De pequenos bares apinhados a festivais de relevo, a ascensão dos Blues Pills foi rápida. Assim, começaram a passar as primeiras receitas médicas com...
Foto: cortesia Nuclear Blast

De pequenos bares apinhados a festivais de relevo, a ascensão dos Blues Pills foi rápida. Assim, começaram a passar as primeiras receitas médicas com o álbum homónimo de 2014, mas foi com “Lady In Gold” (2016) que estes médicos do blues surpreenderam realmente tudo e todos.

Cerca de quatro anos depois, a banda de Elin Larsson e Zack Anderson (que agora passa do baixo para a guitarra devido à saída de Dorian Sorriaux) oferece-nos mais uma dose de medicamentos, mas desta vez de forma mais solta, mais arcaica (no bom sentido) e mais crua, regressando inclusivamente às raízes. Enquanto “Lady In Gold” foi um disco de blues rock compacto e directo praticamente na sua totalidade, o novo “Holy Moly!” abre as asas da imaginação criativa e liberta-se de quadraturas pré-concebidas.

O plano estava traçado e a reconquista – de algo que não foi perdido, diga-se – parecia garantida com o disco agendado para sair em Junho de 2020. O mundo ficou do avesso com a pandemia da COVID-19 e o lançamento de “Holy Moly!” acabou por ser adiado para Agosto. Em entrevista à Metal Hammer Portugal, a vocalista Elin Larsson conta como lidou com este contratempo: «Foi uma porcaria, porque esforçámo-nos muito neste disco. Já estava pronto em Janeiro, por isso tivemos que esperar. Quando [a pandemia] começou estávamos a caminho de um concerto em Uppsala, perto de Estocolmo, e foi quando o governo sueco disse que só podiam estar 500 pessoas nos concertos. Adiámos esses concertos, porque não queríamos que as pessoas ficassem doentes. Foi uma porcaria. Todos sofremos. Os humanos são seres sociais, é difícil lidar com a situação, especialmente porque temos de pagar as contas através das digressões. Para mim e para os meus colegas, é uma luta financeira.»

Antes deste revés, a banda tinha revelado o primeiro single “Proud Woman”, uma declaração muito forte por parte de Elin e, claramente, apoiada pelos colegas masculinos. «Sinto-me muito bem!», exclama quando questionada sobre o sentimento de cantar a música. «Uma vez que sou mulher, quis escrever as músicas através da perspectiva feminina. Quis fazer esta música para as mulheres do rock n’ roll. Para mim, esta é a música delas, a minha música – ia adorá-la se fosse uma adolescente, porque eu não tinha muitas mulheres em quem me inspirar nas bandas de rock. Há apenas algumas de nós. Igualdade devia ser uma coisa normal, mas não é, o que é uma porcaria. Não estava muito preparada para a reacção que obtivemos, porque houve muito ódio. Mas estou mais madura, já não quero saber das opiniões que as pessoas têm sobre mim. Os homens devem compreender que esta música não é sobre eles, é sobre outro grupo de pessoas – deviam elevar isso e ficar felizes por isso.»

Num álbum mais cru do que o anterior, sente-se também que há um teor autobiográfico, não só na faixa atrás referida como também em “Low Road”, que fala do facto de sermos os nossos piores inimigos. «Todo o álbum é sobre nós», admite. «E por termos passado uns anos de merda… Em 2019, quando fomos para estúdio, mandámos tudo cá para fora. Quando estávamos a gravar, nem sempre se estava a passar o melhor dia – às vezes posso estar chateada com alguma coisa. Assim, sabia que tipo de música devia gravar para aplicar as vozes, se estivesse triste ou deprimida também o sabia. Este disco é muito autêntico!»

O que, definitivamente, se sente deste lado, quando escutamos estas novas 11 músicas, é que Elin evoluiu imensamente, sendo, sem ponta de dúvida, a sua melhor prestação enquanto vocalista. Por conseguinte, é a sua voz que obtém uma grande fatia das vitórias conseguidas neste disco ao apresentar-se numa forma estupenda, ao exibir o perfume soul de um casino bem frequentado que se une muitas vezes ao berro orgânico e natural de quem canta na rua ou onde tiver que ser. «Foram as canções mais duras que escrevi para cantar», diz entre algumas gargalhadas que tanto demonstram nervosismo por aquilo que passou como evidenciam algum alívio. «Mas comigo é assim, porque quero sempre fazer melhor. Este álbum é mais áspero do que “Lady In Gold”, completamente. Regressei às minhas raízes. Agora tenho uma técnica melhor, mas ainda sigo muito o meu coração e as minhas emoções. Quanto mais canto, mais evoluo. Desde 2018, com as digressões, canto quase todos os dias. Um dos meus lados fortes passa por querer desenvolver o meu instrumento, acho que nunca está suficientemente evoluído. Comecei a aprender a técnica screamo usada em algumas bandas metal, a encontrar algumas coisas engraçadas para experimentar – e é difícil como o c*ralho! Disse sempre: ‘Pois, gritam assim porque não conseguem cantar!’ E arrependo-me de dizer isso, porque é difícil como o c*ralho! [risos] É estupidamente difícil.»