Já não é a primeira nem a última vez que leio que o metal está condenado. Se o rock, que é tão mainstream (?),...

Já não é a primeira nem a última vez que leio que o metal está condenado. Se o rock, que é tão mainstream (?), definha, o que dizer deste género musical mais extremo? É o fim do mundo.

Fazem-se comparações com estilos musicais emergentes ou dominantes para reforçar uma teoria de que a música do Diabo tem os dias contados. Analisam-se relatórios anuais de Spotify para confirmar o declínio do metal. Fazem-se prognósticos para ler nas estrelas qual o próximo rei a ocupar o trono dos géneros musicais. Porque o rock não será – e o metal, esse primo seboso em segundo grau, muito menos. Porque está morto. RIP. DEP.

Só que há um detalhe que escapa a estes pregadores do fim dos tempos: ninguém quer saber.

Os metaleiros que continuam a esgotar festivais de Verão, ano após ano, em todos continentes deste planeta, não querem saber. As editoras de nicho, que jogam com a fidelidade irredutível dos fãs do género, sabem que estes não lhes vão virar as costas e são impulsionadores da diversidade de meios existente (CDs, streams, vinis, cassetes…). As bandas que continuam a resistir, por amor e paixão à arte que aprenderam a produzir (muitas vezes, de forma autodidacta), essas vão continuar a existir e mais virão. Os metaleiros não querem saber.

Os artistas pop, rappers e hip-hoppers estão-se borrifando para se o metal está a definhar ou não. Querem lá eles saber disso. Porque haveriam de querer? O metal sempre foi a antítese de tudo aquilo que eles representam. Os artistas mainstream não querem saber.

Morto e enterrado é que está bem. Porque volta à sua origem, e a sua origem é precisamente debaixo da terra. Deixem-no estar a competir consigo mesmo, porque a competição interna já produz arte de calibre inegável. Se alguém de fora reparar, tanto melhor para eles. Tanto melhor para os artistas de metal que deram forma a algo com uma autenticidade sem igual, porque terão o reconhecimento dos seus pares, ainda que de outros géneros musicais.

Não se promove aqui um virar de costas ao mundo, porque esse tempo já lá vai. Os metaleiros também ouvem rock, jazz, trance, pop, k-pop, world music, rap, hip-hop… tudo! A ideia de que os fãs de metal têm uma mente fechada é uma treta pegada. Sempre que alguém vier com a lengalenga que o metal está a morrer ou algo que o valha, não tenhas dúvidas: alguém quer atenção.

PS: a Ultraje morreu, viva a Metal Hammer Portugal!

(Rui Alexandre é fundador da Mosher Clothing e guitarrista de Terror Empire)

crónica do mosh2