S&M2? Livestreams épicos? Composição de novo material? Os Metallica tornaram 2020 um pouco mais suportável. Metallica: «Estamos a aproveitar este tempo para criar e tentar coisas novas»

“S&M2”? Livestreams épicos? Composição de novo material? Os Metallica tornaram 2020 um pouco mais suportável.

Foto: Ross Halfin

Na nova edição da Metal Hammer olhamos para os acontecimentos de 2020 através dos olhos das bandas que estiveram envolvidas nisso. Para os Metallica, foi um ano excepcional apesar de tudo – lançaram o álbum ao vivo “S&M2”, deram um concerto drive-in e fizeram um livestream épico (arrecadando 1,3 milhões de dólares para a caridade), e até começaram a trabalhar em música para o aguardado sucessor de “Hardwired… To Self-Destruct”. Sentámo-nos com Lars Ulrich, Kirk Hammett e Rob Trujillo para olharmos para 12 meses tumultuosos – e para o futuro.

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Quando juntas o fim inesperadamente turbulento de 2019 – com o talismânico frontman James Hetfield a reingressar na reabilitação e com a banda a ter que adiar digressões na Austrália e Nova Zelândia como resultado – com toda a pandemia, definitivamente dirias que os Metallica pousaram as ferramentas e deram 2020 como terminado. Mas, se realmente pensaste que isso era uma opção, então não conheces Metallica.

«Não sou o tipo que fica sentado a ver séries 12 horas por dia», ri Lars Ulrich. «Gosto de fazer merdas!»

A banda já revelou que começou a compor novo material para o sucessor de “Hardwired… To Self-Destruct” (2016), com o baixista Rob Trujillo a ir ao ponto de sugerir que este pode ser um acontecimento mais colaborativo do que o processo de composição na última vez.

«Parece que há uma energia unida», acrescenta. «O meu papel e a minha posição é estar sempre presente para ajudar e fazer o melhor que consigo pela equipa. Quem sabe o que vai acontecer daqui a um ano, mas estou feliz por estarmos a aproveitar este tempo para criar e tentar coisas novas, e por estarmos presentes uns para os outros. Parece que há muito apoio.»

De acordo com Rob, não fica nada de fora da mesa quando se trata de dar ideias para novas músicas dos Metallica – e está grato por ter tempo extra para se afincar em novas ideias.

«Sinto que estamos numa posição em que vamos pelo menos tentar coisas para ver como funciona», observa. «Por estarmos ‘ausentes’, se alguém me enviar uma ideia realmente simples, posso tentar três ou quatro abordagens diferentes para essa ideia, como baixista. Posso tentar algo melódico, posso tentar algo em contraponto.»

Embora seja quase certo que ainda demore algum tempo para vermos quaisquer sinais concretos de um novo álbum dos Metallica, o facto de a banda não perder tempo em usar a oportunidade de trabalhar em conjunto é um bom presságio para o que está para vir.

Não foi apenas entre si que os Metallica tentaram manter as ligações ao longo do ano. Desde os primeiros dias de quarentena, certificaram-se de que os seus fãs teriam coisas para desfrutar e ansiar, começando-se com o streaming de grande sucesso Metallica Mondays, que exibiria concertos de Metallica gratuitamente durante a Primavera e o Verão.

«Vamos parar por agora ao enviarmos o nosso amor durante estes tempos difíceis», disse a banda em comunicado com a primeira transmissão a 23 de Março. «Brevemente, vamos olhar para este período com um apreço renovado devido a todos os momentos incríveis passados com a nossa extensa família Metallica por todo o mundo.»

Os concertos costumavam ser precedidos por uma mensagem de Lars, que continuava a passar mensagens de solidariedade durante aqueles tempos difíceis.

«Sinto muito pelos fãs de Metallica que esperavam concertos e aparições e assim por diante aqui e ali», disse-nos o baterista. «Há pessoas que foram duramente atingidas por isto. Obviamente, encontramos maneiras de permanecermos activos e acho que tens de te adaptar. Ficar sentado e pensar: ‘Oh, devíamos fazer isto, devíamos estar ali em Abril, em Fevereiro o mundo parecia assim…’ Isso não te vai levar a lado nenhum. Tens de te adaptar a novas maneiras.»

«Tens de descobrir como te ajustares, e é isso que fizemos», concorda Rob. «Estou orgulhoso disso.»

Com certeza, a banda ajustou-se – e com algum estilo. A 29 de Agosto, a maior banda de metal encontrou uma nova maneira de chegar aos seus fãs ao transmitir um concerto único para cinemas drive-in por toda a América do Norte. O concerto, gravado três semanas antes, seria a primeira hipótese para muitos metaleiros irem a qualquer coisa próxima de um espectáculo em meses.

«Isto é uma entusiasmante primeira vez para nós, pois continuamos a explorar novas maneiras de nos ligarmos convosco e de continuarmos a tocar ao vivo», disse a banda antes das emissões. «Isto qualifica-se definitivamente como uma experiência única e memorável para nós!»

Na mesma semana, os Metallica lançariam finalmente o álbum “S&M2”, quase um ano após os concertos que fizeram história em San Francisco. Kirk Hammett admitiu-nos que os dois espectáculos no Chase Center proporcionaram algumas das suas performances mais desafiantes.

«Diverti-me muito», reflecte o guitarrista. «Consegues pôr qualquer peça musical à frente de um músico clássico e é capaz de a ler em tempo real, e isso é extremamente difícil de se fazer. Portanto, senti que tinha de, pelo menos, tentar apanhá-los naquele nível de musicalidade!»

Não contentes com tudo isto, os Metallica reinventariam a roda mais uma vez com um concerto acústico especial transmitido a 14 de Novembro, usando a venda de bilhetes para se arrecadar dinheiro para a fundação de caridade All Within My Hands. Um dos pacotes de bilhetes disponíveis permitia aos fãs a hipótese de serem apresentados numa tela atrás dos músicos durante a acutação, criando mais uma experiência única e memorável para fãs e banda. «[É] difícil compreender que podíamos ter um evento tão internacional e ainda assim torná-lo tão íntimo», Lars reflectiu depois.

Isto diz muito acerca de uma banda tão grande como Metallica sentir vontade de continuar activa num ano tão único, indo mais longe para garantir que os fãs se sentissem parte de cada etapa da jornada. Contudo, talvez não devêssemos ficar tão surpreendidos – desafiarem-se a si próprios e seguirem em frente é o que os Metallica sempre fizeram.

«Preocupo-me com as pessoas que não são desafiadas cultural, estética, artística e criativamente», admite Kirk. «Acho que quando te cercas de uma bolha, é aí que entra a complacência.»

«Os Metallica enfrentam todos esses diferentes desafios», diz Rob. «Alguns dirão que o “S&M1” foi um desafio, do tipo, tocar com uma orquestra. Gravar com Lou Reed foi um tipo diferente de desafio… Todas essas experiências tornam-te mais forte e melhor como banda.»

Graças aos Metallica, esses desafios também tornaram este ano um pouco mais suportável.

Consultar artigo original em inglês.

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