“Indoctrinate” é um ataque cerrado que corre a alta-velocidade contra os valores impostos pelo sistema.

Editora: Petrichor
Data de lançamento: 20.11.2020
Género: grindcore / hardcore / powerviolence
Nota: 3/5

“Indoctrinate” é um ataque cerrado que corre a alta-velocidade contra os valores impostos pelo sistema.

O rock produzido na Austrália, incluindo subgéneros e derivações de toda a espécie, é muitas vezes surpreendente e distingue-se frequentemente das produções britânicas ou americanas. É sempre bom estar atento. “Indocrinate” é o primeiro álbum dos Concede, uma banda de Perth já com uma variedade de singles e EPs editados. Segundo a editora, o trio formado por Jay Huxtable, Peter Emms e Tom Waterhouse mantém uma actividade intensa no circuito australiano com ressonância nos meandros underground da comunidade hardcore internacional. A sonoridade das 15 canções disparadas em 22 minutos é um híbrido de grind, hardcore e powerviolence, enquanto as letras abordam temas sociopolíticos numa mensagem de protesto e de revolta motivada pela raiva, pela dor e pela frustração. “We Are Everything Wrong with the World”, um título de 2018, diz tudo sobre a alma do projecto.

“Indoctrinate” são 22 minutos a destilar ódio e inconformismo. No fim parecem mais, apesar das canções curtas e abrasivas, desprovidas de melodia, com batidas explosivas e riffs super-sónicos. Nos primeiros três minutos e meio, “Indocrinate”, “Trough The Teeth” e “Brainwash” são um abanão surpreendente – os temas sucedem-se a bom ritmo, num crescendo de velocidade e intensidade, até aqui com uma boa dinâmica. “Burn in Your Own Hell” corta com o pico de velocidade embrutecida e descontrolada atingida em “Brainwash” e inicia numa cadência mais branda para logo retomar os níveis anteriores de intensidade e agressividade. A partir do minuto seguinte, ao som de “You Ruin Me”, os tímpanos acusam o banzé. É tudo ultra-rápido e caótico. Mesmo gostando do género e vibrando com toda esta adrenalina, há qualquer coisa que desvia a atenção. O disco deve estar riscado. Não. É o efeito da repetição do esquema de composição das músicas. Tocam todos ao mesmo tempo, uns por cima dos outros. Com a distorção cria-se um ruído neurótico e aflitivo. Ainda por cima o som é bruto, sem filtros. Grande esfrega. As variações de ritmo são quase inexistentes. O cérebro reage e não aguenta a pressão, interrompe o processo. O tipo rebenta com a garganta num acesso de raiva, cospe-se todo, e continua a berrar-te aos ouvidos sem ritmo nenhum. O comboio passa-te à frente do nariz a 200km/h com as rodas aos guinchos, a matraquear sobre os carris de ferro. O tipo não se consegue ouvir.

Aprende-se a lidar com o álbum. A melhor forma é ouvir três minutos de cada vez – dividir o alinhamento em blocos de três músicas cada para não ser arrasado por tamanho powerviolence. “One with The Earth” é a excepção que nos permite respirar no fim dos últimos quinze minutos. “Indoctrinate” é um ataque cerrado que corre a alta-velocidade contra os valores impostos pelo sistema, e o power-trio australiano é uma banda de fibra que vai chamar a atenção dos fãs de Nails, Nasum ou Full of Hell. Atenção ao termo visceral, que aqui é para ser levado à letra.

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