Um espectáculo musical grandioso e profundo, repleto de pormenores, de linguagens e de adornos.

Editora: Century Media Records
Data de lançamento: 05.03.2021
Género: power/prog metal
Nota: 4.5/5

Um espectáculo musical grandioso e profundo, repleto de pormenores, de linguagens e de adornos.

Um espectáculo musical grandioso e profundo, repleto de pormenores, de linguagens e de adornos – é tudo o que se pode descrever sobre “The Curse of Autumn”, o novo compêndio metálico dos americanos Witherfall, mas possivelmente vai além, pois dilata todas as medidas dos trabalhos anteriores, mantendo as suas principais características e desbravando outros cenários. Todo o requinte e charme, toda a pompa técnica, as melodias cheias de classe e as nuances que foram matematicamente elaboradas e exibidas nos exuberantes “Nocturnes and Requiems” (2017) e “A Prelude to Sorrow” (2018) marcam presença aqui, porém maximizadas, ganhando ainda mais personalidade.

A sonoridade do quarteto segue sem grandes novidades e dar um rótulo é uma tarefa um tanto ingrata – um power metal com propensões ao prog que se estica até ao heavy metal tradicional e que arranha por vezes algo de hard rock e folk. No disco tudo é encaixado com exatidão, sem deixar arestas ou lacunas. A palavra sinergia define perfeitamente como os Witherfall estudam e praticam a sua música complexa e expansiva, mas não desprovida de emocional. Já a palavra equilíbrio oferecer a representação exacta da sua personalidade e das influências que recebem – Queensrÿche, Sanctuary/Nevermore, Savatage, Iced Earth e Mercyful Fate são os primeiros que surgem, todavia a lista tende a aumentar numa audição mais atenciosa.

Produzido por Jon Schaffer (Iced Earth, Demons & Wizards, Purgatory), misturado por Jim Morris (Death, Morbid Angel) e masterizado por Tom Morris (Obituary, Trivium), o disco vem adornado com mais uma belíssima arte do sempre genial e inconfundível Kristian “Necrolord” Wåhlin (Dissection, Tiamat, King Diamond). Em suma, uma tríade composta por uma produção primorosa, uma banda com aguçado bom gosto e uma ilustração que se fixa aos temas – uma tradução visual dos mesmos.

Em pouco menos de uma hora, Joseph Michael (voz, teclados), Jake Dreyer (guitarras), Anthony Crawford (baixo) e Marco Minnemann (bateria) desfilam com um repertório que beira o irretocável, forte e variado. As múltiplas progressões e as inúmeras dinâmicas não permitem que o marasmo (tão comum ao prog) se instale no desenvolver do disco, mesmo quando a banda se coloca em longas viagens instrumentais intrincadas e técnicas. Como um refresco, têm-se as belas secções acústicas que surgem no início e a meio das composições, como a faixa de abertura “Deliver Us into the Arms of Eternal Silence”, o tema-título que abre caminho ao condensado metódico “The Unyielding Grip of Each Passing Day” e “Long Time”.

Os grandes chamarizes são “The Last Scar” e “As I Lie Awake” (ambas viscerais e enérgicas), “Another Face” e “The River” (duas pseudo-baladas repletas de classe), “Tempest” (com os seus mais de oito minutos de transições, peso e serenidade, com secções dedicadas ao jazz e as já citadas calmarias acústicas.) É também sábio mencionar o desempenho vocal de Joseph Michael que em todo disco exibe muito vigor e versatilidade.

Como não poderia faltar num trabalho que se rompe ao progressivo, temos um colosso que aqui atende pelo nome de “… and They All Blew Away”, uma odisseia musical que beira os 16 minutos, com diversos panoramas e tudo que se convém aos arcanos do género.

Os Witherfall revelam-se como um mundo particular dentro do supracitado universo metálico, um mundo onde a ousadia não precisa de permissões, tão pouco segue protocolos, pois a sua música é ambientada para permitir aventura, melancolia, fúria, cansaço e êxtase. O imenso cardápio de riffs e solos ímpares de Jake Dreyer, as vocalizações plurivalentes e performáticas de Joseph, as múltiplas mudanças de andamento e a composição que usa e abusa de elementos distintos são indissociáveis a esse mundo. “The Curse of Autumn” é amplo e ambicioso, mas sem ser presunçoso, e esse é seu melhor adjectivo.