O fundador da Rastilho, Pedro Vindeirinho, tece algumas considerações sobre o impacto do COVID-19 na indústria musical portuguesa

«Todos são precisos neste momento para salvar a indústria musical portuguesa.»

Enquanto loja online e editora independente, e no que diz respeito às sonoridades metal, punk, hardcore e até rock, a Rastilho é uma das maiores referências no mercado português. Dentro do seu universo, encontram-se nomes como Mão Morta, Bizarra Locomotiva, Dead Combo, Ibéria, For The Glory, Mata-Ratos, entre muitos outros, sem esquecer a associação da editora aos Moonspell e à Alma Mater Books & Records, de Fernando Ribeiro.

Na sua página pessoal do Facebook, o fundador da Rastilho, Pedro Vindeirinho, tece algumas considerações sobre o impacto do COVID-19 na indústria musical portuguesa, referindo que os «estilhaços vão fazer-se sentir numa indústria já muito fragilizada, isto numa era onde poucas pessoas admitem pagar para consumir a música que outros produzem».

Numa publicação dividida em vários pontos, Pedro Vindeirinho aponta a necessidade das editoras continuarem a depender das visitas do público a lojas físicas para procurar novidades discográficas, afirmando não ter dúvidas de que «vão ser tempos sombrios», principalmente para as multinacionais. Também as lojas, refere, «terão menos clientes e, consequentemente, menos vendas.» Na óptica do editor, ficamos todos a perder: «Também o consumidor [fica a perder], pois terá menos opção de escolha.»

«FOH, técnicos, merchandisers, managers, agentes, roadies, etc. São muitas as pessoas que fazem um espectáculo musical acontecer, grande parte a recibos verdes. Na maioria dos casos, um trabalho sem qualquer protecção social», comenta a respeito da precariedade que se verifica no meio. «Muitos dos concertos agora cancelados não serão remarcados. Até ao final de 2020, a quantidade de espectáculos será reduzida, sobretudo no meio mais underground. Como sempre, a corda parte no lado do elo mais fraco.» Para ultrapassar com sucesso os tempos difíceis que se avizinham, Pedro Vindeirinho apela ao «apoio social para estas centenas de profissionais que fazem magia antes da cortina abrir, sem esquecer os próprios músicos», pois «também eles, na sua maioria, [são] precários do sistema.»

«Mesmo com o vírus controlado, serão necessários anos até convencer as pessoas a arriscarem ir a um local com dezenas de milhares de pessoas.»

O empresário prevê que as consequências do vírus irão resultar em «cinco anos de menor actividade artística, de menor contacto entre bandas e os fãs». «Aproveitem os concertos futuros [pois] serão em menor quantidade», comenta. «Nem os Festivais de Verão vão escapar. A tendência só será contrariada ainda este ano se o vírus for controlado até Maio. Mesmo com o vírus controlado, serão necessários anos (sem mais vicissitudes) até convencer as pessoas a arriscarem ir a um local com dezenas de milhares de pessoas.»

A situação actual exige que as bandas e outras entidades na indústria musical procurem adaptar-se e conceber novas fontes de rendimento. Pedro Vindeirinho pede união: «Se é certo que algumas pessoas ficarão pelo caminho nesta crise (músicos, técnicos, etc.), muitas conseguirão sobreviver. Devemos, mais do que nunca, apoiar-nos mutuamente. Não deixar o “rival” cair; todos são precisos neste momento, para salvar a indústria de espectáculos e musical portuguesa.»