Sem nada a provar, “Immortal” faz precisamente jus ao seu nome, cimentando ainda mais a posição e o legado musical de... Michael Schenker Group “Immortal”

Editora: Nuclear Blast
Data de lançamento: 29.01.2021
Género: hard rock / heavy metal
Nota: 4/5

Sem nada a provar, “Immortal” faz precisamente jus ao seu nome, cimentando ainda mais a posição e o legado musical de Michael Schenker, que certamente será para sempre recordado como um dos maiores guitar-heroes do nosso tempo.

Corria o ano de 1971 quando os Scorpions gravavam o seu álbum de estreia, intitulado “Lonesome Crow”. Na guitarra-solo estreava-se um prodígio de seu nome Michael Schenker que, com apenas 16 anos, já demonstrava um talento nato e uma identidade tão própria na composição de melodias solísticas. Passados 50 anos, Schenker apresenta um legado ímpar e um reconhecimento por parte de nomes como Kirk Hammet, Slash ou Adrian Smith que citam Schenker não só como uma influência mas também como uma mudança de paradigma na arte de tocar guitarra eléctrica.

Desta forma, não é estranhar que, mais do que um álbum, “Immortal” seja acima de tudo uma celebração de uma carreira que não parece ter fim à vista e que conta com mais de 40 álbuns editados através dos seus diferentes projectos, como Scorpions, UFO, Michael Schenker Group, McAuley Schenker Group ou Michael Schenker Fest. Mas as celebrações não estariam completas sem um line-up de luxo. Sem meias medidas, Schenker reuniu um conjunto de 10 músicos para fazerem parte das gravações de “Immortal, sendo que o destaque vai para os quatro vocalistas, com o novato Ronnie Romero (Rainbow) a repartir funções com os veteranos Joe Lynn Turner (ex-Rainbow, ex-Deep Purple), Ralf Scheepers (Primal Fear) e Michael Voss (Mad Max).

Do ponto de vista estrutural, “Immortal” apresenta-se bem diversificado e equilibrado – a alternância entre uma faixa pesada ou rápida e uma mais pausada é algo que se verifica de forma constante ao longo do álbum. Ao seguir este padrão, Schenker procura estabilizar a atenção do ouvinte para o trabalho completo ao invés de apresentar na primeira parte do álbum as faixas mais fortes, remetendo depois para a segunda metade as chamadas fillers. Enquanto a abertura com “Drilled to Kill” nos leva pelos caminhos do power metal germânico, com um duelo solístico entre a Flying V de Schenker e os teclados de Derek Sherinian (ex-Dream Theater), “Don’t Die On Me Now” vai beber influências ao rock progressivo (nesta faixa, a bateria apresenta-se numa posição dianteira na mistura, permitindo assim ao ouvinte captar com bastante precisão as inúmeras variações rítmicas que a enaltecem).

Em “Knight of the Dead”, Schenker volta a colocar o pé no acelerador demonstrando a tal dicotomia referida anteriormente. Juntamente com “Sail the Darkness” e “Come On Over”, que também contam com o possante Ronnie Romero nos vocais, estas são três faixas que conseguem ser interiorizadas de uma forma bastante natural porque a sua sonoridade se torna bastante familiar quando Romero surge numa espécie de reencarnação de Dio, algo que não surpreende para quem acompanha a carreira de Romero há alguns anos. Como se isso não bastasse para satisfazer os fãs do “Man on the Silver Mountain”, certamente que a sonoridade arrastada de “Sail the Darkness” trará também reminiscências do clássico “Holy Diver”.

Já “After the Rain” é aquela power-ballad obrigatória num registo de hard rock/heavy metal tradicional. No entanto, peca pela sua falta de expressividade e de variações de dinâmica principalmente na voz de Michael Voss, que não sai muito de um registo médio, o que acaba por se revelar monocórdico e pouco cativante. Por sua vez, a fechar, “In Search of the Peace of Mind” apresenta-se como a composição mais inspirada e diferenciada do álbum, que nos leva numa viagem no tempo até 1971, pois trata-se de uma regravação, com um novo arranjo, de uma faixa que tinha sido previamente composta por Schenker aos 15 anos e que tinha sido gravada no álbum de estreia dos Scorpions. A faixa rebusca alguns elementos musicais associados ao psicadelismo e experimentalismo bastante característicos da primeira fase musical da banda alemã. Certamente que Michael Schenker teve bem presente a ideia de come-full-circle, percebendo-se que o intuito era precisamente o de voltar ao ponto de partida em jeito de agradecimento e de reconhecimento por tudo aquilo que conseguiu alcançar ao longo da sua carreira.

Sem nada a provar, “Immortal” faz precisamente jus ao seu nome, cimentando ainda mais a posição e o legado musical de Michael Schenker, que certamente será para sempre recordado como um dos maiores guitar-heroes do nosso tempo.