Conceptual, “Golgotha” acaba por ser uma metáfora para estes dias, de incerteza, de muitas dúvidas sobre a vida e a morte.

Editora: Go Down Records
Data de lançamento: 31.07.2020
Género: sludge / post-metal
Nota: 3.5/5

Conceptual, “Golgotha” acaba por ser uma metáfora para estes dias, de incerteza, de muitas dúvidas sobre a vida e a morte.

Quem já se cruzou com esta banda italiana, certamente apercebeu-se que, à medida que os seus lançamentos iam saindo, uma mutação sonora estava em andamento. Se até “A Trip To The Closest Universe”, de 2012, a matriz era, essencialmente, stoner rock/metal sujinho q.b., a partir desse álbum novas coisas estavam já a ser marinadas. Havia espaço para uns pozinhos de sludge e de post-metal, embora ainda sem grande ligação entre os estilos, sem a receita equilibrada para a conjugação de tais ingredientes. Com “Gammy”, dois anos volvidos, havia muito mais espaço para os temas respirarem – alguma da crueza ainda estava lá, mas os horizontes que almejavam atingir começavam a dar fruto. A tríade “Lacrime Fiume Sangue Dolore”, “Full Fledged” e “Demon Haze” são disso bom exemplo, em que a metamorfose que o projecto abraçou estava no bom caminho e, no final, o tema-título do álbum era disso a prova máxima e a semente deitada à terra para o que viria aí.

O tema-título de “Gammy”, do alto dos seus nove minutos e meio, lança a ponte para este “Golgotha”. A começar por uma capa que tem tanto de sóbria como de sombria, inquietante até, o primeiro single, “Confesso”, confirma uma banda madura, sabedora dos terrenos que pisa, alicerçada no sludge e no post-metal.

Conceptual, “Golgotha” acaba por ser uma metáfora para estes dias, de incerteza, de muitas dúvidas sobre a vida e a morte. Tem uma densidade nunca antes vista nas suas composições, que se alia a uma obscuridade cativante à qual a presença da língua-mãe confere uma substância enigmática, acabando por funcionar de forma esplêndida, em detrimento dos temas cantados em inglês que se revelavam um pouco o calcanhar de Aquiles da banda.

Desde os primeiros sons de “Il Principio”, Simone Tesser é um narrador efectivo, que nos vai expondo uma história em spoken word, num registo muito descritivo e incisivo ou em momentos de berraria controlada, oferecendo uma boa dinâmica aos temas com letras bem estruturadas e densas, envolvendo-se bem com as melodias criadas para cada um dos sete temas que perfazem este trabalho.

“Inferno”, a fechar, é um tema duro, de mãos dadas entre o sludge e o doom, com um baixo ultra-distorcido a dominar o tema e o seu low end a envolver a melodia nos momentos de acalmia. Conclusão com o tema mais pesado do disco, mais claustrofóbico, mais negro. E chega ao fim, assim, num ápice, quando ainda estamos à espera de algo mais. Ficará para o próximo álbum? Ficamos, então, a aguardar, e entretanto as audições deste “Golgotha” podem suceder-se a bom ritmo.

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