Tom S. Englund consegue estar à altura dos seus próprios pergaminhos nos momentos chave de “Escape of the Phoenix”.

Editora: AFM Records
Data de lançamento: 26.02.2021
Género: melodic/power/prog metal
Nota: 4/5

Tom S. Englund consegue estar à altura dos seus próprios pergaminhos nos momentos chave de “Escape of the Phoenix”.

Estávamos em Maio de 1999 e o ano não estava a correr mal. Os Morgion tinham editado o sublime “Solinary” e os Immortal tinham escrito mais um capítulo da sua brilhante história com “At the Heart of Winter”. Isto só em Fevereiro. Enquanto isso, o metal ainda se refazia dos embates de “The Fragile Art of Existence” dos Control Denied e de “Hatebreeder” dos Children of Bodom. Havia alguma expectativa em relação ao terceiro disco dos Arch Enemy, “Burning Bridges”, e ao novo dos In Flames, “Colony”, ambos agendados para daí a poucas semanas. Foi com esta conjuntura que “Solitude-Dominance-Tragedy”, o segundo disco dos Evergrey – primeiro a ter exposição verdadeiramente internacional – chegou às lojas. E pese embora sem a velocidade vertiginosa da era das redes sociais, rapidamente a palavra se espalhou: havia uma nova banda sueca a misturar power metal, metal progressivo, melodias atmosféricas (houve quem as descrevesse como góticas) e uma abordagem temática acima da média. Foi o início da longa, profícua e bem-sucedida carreira do grupo de Gotemburgo.

Agora, praticamente 22 anos depois, os Evergrey apresentam-se como veteranos de uma cena que ajudaram a criar, uma dezena de álbuns depois – alguns miseravelmente abaixo da sua própria média, outros genialmente candidatos à galeria de melhores momentos do metal – sem o elemento surpresa, mas com um invejável capital de experiência. Isso nota-se, e de que maneira, em “Escape of the Phoenix”, que consegue ser um bom álbum com apenas dois pares de faixas verdadeiramente brilhantes. Não que os Evergrey tenham perdido o fôlego criativo que retomaram há três discos, em 2014, com “Hymns of the Broken”. O que transparece é que, uma centena de canções depois, a inspiração não será a mesma e a capacidade de se superarem já deixou a banda há muito. Ainda assim, o trabalho abre com duas faixas que têm o melhor dos Evergrey: peso, ritmos inteligentes, melodias sofisticadas e o lado atmosférico bem entrincheirado nas músicas. Os solos voltam a não desiludir, assim como as estruturas das canções, que não revelam quaisquer falhas. Segue-se uma fase mais morna, com a pesada, up-tempo e dinâmica “Dandelion Cipher” a intercalar duas baladas (uma delas a contar com James LaBrie, dos Dream Theater) que não ficam para a história da banda, a não ser que se seja um recém-chegado ao universo dos Evergrey. “Eternal Nocturnal” volta, no entanto, a ser épica e a trazer a qualidade para cima, de onde o quinteto desce apenas um degrau para as três últimas músicas.

Quando somos os Evergrey e temos discos como “Recreation Day” e “In Search of Truth” no currículo, a fasquia está sempre alta. Ainda assim, Tom S. Englund, e a malta que o acompanha, consegue estar à altura dos seus próprios pergaminhos em momentos chave de “Escape of the Phoenix” e nunca decair muito no resto dos 60 minutos. O que já não é nada pouco. O problema – lá está – é que o que seria magnífico para outra qualquer banda, se os Evergrey não existissem, deixa-os sempre aquém dos momentos de maior chama criativa do passado. O que não faz de “Escape of the Phoenix” um mau disco. Antes pelo contrário.

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