Fundados em 1975 por Steve Harris, os Iron Maiden passaram os primeiros anos a lutar contra várias mudanças de formação e a darem alguns...

Fundados em 1975 por Steve Harris, os Iron Maiden passaram os primeiros anos a lutar contra várias mudanças de formação e a darem alguns concertos aqui e ali. Tudo mudaria para melhor em 1979 quando uma demo foi parar às mãos de Neal Kay, o gerente do clube Bandwagon Heavy Metal Soundhouse. O tema “Prowler” foi um êxito instantâneo e a demo intitular-se-ia “The Soundhouse Tapes” em honra do clube.

Gravado em cerca de duas semanas, o primeiro álbum dos ingleses, com título homónimo, seria lançado a 14 de Abril de 1980 após problemas com vários produtores, e nem o produtor creditado, de nome Will Malone, levou a sua tarefa até ao fim. Guy Edwards e Andy Scott foram as outras duas vítimas, sendo que a banda não estava satisfeita com a produção lamacenta do primeiro e o segundo fora arredado por insistir que Harris devia tocar o baixo com uma palheta e não com os dedos (in “Iron Maiden: Run to the Hills, the Authorised Biography”, de Mick Wall).

Quem também não ficou na banda durante muito mais tempo foi o guitarrista Dennis Stratton (seria substituído por Adrian Smith) e este é o seu único álbum com Iron Maiden. Nova cara de última hora, Dennis acabou por ser afastado devido a «diferenças musicais» segundo o livro de Mick Wall, sendo que uma das razões deverá ter a ver com as influências em Wishbone Ash e backing vocals à Queen que Stratton queria incluir em “Phantom of the Opera”. No mesmo livro, Harris aponta que Stratton se mostrava com maior paixão a interpretar temas mais lentos, como “Strange World”, do que composições mais pesadas como “Prowler”.

Musicalmente, a já mencionada “Prowler” inaugura com um riff e um lead altamente reconhecíveis e energéticos, abrindo caminho para a voz rasgada de um jovem Paul Di’Anno cheio de pujança e atitude punk. Ora, punk é algo que muitas vezes se equaciona falar quando o assunto é a estreia dos Iron Maiden em discos. Contudo, não é algo pelo qual Steve Harris seja muito, ou totalmente, apaixonado, desprezando até tudo o que era punk, como conta no episódio sobre a New Wave Of British Heavy Metal da série televisiva “Metal Evolution”. Todavia, a atitude de Di’Anno, a bateria de “Running Free”, a passada ritmada da faixa homónima (uma obrigatoriedade em concertos) e a própria capa do LP obrigam-nos a falar das influências punk no seio dos primórdios de Iron Maiden.

Para além do forte e omnipresente baixo de Harris (um must-have em lançamentos de Maiden), da balada “Strange World” e da instrumental galopante “Transylvania”, destaca-se “Phantom of the Opera” e “Charlotte the Harlot”. A primeira porque é um épico de sete minutos com cabeça, tronco e membros em que se testemunham várias estruturas, belíssimas twin-guitars e uma gravação com três guitarras, uma espécie de premonição para aquilo que realmente aconteceria 20 anos depois com “Brave New World” (2000). E a segunda, sobre uma prostituta, porque se transformou numa saga que continuaria com os futuros temas “22 Acacia Avenue” (1982), “Hooks In You” (1990) e “From Here To Eternity” (1992).

Álbum pioneiro da NWOBHM, com toda a sua energia elevatória e com os seus duelos de guitarra, “Iron Maiden” catapultou o grupo para a Europa, situação sobre a qual a banda se mostrou surpreendida nas palavras de Harris ecoadas na obra literária de Mick Wall: «O prestígio de estarmos tão bem no Reino Unido tornou-se em algo de boca-a-boca, e acabámos em lugares, como Leiden, na Holanda, que nunca tínhamos ouvido falar, e tinham bandeiras enormes à nossa espera (…). Foi surreal.» O melhor ainda estava para vir…