Guia de vida de Alissa White-Gluz: «Muitas espécies estão a extinguir-se porque estamos a destruir o planeta»
Artigos 27 de Junho, 2019 Diogo Ferreira
Ser uma das figuras femininas mais proeminentes do metal faz de Alissa White-Gluz (Arch Enemy) um modelo e porta-voz dos fãs do sexo feminino em todo o mundo. No entanto, é um papel que ela é mais do que feliz em preencher, dando-lhe uma plataforma para discutir não apenas os direitos das mulheres, mas o activismo ambiental, os males religiosos e até mesmo o gosto por um bom pop.

Música
«Gosto de música clássica. Acho que explorou muitos sons sombrios e dissonâncias antes do rock. Gosto do facto de ter sido desaprovado quando se faziam coisas como a nota do diabo. Não sou treinada classicamente e não tento analisar nenhuma teoria por detrás disso, apenas gosto de ouvir. Também gosto muito de grunge, como Soundgarden dos anos 1990, Stone Temple Pilots e Nirvana. Sei que muitas pessoas odeiam, mas eu adoro a simplicidade, as músicas honestas, despojadas, e os erros. No álbum ao vivo dos Nirvana, por exemplo, adoro ouvir os defeitos, as guitarras desafinadas e as falhas na voz. Para mim isso é carismático e adiciona uma faceta plena à música que não estaria lá se fosse perfeita. Gosto de bons vocalistas – por exemplo, Demi Lovato tem uma voz fantástica. Não conheço mais material dela para além de uma música, e acho que ela cantou tão lindamente que fui mesmo vê-la ao vivo. Fiquei até àquela música e saí! Mas não tenho medo de admitir de que gosto de uma cantora que está realmente a dar-lhe nos vocais, mesmo que seja numa música pop, como Christina Aguilera ou até mesmo Britney Spears – a composição é incrível. Não é algo que eu ouça muito, mas aprecio a habilidade na composição e a produção de um produto pop perfeito.»
Política
«A maior parte desta banda [Arch Enemy] não adere ao patriotismo dos nossos países. Pessoalmente não sinto nenhum forte apego ao Québec ou ao Canadá, porque eu não fiz nada para morar lá, eu nasci lá e não tomei nenhuma providência para me mudar para outro lugar. Isso é o que me faz uma cidadã daquele país, mas eu não ganhei isso e não é algo que eu sinto que deveria estar particularmente orgulhosa. De qualquer forma, o país de alguém não o define como pessoa, somos todos cidadãos da Terra. Não tenho interesse em coisas ou pessoas que são excessivamente patriotas. É tolice ser-se excessivamente patriótico em algo no qual não se esteve envolvido. Obviamente que se fizeste parte da situação do país onde vives, então é por isso que és patriota. Quando se viaja muito e quando se conhece pessoas diferentes de diferentes países e culturas que falam idiomas diferentes, percebes que somos todos iguais. Consegue-se fazer um meet & greet num festival com pessoas de todo o mundo e não sabemos de onde as pessoas são, estamos apenas a divertir-nos, conhecendo-nos e unindo-nos pela música. É isto que acontece na banda – não estamos divididos porque somos de países diferentes e também não estamos unidos por causa disso.»
Religião
«Somos todos ateus na banda, mas tenho tendência a baixar o tom. Por mais que isso faça o meu sangue ferver, quando vejo actos violentos e estúpidos a serem cometidos em todo o mundo por causa de uma religião estúpida e violenta, e a resposta é religião estúpida e violenta, isso faz-me continuar, mas tenho de ter tento no que digo. Tenho pessoas no meu círculo íntimo de amigos que são religiosas, e não são violentas ou estúpidas, e não acreditam naquilo que os fanáticos religiosos fazem. Tento ser muito respeitosa com os outros. Detesto mesmo a religião e oponho-me a ela, mas não significa que eu odeie pessoas religiosas ou seja contra elas, porque isso é apenas um aspecto que compõe uma pessoa. Maioritariamente, as pessoas religiosas que conheci são realmente boas, que só têm a religião para si mesmas, que as ajuda a guiar a espiritualidade e a filosofia, conforta as emoções, e isso é completamente bom. Mas se estou rodeada por um bando de ateus, encorajamo-nos e fica tudo muito entusiasmado com o ateísmo. O ateísmo é apenas a falta de crença, não é uma ideologia. Eu só queria que as ideologias religiosas parassem de se confrontar violentamente.»
Fãs
«Os fãs sempre foram óptimos. Não houve problemas e foram muito acolhedores. Mesmo no primeiro concerto cantaram o meu nome. Temos visto um crescimento na venda de bilhetes e dou o melhor para sair e agradecer por isso. Organizamos meet & greets quando o horário permite e interajo com eles nas redes sociais para garantir que saibam que agradecemos o apoio. Houve algumas músicas novas que as pessoas cantavam logo, como “You Will Know My Name”, “War Eternal” e “As The Pages Burn”, por isso, agora [essas músicas] estão bem integradas como uma base sólida das setlists.»
Feminismo
«Acho que há muitas pessoas muito protegidas pelo facto de as mulheres não terem direitos iguais em todo o mundo. Mesmo os meus amigos que vivem no maravilhoso e democrático Canadá não percebem o facto de as mulheres não estarem ao abrigo de direitos iguais, acham que isso é algo do passado. Quando se viaja muito percebe-se que há um longo caminho a percorrer. Acho que é importante que o feminismo continue a ser um tópico de discussão. Eu sei que agora é moda odiar feministas e chamá-las feminazis, mas desculpa, a luta não acabou! Não podemos simplesmente fingir que está tudo bem. Basta olhar para qualquer país do Médio Oriente e conversar com as mulheres de lá. Eu faço-o. Eu tenho alguns fãs de lá, com quem falo. Se queres chamar a isso opressão religiosa ou opressão cultural, é principalmente opressivo para as mulheres. Isso está a acontecer agora, neste mundo, hoje. Considero os cidadãos todos do mesmo lugar, então não é problema deles, está a acontecer com mulheres como eu. Não é algo que tomo de ânimo leve.»
Activismo
«Sou vegan há 18 anos, mas o activismo apareceu primeiro. Cresci vegetariana e sempre adorei animais – adoro animais! Acho-os fascinantes, acho-os incríveis, e quase que choro só de ler sobre diferentes espécies no planeta. Acho incrível vivermos num planeta onde há muitos tipos diferentes de criaturas vagueando pelo ar, pela terra e pelo oceano, e nós não sabemos nada sobre eles. É incrível ter uma biodiversidade tão ampla à nossa volta e é algo que todos nós devemos apreciar mais enquanto a perdemos. Muitas espécies estão a extinguir-se porque estamos a destruir o planeta e a desconsiderar a dádiva incrível que temos. Sempre quis fazer algo para ajudar os animais. Quando estava a crescer, fazia angariação de fundos com bolos e bolachas que eu fazia, e pegava nos 50 dólares para doar à WWF ou à Humane Society. Encontrava gatos abandonados e levava-os ao veterinário. Fazíamos a nossa parte, mas eu queria fazer mais, e percebi que poderia fazer mais pelos animais todos os dias a ser vegan do que a vender milhões de bolos!
Ao ser vegan, boicoto as indústrias que contribuem activamente para o abate e para a tortura de animais, e consigo reduzir a minha pegada ambiental. Eu sei que é um termo moderno, mas o que isso significa é que uso menos recursos quando se trata de água, solo e área de superfície geográfica que seria destruída para criar pastagens para gado, simplesmente ao escolher não consumir produtos de origem animal. É tão fácil de se fazer e tem um impacto tão grande; portanto, percebi que poderia fazer algo todos os dias que ajudasse activamente o planeta e os animais. A PETA é outra organização para a qual enviava o meu dinheiro da venda dos bolos. À medida que a minha carreira musical cresceu, pude encontrar-me com outras pessoas dessas organizações e comecei a trabalhar com elas em 2006. Não sou ‘membro’ de nenhuma instituição de caridade em particular, mas há certas campanhas para certas instituições nas quais acredito, como quando houve a campanha contra a caça às focas canadianas – isso é algo que acontece no Canadá, por isso quis trabalhar nisso. Eu sei que as pessoas têm muitas opiniões sobre essa organização e sei por que é que têm essas opiniões, mas o que é facto é que estão a fazer muito pelos animais.»
Consultar artigo original em inglês.

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