Bleeding Eyes “Golgotha”
Reviews 27 de Julho, 2020 Filipe Pinto
Editora: Go Down Records
Data de lançamento: 31.07.2020
Género: sludge / post-metal
Nota: 3.5/5
Conceptual, “Golgotha” acaba por ser uma metáfora para estes dias, de incerteza, de muitas dúvidas sobre a vida e a morte.
Quem já se cruzou com esta banda italiana, certamente apercebeu-se que, à medida que os seus lançamentos iam saindo, uma mutação sonora estava em andamento. Se até “A Trip To The Closest Universe”, de 2012, a matriz era, essencialmente, stoner rock/metal sujinho q.b., a partir desse álbum novas coisas estavam já a ser marinadas. Havia espaço para uns pozinhos de sludge e de post-metal, embora ainda sem grande ligação entre os estilos, sem a receita equilibrada para a conjugação de tais ingredientes. Com “Gammy”, dois anos volvidos, havia muito mais espaço para os temas respirarem – alguma da crueza ainda estava lá, mas os horizontes que almejavam atingir começavam a dar fruto. A tríade “Lacrime Fiume Sangue Dolore”, “Full Fledged” e “Demon Haze” são disso bom exemplo, em que a metamorfose que o projecto abraçou estava no bom caminho e, no final, o tema-título do álbum era disso a prova máxima e a semente deitada à terra para o que viria aí.
O tema-título de “Gammy”, do alto dos seus nove minutos e meio, lança a ponte para este “Golgotha”. A começar por uma capa que tem tanto de sóbria como de sombria, inquietante até, o primeiro single, “Confesso”, confirma uma banda madura, sabedora dos terrenos que pisa, alicerçada no sludge e no post-metal.
Conceptual, “Golgotha” acaba por ser uma metáfora para estes dias, de incerteza, de muitas dúvidas sobre a vida e a morte. Tem uma densidade nunca antes vista nas suas composições, que se alia a uma obscuridade cativante à qual a presença da língua-mãe confere uma substância enigmática, acabando por funcionar de forma esplêndida, em detrimento dos temas cantados em inglês que se revelavam um pouco o calcanhar de Aquiles da banda.
Desde os primeiros sons de “Il Principio”, Simone Tesser é um narrador efectivo, que nos vai expondo uma história em spoken word, num registo muito descritivo e incisivo ou em momentos de berraria controlada, oferecendo uma boa dinâmica aos temas com letras bem estruturadas e densas, envolvendo-se bem com as melodias criadas para cada um dos sete temas que perfazem este trabalho.
“Inferno”, a fechar, é um tema duro, de mãos dadas entre o sludge e o doom, com um baixo ultra-distorcido a dominar o tema e o seu low end a envolver a melodia nos momentos de acalmia. Conclusão com o tema mais pesado do disco, mais claustrofóbico, mais negro. E chega ao fim, assim, num ápice, quando ainda estamos à espera de algo mais. Ficará para o próximo álbum? Ficamos, então, a aguardar, e entretanto as audições deste “Golgotha” podem suceder-se a bom ritmo.

Metal Hammer Portugal
The Vice “White Teeth Rebellion”
Reviews Ago 10, 2020
Mercury Circle “The Dawn of Vitriol” EP
Reviews Ago 10, 2020
Deep Purple “Whoosh!”
Reviews Ago 7, 2020
Avatar “Hunter Gatherer”
Reviews Ago 6, 2020
Till Die: sem tempo para tretas
Subsolo Ago 10, 2020
Indirect Euthanasia: evolução depressiva
Subsolo Ago 10, 2020
Neon Angel: na cidade dos néons
Subsolo Jul 23, 2020
UnCrowned: à procura da coroa
Subsolo Jul 22, 2020