Matt Heafy (Trivium): «M Shadows salvou-me a voz»
Artigos 8 de Agosto, 2020 Metal Hammer

Da necessidade de união no metal às alegrias de “Tiger King”, este é o mundo de acordo com Matt Heafy dos Trivium.

2020 estava definido como um ano marcante para Trivium. Depois de lançarem “What the Dead Men Say”, estavam a preparar-se para uma digressão pelo mundo e para continuarem o aumento significativo do ímpeto que activaram em “The Sin and the Sentece” de 2017. A COVID-19 pode ter tido outros planos, mas isso não impediu que o frontman Matt Heafy se mantivesse ocupado, principalmente a ser a maior super estrela metal no Twitch. Reunimos algumas das suas pepitas de ouro em sabedoria, cobrindo-se de tudo, desde ser um alvo ambulante dos odiadores do metal, como o vocalista dos Avenged Sevenfold ajudou a dar-lhe uma nova vida e, sim, aquela cover de “Tiger King”.
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Nunca planeei ser vocalista
«Eu não queria ser vocalista, mas o Travis [Smith, antigo baterista] disse: ‘Não, vais ser o vocalista.’ Eu tinha 13 anos, ele tinha 17 anos e era maior do que eu, então ouvi-o! Eu queria ser um vocalista como Bruce Dickinson ou Dio ou Freddie Mercury, mas a minha voz não funcionava assim – a única coisa que funcionava era gritar.»
Livestreaming é vital durante a quarentena
«Tenho transmitido intensamente durante anos – cinco dias por semana fora da digressão e sete dias por semana em digressão – mas [a pandemia do coronavírus] reafirmou algo ainda maior para mim, que as pessoas precisam de algo para ver e fazer, e espero ajudá-las a desligarem. Gosto que seja essencialmente uma forma de manter as pessoas fora das ruas, mantê-las entretidas. Precisamos de conectividade social; não quero que as pessoas se sintam socialmente isoladas e tenho o prazer de oferecer às pessoas um lugar que é seu bar, o seu café, a sua biblioteca, a sua sala de concertos. É tudo isso num só. Está a tornar o dia das pessoas um pouco melhor.»
Os Trivium são rebeldes naturais
«Um dos conceitos que acertámos desde o início é que gostamos de nos rebelar contra coisas que fazemos ou que outras pessoas fazem. Gostamos de ver o que cada banda está a fazer – ‘Como podemos fazer exactamente o oposto?’»
M Shadows ajudou a salvar a minha voz
«Rebentei com a minha voz, e o Matt, do Avenged Sevenfold, mandou-me uma mensagem e disse: ‘Ouvi dizer que rebentaste com a tua voz; diz-me se posso ajudar.’ Isso surpreendeu-me. Perguntei o que é que ele fez quando magoou a voz. Ele pôs-me em contacto com um professor de canto, Ron Anderson. O Ron ensinou Axl Rose, Chris Cornell, Janet Jackson… Não só me ensinou uma técnica correcta para berrar como também me ensinou uma técnica correcta para cantar, porque o que eu fazia há 15 anos era incorrecto e eu estava no limite de destruir a minha voz.»
As pessoas nunca sabem o que esperar de nós
«Acho que todo álbum é um estrondo, e adoro. A beleza da nossa banda é que nunca sabemos para onde vamos a seguir. “Ascendency” foi muito bem-sucedido e, imediatamente depois do que mostrámos, não tínhamos medo de fazer algo completamente diferente, que ainda estava dentro do espectro do que sabemos o que Trivium é.»
Apoiar sempre música nova
«Só queremos fazer digressões com bandas que nos entusiasmam e somos pessoas que vestem as camisolas das bandas que adoramos. Adoramos promover bandas que estão a fazer algo porreiro e interessante, e ficamos muito felizes por podermos fazer isso. Numa digressão norte-americana levámos While She Sleeps porque eles ainda são uma banda nova para as pessoas na América. Mostramos essas bandas mais jovens, e estamos a moldar e a falar sobre o que está a acontecer agora no metal e no metalcore. Isso é muito importante.»
As pessoas viraram-se contra nós rapidamente
«Na primeira vez que aparecemos na capa de uma revista, ficámos conhecidos pela citação: ‘Vamos ser os próximos Metallica’. Para começar, as pessoas adoraram essa citação. As revistas adoraram a ideia de que ali estavam uns gajos confiantes que iam causar rebuliço. Mas imediatamente depois disso, parecia que todas as bandas do mundo, os nossos pares, fãs e até revistas, odiaram o facto de termos feito isso. E nós apenas tivemos que dizer: ‘Oh, éramos convencidos e jovens e estamos felizes por tocar música, está tudo bem.’ Agora eu sinto, por que é que alguém… Por que é que alguém deveria… E por que é que sentimos que precisávamos de nos desculpar pelos nossos objectivos?»
Se os Trivium parassem, teria um plano
«Se agora tudo desmoronasse e se ainda pudesse tocar guitarra, ensinaria guitarra e música. E uma vez que eu tenho cinturão negro no jujitsu, daria aulas disso. Já ensinei pessoas do meu nível. Leva oito a dez anos para se conseguir um cinturão negro. Então, talvez algo com Jiu-jitsu, talvez algo com comida.»
As pessoas esquecem-se de como jovens somos
«É engraçado. Ouvi uma história sobre uma estação de rádio no Colorado que não queria tocar uma das nossas músicas porque pensaram que estávamos todos na casa dos 50 anos – pensaram que éramos velhos como c*ralho! Mas somos tão jovens como muitas das grandes bandas mais jovens que por aí andam, e fico muito contente por termos essa vantagem. Podemos cavalgar essa linha entre sermos cavalheiros experientes no metal e ainda sermos uns gajos jovens.»
“Tiger King” curou-nos a todos
«Acho que o mundo inteiro gravitou à volta de “Tiger King” porque aquilo é ridículo. Põe as nossas vidas em perspectiva. Eu sei que muitas outras partes do mundo vão ver isso e dizem: ‘Chiça, este é um incidente isolado, isto não acontece muito…’ Esse espectáculo é muito Florida, muito Oklahoma, muito Texas e, às vezes , muito América. Acho que existe uma psicologia de pessoas que vêem filmes de terror com alta ansiedade e depressão e isso ajuda-as. Talvez esteja a neutralizar essas coisas intensas ou a ver algo que está a passar por aquele trauma que não és tu… Então, o que quer que “Tiger King” seja para mundo, isso fez as pessoas sentirem-se um pouco melhor. Eu sabia que estava na altura de fazer uma cover daquela música.» [Matt fez uma cover de “I Saw A Tiger”, o infame êxito da estrela de Tiger King, Joe Exotic]
Death metal melódico é muito subestimado
«Sinto que In Flames, Amon Amarth, Arch Enemy, Dark Tranquillity e Soilwork deveriam ter entre 5000 a 10.000 pessoas por noite na Europa. Todos eles são bons como o caraças. Sinto que uma banda como Soilwork influenciou fortemente bandas como Shadows Fall e Killswitch Engage. Também conheço muitas pessoas que estão a conhecer In Flames agora, o que é incrível porque eu digo-lhes: ‘Se não fosse pelo “Jester Race” até ao “Reroute To Remain”, os Trivium não existiam.’ Tipo, Trivium não seria um banda sem esses discos. “Jester Race”, “Whoracle”, “Colony”, “Clayman”, “Reroute To Remain”. Encorajo toda a gente a apanhar esses discos imediatamente, porque são alguns dos discos mais formativos para muitas bandas.»
As bandas agora dizem-me que Trivium as influenciou
«Isso é enorme para mim. Finalmente estamos a chegar a um ponto em que começamos a conhecer os fãs da nossa banda que estão nas suas próprias bandas, e isso é o máximo que eu poderia desejar, que alguém fosse inspirado o suficiente para fazer isso sozinho. Como pessoa que faz música, é tudo o que se pode esperar.»
Sempre fomos uma banda prolixa
«Havia um tipo da A&R no “Ascendancy” que estava muito chateado – ele disse que o uso de uma palavra como deconstructing em “Drowned And Torn Asunder” era estúpido. Ele foi do tipo. ‘Não deviam dizer deconstructing, é uma palavra estúpida de se usar!’ Temos usado palavras estranhas e longas… Quero dizer, agora sei que usei inception em dois títulos! Sempre gostei de palavras grandes. Na citação final de Harry Potter, Dumbledore disse: ‘Words are, in my not so humble opinion, our most inexhaustible source of magic, capable of both inflicting injury, and remedying it.’»
Bloquear o ruído
«Uma coisa que aprendi é que precisamos de garantir que estamos a fazer o que queremos fazer e, se quisermos ouvir algum tipo de comentário sobre o assunto, basta ouvir as coisas positivas. O meu avô costumava dizer: ‘Um terço do mundo vai adorar-te, um terço do mundo vai odiar-te e o outro terço não quer saber.’ Acho que se resume a esses terços. Existe um amor extremo, um ódio extremo e acho que não se vê a ambivalência porque essas pessoas não comentam. Precisamos de nos focar nisso e libertar as outras cenas.»
O metal ainda pode ir em frente
«O metal está sempre lá. Quer tenha sido gerado pela primeira vez provavelmente com Zeppelin, Sabbath ou Priest, está lá. Às vezes é muito grande e às vezes é mais pequeno. Acho que os amantes de metal e as bandas de metal precisam de se apoiar uns aos outros, e unirem-se e ajudarem-se a ir-se mais longe e puxarem-se para cima, em vez de se derrubarem. Acho que precisamos mais disso!»
Consultar artigo original em inglês.

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