonoras e estéticas – à banda.
Paoli retoma o discurso: «Algumas coisas vêm com o tempo e com a experiência. Quanto mais avançamos enquanto compositores, mais aprendemos e desenvolvemos. Se trabalhares duro, isso poderá melhorar as habilidades para sempre e aposto que todos os nossos fãs conseguirão sentir um progresso gradual e constante no equilíbrio de todos os diferentes elementos da nossa música. O gosto musical é completamente subjectivo e toda a gente pode ter um álbum favorito de Fleshgod Apocalypse, mas acho que a melhoria na técnica de composição é mais do que evidente e objectiva. Álbum após álbum, vamos mais longe nesse aspecto. O nosso sonho continua a ser, um dia, colaborar com uma orquestra sinfónica completa. Com todo o apoio e interesse que estamos a receber dos fãs e da indústria, parece que esse dia já não está tão longe.»
Quanto ao futuro, a banda está empolgada por considerar “Veleno” não só o seu melhor álbum até à data, mas também uma mudança de paradigma interno que inclui um conceito lírico multifacetado, laços culturais com a Itália e uma capa profundamente simbólica com assinatura de Travis Smith (Opeth, Overkill). Para o resto de 2019, os italianos prosseguem em força com presença em festivais de Verão e uma digressão que tem a sua meta no continente europeu no próximo Outono.

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