Dread Sovereign “Alchemical Warfare”
Reviews 12 de Janeiro, 2021 João Correia
Editora: Metal Blade Records
Data de lançamento: 15.01.2021
Género: doom metal
Nota: 4/5
Até ao fim do ano, qualquer disco de doom metal candidato a “melhor de 2021” terá de medir forças contra “Alchemical Warfare”.
Passados quase quatro anos sobre a estreia ao vivo em Portugal no Santa Maria Summer Fest, na senda de promoção a “For Doom the Bells Toll”, pouca coisa mudou no seio dos Dread Sovereign, como a transferência de armas e bagagens da Ván Records para a Metal Blade Records. Nessa prestação debaixo do sufocante calor de Beja, ficámos muitíssimo agradados por saber que a tradição que importava ainda era respeitada, tudo devido ao som vintage que o trio anglófono fez questão de explorar. Felizmente, e ao contrário das bandas em geral, os Dread Sovereign parecem regredir a cada novo disco, mas de forma positiva. Pode parecer contraditório mas, neste caso, essa regressão é coisa digna de monarcas.
Embora parca, a principal alteração registada em “Alchemical Warfare” é a agora notável ausência de timidez de Nemtheanga (mentor e senhor dos Primordial), que em “For Doom the Bells Toll” parecia deambular na escuridão à procura de passagem segura, à procura de uma marca sonora. “Alchemical Warfare” não só é a lanterna na mão do irlandês como, em última análise, o caminho a seguir construído com os tijolos do tempo e cimentados com o heavy metal clássico dos anos 80. Outro factor que faz com que “Alchemical Warfare” resulte é a junção do melhor do doom dos Primordial com o melhor do sludge dos Conan (este último por cortesia de Johnny King, baterista dos Conan e também destes Dread Sovereign), aliando ambos a um rock n’ roll javardo na melhor linha de Motörhead dos anos 70 e a uma sensação de primeira vaga do black metal. A coisa só melhora.
Após “A Curse On Men”, uma intro a recordar King Diamond, “She Wolves of the Savage Season” exemplifica na perfeição as últimas três linhas do parágrafo anterior, seguida pela igualmente lenta “The Beast We Serve”, com lugar a cânticos e a toda a pompa épica dos Primordial. Mas é com “Nature Is the Devil’s Church” que surge o primeiro tema realmente notável. De facto, e com apenas uma música, é-nos apresentado todo o espírito da década de 80: guitarras, produção, a genialidade do riff cavalgante a lembrar Maiden e seguido de mais um riff esmagador que poderia ter sido escrito por Phil Campbell, a potência do kit de bateria… É por demais o tema por excelência deste trabalho devido à sua natureza orgânica e variada, bem como à inspiração que não consegue disfarçar. “Her Master’s Voice” regressa ao lodaçal do sludge e ao rock porco, e “Devil’s Bane” acelera com necessidade o ritmo relativamente lento e que reserva para o final um solo que tem tanto de caótico como de genial.
A carga épica é repetida em “Ruin Upon the Temple Mount” e a melhor surpresa do registo acaba por ser o último tema numa versão inesperada de “You Don’t Move Me (I Don’t Give a Fuck)”, dos Bathory. E dizemos inesperada por se tratar de um tema de thrash/speed metal bem fiel ao original composto em 1983.
“Alchemical Warfare” é o disco que gostaríamos de ter apreciado ao vivo há quatro anos, é o passo atrás que faz os Dread Sovereign darem um passo em frente e que facilmente explica a aposta segura da Metal Blade. Até a produção é puro ouro, com bastante atenção tomada para lhe dar aquele toque dos anos 70/80 e que tanto enriquece o resultado final. Tudo pesado, “Alchemical Warfare” é o primeiro disco importante de 2021, mesmo que tenha sido gravado entre 1977 e 1986. Até ao fim do ano, qualquer disco de doom metal candidato a “melhor de 2021” terá de medir forças contra “Alchemical Warfare”.

Metal Hammer Portugal

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