A evolução de Darkthrone
Artigos 30 de Maio, 2019 Diogo Ferreira
Todas as bandas norueguesas pertencentes à cena black metal que explodiu na primeira metade dos anos 1990 começaram da mesma forma: a ouvir Venom, Bathory, Slayer, Hellhammer, Celtic Frost, e nalguns casos até Metallica, Exodus e Kreator. Gylve Fenris Nagell não foi diferente, e com 15-16 anos tinha a sua banda Black Death, que no ano seguinte, em 1987, viria a chamar-se Darkthrone.
“Soulside Journey”, de 1991, era então o primeiro álbum da banda de Dag Nilsen, Ivar Enger, Ted Skjellum e Gylve Nagell (que usava o pseudónimo Hank Amarillo). Os três últimos ficariam mais tarde conhecidos como Zephyrous, Nocturno Culto e Fenriz, respectivamente. Já fãs de Mayhem, “Soulside Journey” é, ainda assim, um álbum de death metal com influências em Autopsy e que surgia ao mesmo tempo da cena de Gotemburgo e Estocolmo ao lado na vizinha Suécia. Extremos, mas ainda longe do que viria a acontecer com os três álbuns seguintes, na história deste disco fica a belíssima faixa “Cromlech” e o uso esporádico de teclados que ajudaram a criar a ambiência que se sente quando olhamos para a capa.
Tudo mudaria em 1992 com “A Blaze in the Northern Sky”. Muito mais próximos do círculo de Euronymous, este álbum de Darkthrone é considerado um pioneiro do black netal norueguês, ainda que “De Mysteriis Dom Sathanas” dos Mayhem já andasse a ser composto desde a segunda metade dos 1980s, sendo depois lançado no prolífico ano de 1994, altura em que surgem também os álbuns “Dark Medievel Times” e “The Shadowthrone” de Satyricon, “In the Nightside Eclipse” de Emperor e “Transilvanian Hunger” de Darkthrone – mas já lá vamos.
Formando uma trindade impura, “A Blaze in the Northern Sky”, “Under a Full Moon” e “Transilvanian Hunger” definiram realmente aquela que era a sonoridade noctívaga, obscura e intensa da Noruega – porém não são três álbuns iguais. Enquanto os dois primeiros oferecem certos riffs heavy metal, mas longe dos sons limpos e cavalgantes oriundos de Inglaterra, o terceiro é puramente black metal norueguês como, por aquela época, já se ouvia em Burzum ou Immortal. E tudo começou quando Fenriz, no seu local de trabalho, imaginou uma malha na sua cabeça. Gravou “Transilvanian Hunger” em poucas semanas e mandou-o a Nocturno Culto, pedindo-lhe que gravasse as vozes.
No entanto, estes jovens adultos não eram uma banda per se. Não moravam perto uns dos outros, aconteciam hiatos espontâneos mas pouco duradouros, Fenriz tinha casado em 1992-1993 e tinha um emprego estável, Zephyrous tinha abandonado o projecto após “Under a Full Moon” e o feedback não era nada de especial. Mal eles sabiam…
Depois de “Panzerfaust” (1995) e “Goatlord” (1996), mais uma alteração sonora dá-se em “Total Death”, de 1996, quando o ritmo veloz baixa um pouco de intensidade e as influências thrash metal emergem em temas como “Blasphemer”. Em 1999 sai “Ravishing Grimness” numa altura em que era Nocturno Culto a força motriz da banda, já que Fenriz estava a sofrer de uma depressão desde 1998 e que viria a estender-se até 2002 – talvez, dirão alguns, os anos menos interessantes de Darkthrone, e percebe-se porquê. Aliás, é o próprio quem já afirmou que tanto esse álbum como “Plaguewielder” (2001) são enfadonhos – mas não era só a depressão que afectava a sua criatividade, também a preocupação pelo desenrolar do panorama metal nos 1990s deixava Fenriz desapaixonado.
Em 2002, Fenriz sai da gaiola que o aprisionava e volta a ter paixão em fazer música. “Hate Them” é editado em 2003 e “Sardonic Wrath” em 2004, dois álbuns black metal mas menos ortodoxos do que se podia esperar, abrindo já algum caminho para o que se materializaria em “The Cult Is Alive” (2006), “F.O.A.D.” (2007), “Dark Thrones and Black Flags” (2008), “Circle the Wagons” (2010) e “The Underground Resistance” (2013). Estavam assim lançadas as pedras angulares da fase punk e heavy/speed metal de Darkthrone! Estávamos no início do Séc. XXI, uma nova era para o metal muito à custa do boom do nu-metal na viragem do milénio, Fenriz bebia dos 1980s e Nocturno Culto tinha o seu tacto dos 1990s. Uma das mesclas mais bizarras a acontecer na história da música extrema daria azo a trabalhos contemporâneos, e muito bons, como os já mencionados “F.O.A.D.” e “The Underground Resistance”.
“Arctic Thunder”, de 2016, funcionou como o culminar de todas as experiências sonoras feitas pela dupla nórdica, dando-se mais ênfase ao lado primitivo do black metal e à pesada construção do doom metal que sempre os influenciou desde que ouviam Black Sabbath na adolescência.
“Old Star”, de 2019, é a clara continuação do antecessor, mas com uma produção melhor, riffs mais orelhudos e uma nítida influência no doom metal clássico e old-school.

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