Quando Dani Filth se encontrou com Doug “Pinhead” Bradley
Artigos 15 de Novembro, 2020 Metal Hammer
Pusemos o vocalista dos Cradle of Filth, Dani Filth, e a estrela de “Hellraiser”, Doug Bradley, numa sala para conversarem sobre terror, metal e esqueletos debaixo do soalho.
Como o vilão Pinhead de “Hellraiser”, Doug Bradley personifica um dos personagens mais icónicos do terror. Dani Filth conhece bem o actor, tendo trabalhado com ele em vários álbuns de Cradle of Filth ao longo dos anos. Portanto, talvez não devêssemos ficar muito surpreendidos que, ao reuni-los para uma conversa especial sobre terror e metal, dificilmente os conseguiríamos calar… Não que o quiséssemos.
-/-
Dani: Pinhead é um ícone do terror. Por que é que tem sido um personagem tão duradouro?
Doug: Oh, Jesus! Quanto mais me perguntam isso, menos tenho a certeza de que sei a resposta. Talvez seja simplesmente por andar por cá há muito tempo. Milhões de pessoas que nunca viram o filme conhecem a imagem. A imagem aparece, como Frankenstein, Dracula, Wolf Man – ganha vida própria e torna-se parte da cultura. Tenho um recorte de uma entrevista do Sunday Times com Alice Cooper e, na foto que a acompanha, ele tem uma camisola do Pinhead! Podes pô-lo no mesmo grupo de Freddy, Jason e Leatherface, mas Pinhead é excepcional. É uma imagem extraordinária, muito difícil, desarmante – chama a atenção.
Dani: Vi uma estátua de uma Pinhead feminina no outro dia, da Sideshow Collectibles. Parecias bem!
Doug: Agora sou transgénero! Certamente, houve sempre muitas ambiguidades sobre o Pinhead. Não esqueçamos que ele usa saia…
Dani: Lembras-te da primeira vez em que trabalhámos juntos?
Doug: Tenho uma memória do tempo em que estavas a fazer o filme “Cradle Of Fear”, sentado contigo e com o realizador num bar em Camden Town. Tinhas feito o “Cruelty and the Beast” com a Ingrid [Pitt, famosa actriz de terror que narrou o álbum de 1998], e gostei da tua escrita. Aqui devo abordar algo: sou uma grande decepção para a grande maioria dos meus fãs porque não papo heavy metal! Mas sempre fui atraído pelas imagens e gostei do que sabia sobre a escrita do Dani. Recebi uma chamada da agente da banda. Ela disse que a banda estava a dar os toques finais no álbum e o Dani imaginou se eu incluiria algum spoken-word. Ela disse: ‘Não temos muito dinheiro…’
Dani: Ah ah ah!
Doug: Perguntei quanto tinham, e ela estava absolutamente certa! Mas pensei: ‘Que se lixe.’ Era algo totalmente diferente na minha carreira, parecia intrigante, por isso fui para o estúdio e fizemos aquela gravação para o “Midian”.
Dani: Penso que… Não, sei que te deixámos embaraçado porque, quando apareceste, estavam lá todos com as suas coisas do Pinhead, e disseste: ‘Oh, Cristo, outra vez não.’ Trabalhaste em algumas outras coisas depois disso: “Thornography”, “Nymphetamine”, “Godspeed…”, que gravámos em minha casa.
Doug: Lembro-me de que tinhas um esqueleto debaixo do chão da tua cozinha…
Dani: Isso mesmo! Infelizmente, levantou-se e fugiu. Tivemos um canalizador dos fracos que o fez emergir, portanto agora está no meu suporte de microfone. Ora, trabalhámos juntos em algumas ocasiões e podemos muito bem trabalhar novamente…
Doug: Nunca mais ouvi falar de ti depois disso. Nunca escreves, nunca ligas, nunca mandas flores no meu aniversário… Lembro-me de sair daquela primeira sessão para o “Midian” e implorar para se fazer algo em 4/4! Para tentar chegar a algum lado fora de ritmo em 17/25 ou lá o que era…
Dani: Isso sempre funcionou com actores. Têm aquela cadência natural em que conseguem falar por cima de qualquer coisa, assim como a Ingrid antes de ti. Os dois não demoraram muito, mas encaixou-se perfeitamente. E fomos muito atrevidos com o “Midian” ao colocarmos um ‘Oh, no tears, please’. É uma linha tão icónica, não é?
Doug: É. Tive muita sorte. Tive falas tremendas nos primeiros quatro filmes.
Dani: Mas a associação com o “Midian”, na verdade, veio do teu papel como Lylesberg no “Nightbreed” [1990, de Clive Barker]. Continuo a pensar em obter a versão longa…
Doug: A “The Cabal Cut”? Recomendo – redefine o filme o mais próximo possível daquilo que rodámos antes da Fox f*der tudo. O filme, lançado na época, era uma caricatura do que deveria ter sido, [foi] efectivamente destruído pela Fox na sua infinita sabedoria – a única coisa que eles não conseguiam entender era que os monstros eram os bons. Às vezes era um pandemónio – muitos actores precisavam de maquilhagem protética, e isso não se faz rapidamente. Apenas para fazer toda a maquilhagem à hora certa era bastante caótico.
Dani: Como foi trabalhar com a Blackcraft Wrestling?
Doug: Eu sempre disse que a maldição e a diversão de ser actor é nunca saber o que vem a seguir, e certamente nunca teria previsto isso. Tenho um relacionamento com a Blackcraft há alguns anos – fiz camisolas, ajudei a promover o uísque deles. O gajo principal entrou em contacto comigo do nada, a dizer que queria lançar a Blackcraft Wrestling e que me queria envolvido. Tão fora de mão que nem sabia por onde começar, mas disse que sim e tudo aconteceu muito rapidamente.
Dani: Eras o ringmaster?
Doug: Fazia de MC até certo ponto. Eu estava com muito, muito medo de abordar o espectáculo ao vivo. Não tinha mapa e bússola para isso. Estar no palco com um guião aprendido ou num set de filmagens, tudo bem, eu sei o que estou a fazer, mas nunca tinha tido uma experiência daquele tipo.
Dani: O wrestling da Blackcraft é menos ‘encenado’ e mais violento?
Doug: A primeira luta que apresentei foi uma ladder match – eu estava vagamente ciente do que isso implicaria! Há um cálice pendurado acima do ringue e quatro lutadores. Um deles tem que subir a escada e pegar no cálice em primeiro, e isso foi uma loucura. É insano. Batiam uns nos outras com escadas – escadas a sério, grandes. Não são de borracha, garanto-te. Se arremessares um ser humano pelo ringue e cair numa escada, não dá para fingir! Está a acontecer! Quando voltei ao ringue, estava perante um gajo com sangue a escorrer pela cara e torso. Inicialmente eu estava bastante tranquilo com isso – estou habituado a estar perto de pessoas cobertas de sangue –, mas então uma vozinha disse: ‘Ah, sim, mas isto não é falso.’ Esta foi a minha entrada na Blackcraft Wrestling. Tiveram os Falling In Reverse a tocar ao vivo no final da noite.
Dani: Disseste que não és muito metaleiro. Que música ouves?
Doug: No final dos anos 60, eu gostava muito de rock com influência de blues. Era um grande fã de Cream, adorava o início de Led Zeppelin, o meu primeiro concerto foi Deep Purple por altura do “In Rock”. Então, quando 1977 aconteceu, os The Clash entraram na minha vida – provavelmente a minha segunda banda favorita de todos os tempos – e tudo o que veio depois: The Jam, The Damned, The Stranglers, Echo And The Bunnymen… Mas continuo a ouvir músicas novas, e sou um grande fã de – e sei que isto é polémico porque sei de algumas pessoas que torcem o nariz e dizem ‘eles não são metal!’ – Ghost.
Dani: Oh! Vi-os no Royal Albert Hall!
Doug: É uma grande cena tocar no Albert Hall, e é excelente que tenhas lá estado, Dani. O último álbum [“Prequelle”] é maravilhoso, há algumas faixas que parecem ter saído de “Les Miserables” ou algo assim. Conheci-os numa convenção chamada Texas Frightmare Weekend, em Dallas. Os Ghost estavam a tocar em Dallas naquela noite e vieram para a convenção mesmo como Papa and the Nameless Ghouls, e parou tudo! Aproximaram-se da minha mesa, foi muito desconcertante. Vi como eles eram e, para ser sincero, pensei: ‘Já estou a ver como soam! Soam do tipo – [Doug imita um cão a vomitar], portanto não quero saber!’ Mas eles ficaram à minha volta, atrás da minha mesa, e estavam a falar comigo em voz baixa através das máscaras. Fomos vê-los naquela noite e fiquei impressionado. O meu único arrependimento é que fomos para a entrada, para falar com o gajo do merch, e perdemos a versão de “Here Comes the Sun”.
Dani: Lembro-me de uma memória encantadora. Na terceira vez que trabalhámos juntos, tinhas feito um anúncio para um banco ou algo assim. Eu disse-te: ‘No outro dia vi a tua cara na lateral de um autocarro.’ Apenas te viraste para mim e disseste: ‘Oh, vai-te f*der!’ Na verdade, eu estava na cama – olhei pela janela e lá estavas, a encarar-me, foi surreal!
Metal Hammer: Voltando ao terror por um segundo, meus amigos: há algum filme em particular através do qual se tenham unido?
Doug: Acho que nunca tivemos essa conversa, pois não? Bem, o meu filme de terror favorito de todos os tempos é “The Bride of Frankenstein” [1935].
Dani: Com certeza. Sou um grande fã da Universal. Agora começaram a refazê-los, mas não sei se isso é uma coisa boa. O primeiro, “Dracula Untold”, era promissor, até que começou a transformar-se num bando de morcegos e a ficar um pouco caricato. Estão a refazer o “The Bride of Frankenstein”. Acho que ouvi dizer que será a Angelina Jolie – o que achas disso?
Doug: [suga o ar com força, de dentes cerrados] Não muito.
Dani: O meu filme favorito é o “Night of the Demon”, baseado no “Casting the Runes” de MR James. Mesmo que tenham mostrado aquele grande demónio foleiro no início e no fim. Mas ainda assim, um filme absolutamente brilhante.
Doug: Concordo completamente. Assustei-me muito quando o vi na TV – lembro-me.
Dani: Então, fazes planos para o Halloween?
Doug: Não. Para gente como tu e eu, réprobos que somos, é Halloween todos os dias. Para ser completamente honesto, no ano passado sentei-me na minha varanda e distribuí doces. Quão assustador é isso?!
Dani: Devias fazê-lo todo trajado! Mas não é o tipo de coisa que vestes, pois não?
Doug: Não é fácil nem bem, não.
Dani: Não sem uma bebedeira decente, pelo menos!
Consultar artigo original em inglês.

Metal Hammer Portugal

The Smashing Pumpkins “CYR”
Reviews Nov 26, 2020
Hatebreed “Weight of the False Self”
Reviews Nov 26, 2020
Scour “Black” EP
Reviews Nov 25, 2020
Sodom “Genesis XIX”
Reviews Nov 23, 2020
DevilsBridge: em frente, sem descanso
Subsolo Nov 27, 2020
kRATER_BG: passado no futuro
Subsolo Nov 27, 2020
Ingrina: pesadelos civilizacionais
Subsolo Nov 26, 2020
Varde: visões nas florestas do norte
Subsolo Nov 25, 2020