Editora: Svart Records
Data de lançamento: 16.10.2020
Género: rock
Nota: 4/5
Henrik Palm é uma ovelha tresmalhada, um génio excêntrico e incompreendido.
A imaginação engenhosa de Henrik Palm (In Solitude, Ghost, Pig Eyes, Gösta Berlings Saga, Södra Sverige) forjou este álbum com uma amálgama abstracta de krautrock, industrial, post-punk, prog, doom, sludge, psych e deathrock, tudo envolto no clima de horror psicológico e demencial do cinema de John Carpenter. É metal? Não só… Também é pop experimental. É um álbum contra a corrente, perturbador, negro e psicótico, muito influenciado pelo storytelling. Omúsico é um weirdo, um trovador e poeta maldito, um agitador subversivo procurado pelos crimes de transgressão, fuga e resistência à autoridade padronizadora da indústria metalúrgica, e abuso de criatividade.
Henrik Palm traz oito temas com defeitos especiais em quarenta minutos de efeito dopante. “Bully” e “Sugar” não são as melhores canções do álbum, mas servem de introdução ao contexto negro e lunático enquanto criam a tensão e o desconforto iniciais que resistem até ao último minuto. “Bully” reflecte a opressão, a paranóia e o medo num ambiente obsessivo traduzido por teclados operáticos, com uma cadência rítmica e discurso intimidadores. “Sugar” alimenta-se da mesma narcose psicadélica anunciada pela guitarra no final de “Bully” e reforça a dose com outro tipo de consumos: «Needles in my arms / Sugar kills / But keeps my mind at ease». O gancho de guitarra logo no início do tema remete imediatamente para “Cocaine”, de Eric Clapton, e impõe o ritmo a uma faixa que vai oscilando entre frases de piano e guitarras ácidas de efeitos estereoscópicos ou em modo acústico por entre harmonias complexas que reconhecemos do rock progressivo ou de alguma pop barroca.
“Concrete Antichrist” avança por territórios post-punk, shoegaze e psych, na valsa pop e decadente que define um dos temas mais orelhudos e viciantes de “Poverty Metal”. O sueco confirma-se como um arquitecto alucinado de canções poderosas e nada lineares. “Given Demon” comprova-o uma vez mais – depois de um início com uma batida marcial em ambiente sintético, o tema evolui surpreendentemente para um desfecho calmo e sombrio numa atmosfera cinemática com sintetizadores melancólicos.
A primeira parte do disco fica assim cumprida com uma generosa oferta. Henrik Palm é um renascentista com perfil de livre pensador, dono de um feeling genuíno em busca de uma voz interior e da escrita de canções com alta definição. Anda a abrir caminho, a desbravar mata virgem. À primeira, estranha-se, depois entranha-se. As músicas parecem demasiado fragmentadas e pouco consistentes, o homem gosta de pegar num monte farrapos para daí construir uma manta de retalhos com assinatura pessoal.
“Destroyer”, no início da segunda parte, é o tema mais duro, uma composição de sludge doom com uma linha de baixo dominante, em que mais uma vez se revela uma extraordinária agilidade na composição, capaz de fazer combinar o post-punk dos Bauhaus com Pink Floyd. “Nihil” e “Last Christmas” são dois temas que partilham características dos instrumentais Sabatthianos: a primeira é um acústico calmo e tristonho com piano e guitarra, cuja letra é composta pela simples repetição das palavras «you are nothing»; a segunda recorre novamente ao universo cinemático, ao western-spaghetti e a teclados viajantes para descrever um ambiente sinistro. “Nihilist” é o melhor tema de todos, um single electrizante que mistura krautrock, post-punk e horror metal, em que Henrik Palm tem um desempenho vocal com a eloquência do melhor Peter Murphy.
“Poverty Metal” é um álbum feito de metal líquido, como o mercúrio à temperatura ambiente, um disco tão efémero quanto intemporal, em que se expõem fragilidades e exorcizam alguns fantasmas. As canções são matéria instável e intoxicante, actuam como uma droga que se espalha devagar e dificilmente agradarão à maralha. Henrik Palm é uma ovelha tresmalhada, um génio excêntrico e incompreendido.

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