Dark Tranquillity: «Agarras-te tanto a uma crença que não consegues lidar com a realidade»
Entrevistas 20 de Novembro, 2020 Diogo Ferreira

Pioneiros do death metal melódico no início da década de 1990 ao lado de bandas como At the Gates e In Flames, os Dark Tranquillity têm em “Moment” o seu novo álbum. Em entrevista à Metal Hammer Portugal, o vocalista Mikael Stanne começa por falar sobre o momento da sua banda. «Estes últimos dois anos têm sido transformativos, porque o Niklas [Sundin] decidiu parar de fazer digressões, precisávamos que entrasse alguém – o Chris [Amott] e o Johan [Reinholdz] entraram. De repente, muda tudo outra vez, mesmo que fique na mesma. Mas surgem novas perspectivas, novas experiências, e começas a ver as coisas de maneira diferente. Isso a modos que redefine quem és de uma maneira que nos faz seguir em frente e [nos faz] fazerem-se coisas porreiras em conjunto. Portanto, o pensamento que tive quando comecei a pensar no título e no tema geral do álbum foi que a experiência do passado informa a nossa decisão no que diz respeito ao que acontece no futuro, mas ver o momento e a realidade em que escolhes e fazes o chamamento para onde queres ir, é isso que realmente importa. Acho que fizemos várias boas decisões e opções de carreira e tomámos bons caminhos, mas onde estamos agora e onde tudo isto nos levou, é algo verdadeiramente excelente e estou muito agradecido e feliz, porque todas estas coisas que temos feito ao longo de 30 anos levou-nos a este momento e isso é incrível, e ainda há aquele entusiasmo que tinha há 10, 15, 20, 30 anos – o que é de loucos.»
Num álbum de death metal melódico à Dark Tranquillity dos últimos anos, mas com alguns toques de “Skydancer”, lançado em 1993, as letras deste “Moment” andam à volta de incertezas, epifanias e diferentes caminhos tomados. Tendo as letras sido escritas antes de Janeiro de 2020, portanto anteriormente à grande crise pandémica, o vocalista sueco acha que tudo o que escreveu começou realmente a fazer sentido de forma gradual. «Só quero expor algo ou pelo menos abordar assuntos uma forma em que nós, enquanto pessoas, pensamos e agimos. Tendo a ser muito furioso com a mente reduzida e mente fechada que podemos ter na maneira de pensar e com quão egoísta o mundo às vezes é – tendemos a esquecer que fazemos parte desta enorme comunidade de pessoas que vivem num planeta em conjunto, e há muita divisão e separação. Tento, pelo menos, compreender donde isso vem, e acho que isso é a coisa recorrente sobre a qual continuo a escrever. Como é que tento compreender ou, pelo menos, talvez… Não estar bem [com isso]… Mas talvez lidar com o facto de que a maioria das pessoas está nisto por elas próprias. Faz parte. E penso que, mesmo que as músicas tenham sido escritas antes de Janeiro deste ano, começou a fazer sentido quando o mundo ficou do avesso e [quando] as piores visões da humanidade foram expostas. E as melhores partes também! Ficou tudo tão maravilhoso quanto muito feio, quando percebes: ‘Uau, muitas coisas que tinha por garantidas foram-me tiradas.’ De repente, é algo ao qual não estou habituado e muitas pessoas não estão equipadas para lidarem com mudança. E as coisas em que acreditas, que pensas que são reais, tornam-se mais importantes do que é real. Agarras-te tanto a essa crença que não consegues lidar com a realidade. E isso é algo sobre o qual já escrevi antes, mas ver isso realmente com clareza nas notícias, nas revistas, em comentários, em artigos é um bocado assustador. Veio mesmo tudo à tona, toda esta… [interrompe] Não quero ser muito negativo, mas sim, as piores visões voltam a ficar expostas de uma forma que nunca esperava ver.»
Com dois novos guitarristas na formação, sabemos que Christopher Amott é já um nome conhecido na cena e é aqui acompanhado por Johan Reinholdz, um fã de Dark Tranquillity de longa data. Por outro lado, sabemos também que são conhecidos pelas suas habilidades de shredding, portanto quisemos descobrir de que forma é que tiveram de ser domados para entrarem na sonoridade de Dark Tranquillity sem se desviarem em grandes excessos. «Nem é uma piada, foi difícil domá-los!», começa Mikael. «Era do tipo: ‘Ei, pá… Vá lá, acalma-te. Sabes que banda é esta, certo?’ Ríamo-nos disso porque… E acho que o Johan mostrou-o perfeitamente. Estávamos a desenvolver um solo, a tentarem-se coisas novas, e ele entrou em modo shredding, e eu disse: ‘Ok, o que é que aconteceu aí?’ [O Johan disse:] ‘Fiquei sem inspiração, e é o que faço quando fico sem inspiração, vou tipo vrrrrrr. Fico maluco.’ E por mais que eu goste disso, que soa maravilhoso, não é algo que funciona assim tão bem em Dark Tranquillity. Primeiro tem de ser algo [à Dark Tranquillity] e depois podemos adicionar qualquer coisa daquilo. Foi um processo de domação ou, pelo menos, de captação de clima, captação de algo que primeiro beneficie a música, que tenha aquele sentimento que temos. E penso que o Chris é muito bom nisso e o Johan também – tem de se transmitir esse sentimento. Mas foi fascinante estar lá quando eles tocavam os solos, ver como… [interrompe] Podermos dizer: ‘Talvez tentemos isto…’ Claro que o fazem imediatamente e soa perfeito. Fiquei fascinado, rebitado, durante o processo. Quem me dera podermos ter no álbum todas as outras versões dos solos que surgiram! Foi muito porreiro, e, sim, foi um processo de acalmar, mas também de enfatizar as coisas emocional e melodicamente, mostrar talento, habilidade e chops.»
“Moment” é o título do novo álbum de Dark Tranquillity e tem data de lançamento a 20 de Novembro de 2020 pela Century Media Records.

Metal Hammer Portugal

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