Ulver “Bergtatt”: semente do atmospheric black metal
Artigos 1 de Fevereiro, 2020 Diogo Ferreira
Formados em 1993, mesmo no centro do furacão do black metal norueguês (nesse ano, Vikernes assassinava Euronymous e em 1994 eram lançados álbuns importantes de Mayhem, Darkthrone e Emperor), os Ulver mostrar-se-iam uma banda camaleónica, indo desde o black metal atmosférico e folclórico de “Bergtatt – Et Eeventyr i 5 Capitler” (1995) ao synth-pop de “The Assassination of Julius Caesar” (2017).
Em Fevereiro de 1995, os jovens nórdicos lançavam então o deburante “Bergtatt – Et Eeventyr i 5 Capitler”, que os catapultou imediatamente para uma posição que seria, anos mais tarde, definitivamente assentada nos cancioneiros mais gloriosos do black metal. A razão é simples: “Bergtatt” não era black metal per se, não possuía a sonoridade de 1991-1994 e incluía elementos folclóricos em maiores doses do que aquilo a que se estava habituado.
Ao longo de cerca de 34 minutos estamos perante um trabalho musical que não é agressivo, mórbido e malévolo. Ainda que negro, de contornos melancólicos, “Bergtatt” é antes visto como misterioso, aconchegante (se tivermos em conta a densidade invernosa do norte) e, como referido pela AllMusic, «estranhamente tranquilo». Para tal, os Ulver sustentaram-se em riffs menos grotescos mas mais melódicos, em vozes limpas que contrastavam com os gritos/berros inerentes ao estilo musical e que continuavam a surgir no álbum, em instrumentos folclóricos (como flautas e guitarras acústicas) e, claro, em lendas nórdicas.
O primeiro álbum dos Ulver é visto como um trabalho pioneiro no campo daquilo que ficaria conhecido como atmospheric black metal.
Contado em cinco capítulos, “Bergtatt” distanciou-se das temática anti-cristãs e blasfemas da segunda vaga do black metal e repercutia o folclore norueguês ao abordar a condição de se vaguear por florestas e montanhas com o risco de se ser seduzido por criaturas místicas. Neste disco é precisamente isso que acontece ao seguirmos o fatalismo de uma jovem dama que é atraída, perseguida e, por fim, morta por seres da floresta. Como muitas mortes na mitologia e misticismo nórdicos, o corpo falece mas o espírito ganha um novo propósito, neste caso tornando-se um só com a montanha.
Positivamente criticado logo por altura do seu lançamento, o primeiro álbum dos Ulver é visto como um trabalho pioneiro no campo daquilo que ficaria conhecido como atmospheric black metal e é apontado muitas vezes simplesmente como folk metal. Perfeito para uns (influenciando bandas vindouras) e cheio de clichés para outros (talvez devessem olhar para isto como se estivessem em 1995 e não em 2010 ou 2015), “Bergtatt” é de audição obrigatória, destacando-se as faixas “Capitel I: I Troldskog faren vild” e “Capitel V: Bergtatt – ind i Fjeldkamrene”.

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