Accept: «Somos demasiado duros para morrer»
Entrevistas 21 de Janeiro, 2021 Metal Hammer
«Não sou um tipo preso ao passado. Muitas vezes, perguntam-me em entrevistas quais são os meus temas preferidos de há 30 anos e isso torna-se uma maçada, uma perda de tempo e de energia. Aconteceu há 30 anos, falemos do agora!»
Wolf Hoffmann
Ao fim de 45 anos a moldar o heavy metal como o conhecemos, os Accept já há muito se encontram na plataforma cimeira do género. Isso não significa, porém, que a vontade de fazer o que sempre fizeram melhor tenha desvanecido, como prova o novíssimo “Too Mean to Die”, 16º longa-duração de originais dos influentes germânicos.
Logo ao primeiro acorde de “Zombie Apocalypse” é impossível não nos recordarmos de discos maiores como “Balls to the Wall” ou “Metal Heart” devido ao início já mais do que característico do sexteto, mesmo considerando a partida do histórico Peter Baltes (baixo). Depois, a dinâmica do tema homónimo e o viciante refrão de “Overnight Sensation” atiram-nos de cabeça para os temas clássicos maiores dos Accept, sem nunca esquecer que, para além de ser um disco realmente especial, “Too Mean to Die” é um dos trabalhos mais pesados da banda. Se tudo isto não fosse já mais do que suficiente para renovar as boas-vindas aos Accept, a banda não poupou esforços e realizou no Spotify um sorteio promocional de um fato de treino de ginásio – ao contrário da generalidade das bandas, que partilham com os fãs conteúdo 99% digital, os Accept quiseram estar presentes de forma palpável. Bem vistas as coisas, para uma banda old-school só há uma forma de estar, e essa forma é ser old-school.
Wolf Hoffmann, o eterno homem das seis cordas, também ficou visivelmente surpreendido e agradado com esta abordagem mais clássica de oferecer um pouco mais aos fãs. «Podes crer! Toda esta ideia do passatempo nem foi da banda, mas da nova equipa de promoção da Nuclear Blast, em Hamburgo. Pá, que equipa incrível! Eles estão muito conscientes do poder do marketing dos canais digitais, Spotify incluído, e as pessoas responderam muito bem à iniciativa. Pessoalmente, eu… [pausa] Não sei, não sou especialista da coisa, eu sou old-school, portanto, deixei tudo ao cuidado das novas gerações.[risos]» A repetição do termo old-school é curiosa, por mais adequada que seja. Nos anos 80, a melhor forma de promover o heavy metal era lançar música de qualidade indiscutível. «Sim, tens razão, e deveria continuar a ser assim, mas ambos sabemos que isso já não é suficiente – hoje tens de ter uma máquina de marketing e tudo o mais por trás, é como é.»
Repetindo o mesmo termo, “Too Mean to Die” não poderia ser um título mais old-school: é metaleiro, badass, vem de um tempo em que as pessoas atravessavam para o outro lado da rua para não se cruzarem com um fã de metal. Mas a mensagem por detrás do álbum não se foca no passado, antes no presente. «Bem, estávamos a pensar no que escrever em tempos tão conturbados como os de hoje. Podíamos ter escrito algo como ‘vai ficar tudo bem, vamos ultrapassar isto juntos’ e tal, mas a decisão foi unânime – as pessoas estão fartas desta merda da covid, portanto, não vamos fazer uma música corona. [risos] Acreditámos que haveria muitas bandas a escrever músicas sobre profissionais de saúde e de estarem na linha da frente e tudo o mais; logo, quisemos e decidimos dar aos fãs um disco de heavy metal tradicional, agressivo. O título surgiu do facto de sermos guerreiros do metal, somos demasiado duros para morrer, é coisa que não nos importa.»
Pois, mas músicas como “Zombie Apocalypse”, “The Undertaker” e “The Best Is yet to Come” remetem-nos imediatamente para o tema covid-19. Algumas faixas deste disco parecem ter sido influenciadas por isso, mesmo porque é um assunto omnipresente, o que nos levou a questionar se a banda não foi realmente influenciada pela pandemia de uma forma ou de outra, tanto pessoal como artística. «És capaz de ficar surpreendido com esta resposta, pois é uma coincidência enorme. Por um lado trata-se de um problema omnipresente, sim, mas acredita que não nos influenciou, até porque todas essas músicas foram compostas antes da pandemia. O metal sempre abordou os mortos-vivos, a agressão, e até poderia estar relacionado, mas considero que o nosso disco anterior, “The Rise of Chaos”, é muito mais orientado para a negatividade. Tentámos não nos focar no tema e descartámos o assunto corona, queríamos apenas brindar os nossos fãs com um disco de heavy metal sem falhas. Claro que isto mudou a nossa vida, basta pensar nas digressões canceladas ao longo do ano. Mas estamos todos a atravessar a mesma tempestade, tanto vocês desse lado como nós deste, à espera que esta merda termine. Temos vários concertos marcados para festivais em 2021, vamos ver se acontecem. Depois, fui eu quem compôs o tema “The Best Is yet to Come” – é-me muito querido porque sou um eterno optimista. Na generalidade, acredito que o melhor está sempre por vir, a nível profissional e pessoal. Se fores positivo e pensares em avançar, tudo melhorará, sim. Não sou um tipo preso ao passado. Muitas vezes, perguntam-me em entrevistas quais são os meus temas preferidos de há 30 anos e isso torna-se uma maçada, uma perda de tempo e de energia. Aconteceu há 30 anos, falemos do agora!»
É estranho pensar que ainda está para vir um disco melhor do que “Too Mean to Die”, que é um tratado sobre heavy metal. Além das faixas anteriormente referidas, “Samson and Dellilah” e “Sucks to be You” são mais dois excelentes exemplos do melhor que o metal clássico tem para oferecer, o tipo de músicas que relembra ao mundo a enorme influência que os Accept foram desde os seus primeiros anos de actividade para a comunidade global. «Pá, se eu não pensar assim, mais vale fechar a loja. Se achas que já chegaste ao cimo da montanha e não vais conseguir evoluir a partir daí, qual é o objectivo? Um artista deve sempre melhorar com o tempo. E bom, os fãs também têm uma preponderância muito importante no que toca a dizer qual é o melhor disco. Eu quero melhorar, não quero chegar a um ponto em que lanço um álbum medíocre e o fãs nem reparam. Já ouvi dizer isso tudo, mas não acredito em nada disso. Os fãs percebem se te estás a cagar ou não, e eu nunca estou.»
Talvez seja por isso que o nível de guitarras tenha dado um salto enorme para 2021: técnico, emocionante, moderno. «É sempre difícil fazer um disco diferente, sabes? A linha é sempre muito ténue. Quão diferente pode ser sem ser demasiado diferente? Ao fim de 15 discos, pensas nisso com muita seriedade. Quando escrevo uma música, quero escrevê-la da forma que a poderia ter escrito há 30 anos para ficar na dúvida se é uma música recente ou dessa época. É uma honra saber que gostaram do disco, é bom saber que faz sentido para quem entende a música. Eu queria que o disco soasse a algo de novo, mas ao mesmo tempo a algo familiar. É muito difícil fazer algo assim, sabes? Viramos tudo do avesso, 20 vezes se for preciso, até termos a certeza de que é aquilo que queremos. Desde que no final as coisas resultem, ficaremos felizes.»
Além do passatempo acima referido, os fãs querem sempre saber o que podem esperar das suas bandas preferidas – os Accept sabem disso e não são excepção. Agora só falta 2021 colaborar um bocadinho «Tenho a certeza de que arranjaremos várias maneiras de mantermos os contactos com os fãs mas, infelizmente, actualmente não podemos tocar ao vivo. Também não vamos gravar vídeos em quarentena. Decidimos isso mutuamente porque achamos que não vai ao encontro do que o que os fãs querem, principalmente quando se trata dos Accept, uma banda cujos concertos ao vivo transmitem tanta energia. Tudo isso se perde num vídeo sem público, isso seria patético. Gravámos um vídeo e fizemos um outro, mas, até voltarmos a tocar ao vivo, ainda não sabemos a melhor abordagem. Nada substituirá a magia e a energia de se tocar ao vivo, claro. Acho que vamos regressar a alguma da normalidade antiga, ainda que de forma moderada, principalmente agora com as vacinas. Talvez seja algo como antes e depois do 11 de Setembro, mais restrito e mais cuidadoso.»
“Too Mean to Die” tem data de lançamento a 29 de Janeiro de 2021 pela Nuclear Blast.
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