É-nos mostrada polivalência na criação de sons atmosféricos ao mesmo tempo que nos é fornecido metal puro, pesado e brutal para finalizar o dramatismo...

Editora: Lifeforce Records
Data de lançamento: 23.10.2020
Género: post-metal
Nota: 4/5

É-nos mostrada polivalência na criação de sons atmosféricos ao mesmo tempo que nos é fornecido metal puro, pesado e brutal para finalizar o dramatismo criado pela melancolia da obscuridade sonora que os Atlases criam em cada um dos seus temas.

Os Atlases representam uma frente nórdica que transporta a sua sonoridade para campos mais obscuros e sombrios, tipificando as sonoridades mais dark caracteristicamente escandinavas. Ao mesmo tempo também são um dos pioneiros do metal moderno, o muitas vezes denominado post-metal, um baptismo para tudo o que incluir modificações e avanços nas sonoridades metal.

Ora, os finlandeses formaram-se em 2017 e já se rotulam como modern post-metal, um rótulo, por si só, difícil de carregar na actual conjuntura de grupos escandinavos, tipicamente criativos e inovadores. A verdade é que os Atlases têm, neste ano 2020, um novo álbum intitulado “Woe Portrait” que sucede a “Haar”, um bom lançamento de post-metal que mostra mais agressividade do que o EP anterior, “Penumbra”. Desta vez, parece que os efeitos melodramáticos e sombrios dos lançamentos antecessores se mantêm, mas com uma maior cinematografia sonora e uma preparação mais madura, resultando num álbum rico, cheio de peso e tecnicamente muito acima da média.

“Woe Portrait” acaba por acrescentar o moderno em post-metal, sobretudo pelas diversas variações do melódico para agressivo e do lento e sombrio para o rápido e dinâmico. Estas variações nem sempre são fáceis de realizar; no entanto, soa que os Atlases tornaram este mesmo dinamismo em algo quase inato, fazendo-o especialmente desde “Haar”. Os vocais variam também de limpos a semi-guturais, demonstrando um belo alcance vocal, importante para o post-metal, que é tipicamente muito debruçado em sons dinâmicos e instrumentais trabalhados.

Os temas ecléticos de “Halos” e “Eternia” simbolizam este modernismo com um pouco daquilo que a banda quer mostrar ao público: os inícios lentos e sombrios, quase calmantes, podem passar para uma onda temerária de ataque com vislumbres mais violentos e ultrajantes. Contudo, não apenas de duas faixas se faz este disco. A épica “The Unsung Lament”, dividida em duas partes, é um excelente exemplo da história que os Atlases querem contar com uma narrativa forte e com impacto, que nos envolve numa narrativa de fechar os olhos e inspirar, provando que conseguem criar ondas sonoras realmente emotivas, tanto positivas como negativas.

Em “Woe Portrait”, o esforço conjunto é o de criar uma memória colectiva, como se repassasse os eventos de uma vida perdida e não aproveitada. O espírito é muito esse, com sons belos e suaves que contrastam com a agressividade final de muitos dos seus temas. Acaba por ser difícil definir qual é a faixa mais pesada ou a mais melancólica, pois todas têm um pouco de ambas as características. “Solarist” contém uma vertente realmente post-metal e a pender para o melodic death, quase a assemelhar-se à segunda parte de “The Unsung Lament”. “Phoenix Trail” é outra épica que começa calma e pacífica, mas que explode para uma fúria emocional que define e confirma a qualidade do álbum. A faixa de encerramento, “Marta”, é uma revisitação da tal vida em falta, repetindo tons e acordes, apoiada na forte componente melódica e brutal que o álbum consegue ter.

“Woe Portrait” é um belo álbum, talvez o melhor dos dois até agora lançados, incluindo o EP. É uma sonoridade evoluída e mais trabalhada, sem conter momentos mortos, percebendo-se o trabalho dedicado do quinteto finlandês, que nos mostra a sua polivalência na criação de sons atmosféricos ao mesmo tempo que nos fornece metal puro, pesado e brutal para finalizar o dramatismo criado pela melancolia da obscuridade sonora que criam em cada um dos seus temas.

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