Heathen “Empire of the Blind”
Reviews 15 de Setembro, 2020 Rodrigo Baptista

Editora: Nuclear Blast
Data de lançamento: 18.09.2020
Género: thrash metal
Nota: 4.5/5
Os Heathen são os precursores daquilo a que podemos chamar de thrash metal melódico.
Após um hiato de 10 anos, os veteranos da Bay Area, Heathen, estão de regresso com um novo registo de estúdio, apenas o seu quarto desde “Breaking the Silence” de 1987. Em “Empire of the Blind” encontramos uma sonoridade thrash que combina melodia e agressividade sem nunca perder a pujança característica da banda de São Francisco.
Na faixa que introduz o álbum, intitulada “This Rotting Sphere”, percebemos desde logo que este não é um registo de thrash convencional, pois trata-se de uma peça instrumental onde a componente melódica se funde com um certo carácter de epicidade, provocando a falsa sensação de que estamos prestes a escutar um álbum de power metal, tal é o sentimento de exaltação que a peça provoca no ouvinte.
“The Blight” é a faixa que rompe com a introdução. Nesta composição, os guitarristas Lee Altus e Kragen Lum procuraram desde logo articular todos os elementos que caracterizam a sonoridade híbrida dos Heathen, alternando um riff thrash de power-chords rápidos com oitavas, dando assim um carácter mais melódico à peça. Nos vocais, a banda procura também separar-se de certos formalismos ligados ao thrash metal, com David White a utilizar uma abordagem muito própria ao empregar um vocal gritado, mas melódico. Em termos líricos, “The Blight” é uma faixa que procura despertar no ouvinte uma certa consciência social para a deturpação das redes sociais, nomeadamente na forma como as usamos para escapar aos problemas do mundo, «dando assim maior destaque ao que está na superfície e não à substância das coisas», como refere Kragen Lum numa entrevista à Nuclear Blast.
O segundo single, que é o tema-título, apresenta-nos uma dinâmica rítmica interessante ao alternar o double bass galopante com uma métrica groove bem vincada. Nas cordas também encontramos texturas diferentes, com a primeira guitarra a encarregar-se da linha harmónica enquanto a segunda se sobrepõem com uma camada melódica. A combinação das duas provoca no ouvinte uma sensação sombria, mas ao mesmo tempo épica. Já do ponto de vista conceptual, esta faixa-título descreve a forma como a sociedade actual é manipulada e controlada pelos governos e meios de comunicação, dando assim espaço para a formação de uma colectividade alienada e ausente de pensamento crítico.
Já “Sun In My Hand” surge como uma provocação para com os fãs de thrash old-school, tratando-se de uma faixa que segundo a banda é destinada a todos os fãs de hard rock/metal que, por diversas razões, nunca prestaram atenção à música dos Heathen. Com uma estética mais pausada e comercial, esta é uma faixa que resultará bastante bem nas setlists da banda, não só como uma forma de abrandar o ritmo dos concertos mas também por apresentar solos melódicos e refrãos orelhudos dignos de sing-alongs. Mantendo a toada hard rock, os Heathen vão ainda mais longe com “Shrine Of Apathy”, uma autêntica power-ballad. Com as guitarras a transcenderem-se numa melodia sublime dedilhada e num solo pejado de feeling, esta é uma música cujo destaque vai para capacidade vocal de David White, que demonstra não só robustez mas também emoção. Apesar desta música ser uma das mais fortes do álbum, seguramente não agradará aos mais conservadores do universo thrash.
Deixando o hard rock de lado, “A Fine Red Mist” surge como uma faixa instrumental que enaltece as qualidades técnicas dos Heathen. Utilizando uma linguagem mais técnica, a peça desenrola-se em diferentes secções que vão desde o shredding ao clássico riff thrash, passando pelos riffs de oitavas e pelos solos arpejados e cromáticos sempre acompanhados com a bateria a alternar entre a batida skank e o double bass. “The Gods Divide” é a faixa apoteótica que coloca um ponto final no álbum antes do outro “Monument To Ruin”.
Quando nos questionamos por que é que foram necessários dez anos para os Heathen lançarem um novo álbum, a resposta está precisamente presente nestes 47 minutos de música em que a banda da Bay Area procurou acima de tudo não debitar músicas curtas com riffs pré-formatados, mas demonstrar a sua polivalência composicional. Principalmente numa altura em que cada vez se fala mais em diversos subgéneros dentro do espectro do heavy metal, podemos ir ainda mais longe ao referir que os Heathen são os precursores daquilo a que podemos chamar de thrash metal melódico.

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